28 janeiro, 2009

AINDA SOBRE OS "TRANSTORNOS" DA HISTÓRIA...


A propósito da febre interventiva no património histórico em Almeida, vale a pena ler e reflectir bem no teor desta notícia publicada no” Jornal de Notícias” de 13 de Janeiro corrente. (Clicar sobre o artigo, para ampliar a imagem e ler. Para regressar ao blog, clicar de novo em cima da seta, no canto superior esquerdo) Daqui poderemos tirar algumas ilações, nomeadamente da positiva dinâmica por parte da Câmara Municipal de Elvas. Inevitavelmente, transportando-nos para a nossa Almeida não deixamos de nos entristecer com a diferença de métodos e acções…

Também dá para pensar a notícia de 20 Janeiro no “Global Notícias” onde se refere a criação para Março da associação nacional do movimento "Slow Cities", no Algarve. O movimento, que se iniciou em 1999, em Itália, pretende a defesa dos valores tradicionais que englobam não só o património como a gastronomia. A responsável pelo movimento em Portugal, sintetiza : "não estamos de modo algum contra a evolução, mas queremos combater a globalização no seu pior sentido, porque conduz à uniformização e por consequência à mediocridade".

É a tal onda de modernidade globalizante que se está a abater sobre Almeida, que a está a descaracterizar, a roubar-lhe aos poucos a sua identidade. Como tal, é necessário e urgente todos termos consciência desse perigo e das consequências da degradação ou apressada intervenção sobre o património – seja a pretexto de prazos para fundos perdidos… ou outros! E, por isso mesmo, devem os Almeidenses ter uma palavra a dizer sobre o rumo que pretendem para a sua terra!

Rui Brito Fonseca

21 janeiro, 2009

A MAGIA E OS “TRANSTORNOS” DA HISTÓRIA

A magia do tempo de Natal que nas grandes cidades é mais visível em actos de consumismo exacerbado, nas pequenas localidades da nossa Beira tem outro sabor e se for em Almeida… outra alma.Todos os almeidenses, residentes ou na diáspora pelo país ou pelos quatro cantos no mundo, sabem bem isso, e falar nesse tema é para eles um exercício de nostalgia com mistura de felicidade que fugazmente se dilui na realidade do tempo actual.Pensei em vir exactamente relembrar os tempos já idos da nossa infância ou juventude, mas a revoltante sensação do que fui encontrar em Almeida neste Natal fez-me arredar desse propósito.

O desespero que senti ao ver as Casamatas esventradas, lajeados de original cantaria granítica removidos, dilacerados por martelo pneumático, próteses nas coberturas em granito rectilíneo e aparelhado, contrastando com o tosco e forte antigo; asnas, vigas,estruturas metálicas prontas a ser colocadas sobre um inventado chão na parte das coberturas…não pode deixar de me causar uma grande indignação e repulsa por tamanha adulteração do nosso património histórico original.






Já polémica tinha sido a opção de desaterrar e assim deixar todas as estruturas das coberturas à mostra, como se nunca devessem ser tapadas, tendo havido diversos especialistas que afirmaram não ser essa a melhor opção. Depois, ao climatizar parte das salas subterrâneas (que agora deixaram de o ser) para ali se montar um museu com outras valências, esquecendo que o sítio é histórico e tem uma história de tragédia a contar, retirando todo o ambiente soturno, frio e húmido, que lhe é próprio, estão a alterar toda a ambiência essencial para fazer sentir ao visitante o que no local existiu, relembrando os homens, militares ou civis, mulheres e crianças que ali sofreram atribulações de toda a espécie, adulterando essas mesmas possibilidades de musealização genuína.

Para finalizar, a cereja em cima do bolo: a construção de uma cafetaria em vidro e aço bem destacada no Baluarte de S.João de Deus! Nem dá para acreditar em tanto e tanto disparate junto! E o que mais impressiona é o IGESPAR ter aceitado tudo isso, apesar da oposição, reiterada da Delegação de Castelo Branco e do seu director, pelo que se torna responsável máximo por essa obra parola, de uma atroz ostentação e, mais que tudo, destruidora das características arquitectónicas e da autêntica função militar para que as Casamatas foram construídas. É inqualificável o que se está fazer e o mais que se pretende fazer em Almeida !


Pode ser a minha voz tida apenas como um pregar no deserto, mas penso que transmite também o sentir de muitos dos almeidenses. E, se a opinião dos almeidenses não conta nada junto aos senhores que têm proposto estes desarranjos continuados com a argumentação de que são valorativos, e que há que encravar o moderno no antigo, tudo desfeando e adulterando, a solução terá que ser pôr essa gente fora dos lugares de decisão e apoiar quem efectivamente dê mostras de respeitar a cultura local, as suas tradições, memórias e anseios de uma população que quer o desenvolvimento efectivo, mas não um engodo dele para turista ver.

Rui Brito Fonseca

17 janeiro, 2009

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALMEIDA


Sempre foi vontade dos Autores do Almeida Fórum publicarem as actas das reuniões da Assembleia Municipal e do Executivo.
Por falta de disponibilidade não o conseguimos fazer, apesar dos nossos pedidos constantes a diversos Deputados da Assembleia Municipal para nos cederem um resumo das mesmas.
Lamentamos também que o site da Câmara só sirva para publicar os eventos que ela própria realiza.
O anterior site,ainda nos mandatos do Dr. Costa Reis, publicava as reuniões do Executivo da Câmara. Infelizmente este executivo, alterou-o para quê? Se foi só para publicar ou publicitar os tais eventos e não informar os munícipes de tudo o que acontece dentro daquelas paredes, respeitando a transparência politica em todas as suas vertentes, então não valeu a pena a alteração do site. Outros desenhos porventura mais engraçados, outra estrutura, outra imagem, para quê? Nós queremos é ser devidamente informados. Temos esse direito também.
Por gentileza do Prof. Vítor Almeida publicamos a seguir um resumo de uma reunião da Assembleia Municipal, deixando aqui um apelo ao mesmo, para que nos elabore os resumos das próximas. Ficaremos gratos, nós e todos os Almeidenses que habitam aqui no nosso Concelho e espalhados por esse Mundo também.



Vitor Almeida a 2 de Janeiro de 2009.

…Na última Assembleia Municipal, entre outras coisas de grande interesse para o Concelho, o membro Dr. Matias lançou uma ideia/proposta que, no meu entendimento, é muito feliz e poderia muito bem dar uma resposta estratégica a este problema bem como a outros! Ideia que o Presidente da Câmara não entendeu, sempre receoso de que as intervenções são ataques, desenvolvendo assim um constante sentimento de perseguição pessoal, enfim… que pena! A ideia é brilhante por ser eficaz e simples. A Câmara Municipal adquiriria alguns dos edifícios que se encontram ou em ruínas ou desabitados e, aproveitando os serviços técnicos e mão-de-obra, construiria casas sociais e casas para turismo rural. Por um lado daria uma resposta social condigna sem necessidade de construir “caixotes” para albergar os mais desfavorecidos, ao mesmo tempo recuperava grande parte das ruínas dos imóveis do interior /muralhas, criando condições para existir mais “Vida” no seu interior. Por último poderia arrecadar algumas receitas que tão escassas andam!

Já agora aproveito para informar, desta forma, outras intervenções na referida Assembleia:

• Sobre o principal ponto da ordem de trabalhos, Orçamento para 2009, ocorre-me dizer que o documento apresentado ao executivo não foi o mesmo apresentado aos membros da Assembleia!
O curioso é que esta situação não mereceu uma explicação do Presidente.
Foi graças aos representantes do PS no executivo e às suas orientações e criticas sobre gralhas graves que o documento final do Orçamento, pôde chegar à Assembleia. Por outro lado, podia referir aqui muitas críticas/observações apresentadas ao Orçamento, brilhantemente apresentadas nas intervenções dos membros: Frias, Escaleira, Ricardo, Patrício, entre outros, mas, no seu conjunto , podem concluir-se na seguinte ideia: muitas rubricas abertas, pouco dinheiro… muito dinheiro canalizado para a “Municipia” (Empresa Municipalista)!
Se não houver apoio do Estado nenhuma obra de vulto!!!!!!!!!!

• Um outro momento que registo, foi aquele em que após uma clara e pertinente intervenção sobre documentos técnicos, por parte do membro Frias, o Presidente novamente fez estalar o verniz exaltou-se e chamou pessoal técnico por não saber dar uma resposta… Concluindo-se que o Sr.Frias tinha razão sobre a situação do empréstimo anterior, não fazer parte do actual orçamento… (mais uma!).

• Sobre a minha intervenção relativamente ao “arame farpado e lixo de toda a espécie” nas muralhas bem como a situação dos arrendatários dos fossos, novamente o Presidente mostrou um comportamento de sentimento de perseguição e passou ao ataque não percebendo que a minha intervenção era construtiva. Apenas estava a lembrar que do total de 10 arrendatários apenas existe um com vida!
Em resposta referiu que o Vice-Presidente estava a contactar as pessoas (espero que não ande a contactar os mortos!!!!!!). E que como não era jurista não podia dar resposta à situação!
No mínimo ridículo, o que vos parece?!
Sobre o bar do Picadeiro, nada… conclusão, ainda não vai abrir!

O Sr. Eng. Patrício esteve brilhante também quando saiu em defesa do Ministro da Agricultura. Lembrou a todos os presentes que o último grupo de Sapadores se ficou a dever à colaboração de quase todos e em particular dele e do Ministro.
Colocou assim a ridículo a presunção do feito ser só deles…Câmara Municipal.


• Da parte da bancada da CDU.
O Presidente de Freguesia, muito morno, foi colocando algumas questões de interesse mas sem se chatear muito, num ponto importante nem obteve resposta! Mas tudo bem!
O colega Zé Vaz, esse sim, foi altivo mas para quê? Para criticar o Governo da nação!
No mínimo ridículo, mas é mais do mesmo!

• Já a finalizar a sessão o amigo de Castelo Bom, membro da bancada PSD fez uma intervenção que de tão bizarra não a consigo adjectivar. Referiu que os membros do PS manipulam todas as intervenções gastando por isso muito tempo????


O bizarro disto é que os membros da bancada PSD entram mudos e saem calados… também mais do mesmo!

Vítor Almeida

13 janeiro, 2009

46664 - Parte II

Em Agosto de 1962 Nelson Mandela foi preso após informações da CIA à polícia sul-africana, tendo sido sentenciado a 5 anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 12 de Junho de 1964 foi sentenciado novamente, desta vez a prisão perpétua (apesar de ter escapado de uma pena de enforcamento), por planear acções armadas, em particular sabotagem (o que Mandela admite) e conspiração para ajudar outros países a invadir a África do Sul (o que Mandela nega). No decorrer dos vinte e seis anos seguintes, Mandela tornou-se de tal modo associado à oposição ao apartheid, que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou bandeira de todas as campanhas e grupos anti apartheid ao redor do mundo.
Nelson Mandela recebeu em 1989 o Prémio Internacional Al-Gaddafi de Direitos Humanos.
Ele e Frederik de Klerk dividiram o Prémio Nobel da paz em 1993.

Em Portugal felizmente podemos afirmar que em 25 de Abril de 1974 houve uma mudança de regime, terminando um regime autoritário e ditatorial e implantando-se o regime democrático, aliás como todos nós sabemos. No entanto, podemos afirmar que este é ainda muito jovem, que a nossa vivência em termos de respeito pela liberdade da pessoa humana, de respeito pelos direitos humanos até, enfim, pela opinião divergente desta ou daquela pessoa, ainda não está implantada de uma forma natural na nossa vivência. Quero acreditar que só nas novas gerações, talvez dos nossos filhos e netos, é que se irá respirar democracia e liberdade com naturalidade, e se aceitarão as opiniões e críticas contrárias sem qualquer tipo de preconceitos.
Hoje, ainda não.
Hoje ainda existem tiques ditatoriais, aqui e ali, ainda se verificam atitudes contrárias à livre expressão de opiniões e críticas, ainda se observam actos, cada vez mais raros. É verdade. Retaliações por atitudes e expressões contrárias às nossas ideias ou ideais. Sejamos claros neste raciocínio e reconheçamos que é verdade.
Quando recebo missivas, de certa forma ameaçadoras, por parte de quem detém o poder no nosso Concelho, só pelo facto de divergir e criticar a forma de estar e actuar de organismos públicos, leia-se Partido Politico; quando eu próprio sofro na pele represálias que são do domínio público, pelo menos foram publicadas neste blog, por ter uma opinião contrária ou divergente do poder autárquico instituído; quando essas represálias não se limitaram ao afastamento do partido no qual militava e defendia os seus ideais, de uma forma quase caciquista, ao ponto de ter sofrido uma tentativa de agressão pelo líder da estrutura partidária do mesmo; quando essas represálias chegam ao ponto de tentar atingir pessoas inocentes e que são estranhas e alheias a uma qualquer discussão ou ao debate de ideias, eu tenho que chegar à conclusão que muito mal vai o nosso conceito de democracia, de liberdade, de direito de livre expressão, eu tenho que afirmar em alto e bom som que não me considero um homem livre.
Não sinto que seja um homem livre no meu País, no meu Concelho, mas não deixarei de lutar por essa liberdade. Isso nunca irá acontecer.
Depois de algum tempo de “recolhimento” e de afastamento da discussão politica pública, do debate de ideias, precisamente pela desilusão que sentia com o já anteriormente referido sistema politico-partidário, cheguei à conclusão que não estaria a ser coerente com o meu DEVER de simples cidadão deste País.
Depois de meditar maduramente sobre tudo que se passou na nossa Sociedade e na nossa Região nos últimos anos, penso que a intenção de me afastar da vida política activa, de “aparecer de vez em quando a dar uns bitaites” (como tem por hábito dizer um amigo meu), de não me meter em candidaturas, em campanhas eleitorais e afins, de me afastar da luta política em si, não era a posição mais correcta, a mais coerente em relação a mim próprio, como Homem, como Almeidense e como Cidadão deste País.

Assim, é com toda a serenidade, que posso afirmar que vou estar outra vez na luta política activa, que vou estar no “terreno” em defesa dos meus ideais e pela minha linha de pensamento, respeitando e defendendo a democracia e a liberdade de todos.
É minha obrigação, pelo respeito que me merecem os meus familiares, os meus amigos e os meus conterrâneos.
Volto com outra vontade, quiçá mais maduro, mais experiente e mais forte.

Penso que seria uma atitude que todos nós habitantes deste Concelho deveríamos assumir, sem receios de qualquer espécie, pois ainda acredito na liberdade e na democracia no meu País.
Assim, e sublinhando a minha actual predisposição, afirmo desde já que quero, e vou estar presente, na próxima luta politica principalmente no que se refere às próximas eleições autárquicas, com todo o entusiasmo, alegria e vontade de servir.


Para Descartes, “age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas em escolha”.

Quanto mais claramente uma alternativa apareça como a verdadeira, mais facilmente se escolhe essa alternativa.

Pessoas que não buscam informações, têm mais dificuldades para identificar as inúmeras alternativas que existem, pois alternativas são frutos da aquisição dessas informações.

Até breve.

João Neves

08 janeiro, 2009

Comentário Livre

Por e-mail, por telefone ou pessoalmente, têm chegado até nós diversos pedidos para que o Almeida Fórum leve determinados temas a debate.

Alguns dos sugeridos são oportunos e interessantes.
Outros há, que é preferível aguardar oportunidade ideal para serem debatidos.

No entanto, procurando não privar aqueles que por um ou outro motivo queiram manifestar a sua opinião sobre um qualquer tema, foi decidido criar este espaço com o nome de “Comentário Livre” , para que cada um possa escrever o que muito bem entender, sem ter que estar sujeito a um tema específico.

Reiteramos mais uma vez a exigência da respeitabilidade de todos, em todos os artigos, para com todos.
Divergências de opinião são importantes para discussão e apuramento de conclusões.
Ofensas pessoais, nem pensar. Não serão publicadas.

31 dezembro, 2008

FELIZ ANO NOVO


Recados e Imagens - Feliz Ano Novo - Orkut

Recados, Gifs e Imagens no Glimboo.com




Feliz Ano de 2009

São os votos dos Autores do

Almeida Forum

05 dezembro, 2008

ENSAIO CONTRA A CEGUEIRA

NOTA PRÉVIA: Ao escrever este artigo, presto homenagem a José Saramago pela inspiração para o título, ao mesmo tempo que rendo tributo à obra deste grande escritor, muitas vezes incompreendido, quando a sua escrita se esforça por transmitir uma profunda preocupação com os desequilíbrios da sociedade humana, na esperança obstinada de que a mesma sociedade identifique e consciencialize a origem dos problemas - para depois fazer algo para os corrigir.

Recordo ainda o impacto negativo que o filme “Blindeness” (inspirado na obra “Ensaio sobre a Cegueira” deste autor) teve nos Estados Unidos, provocando intensa polémica por parte da Federação Nacional de Cegos que, sem o entender, acusou Saramago de retratar os cegos como incapazes e criminosos, bem como a resposta lúcida do escritor ao retorguir calmamente que “a estupidez não escolhe entre cegos e não-cegos”, associando-a a outra bem mais conhecida de todos nós, que “o pior cego é aquele que não quer ver!”


Aviso ainda que o artigo é relativamente extenso. Por isso, quem não gosta de ler ou reflectir com calma, e apenas vem ao blogue à procura de espreitar novidades de Almeida, é preferível desligar já!


***

Por uma questão de lisura com quem nos lê, fiz questão nas primeiras participações de explicar as razões de ruptura com a equipa que actualmente dirige os destinos de Almeida. Podia não o ter feito, mas achei que devia, mesmo sabendo que, de seguida, essa intenção de clareza poderia ser subvertida para explicação de actuação por ressabiamento, problemas não resolvidos e outros desvirtuamentos relacionados. (O que veio a acontecer, embora apenas diminutamente, fazendo jus à perspicácia dos almeidenses!)

Esse é um risco perfeitamente normal para quem se exprime publicamente, mas entendo que o respeito devido às pessoas que procurei empenhadamente motivar e envolver por Almeida, sobretudo as mais cépticas ou as mais renitentes, fosse por prudência ou antigos dissabores, e até as pessoas que testemunharam os sinais desse esforço… mereciam essa explicação. Ainda assim, confesso que a preocupação ficou perfeitamente secundarizada perante a enormidade do ambiente que se vive em Almeida, tristemente lembrando outros tempos de sujeição, perseguição e retaliação que todos agora julgaríamos improváveis.

O favorecimento de apajoadores ou apaniguados tornou-se uma coisa tão comum na sociedade portuguesa que quase ninguém estranha e até acha “legítima”. Já a perseguição às críticas e seus autores, ou mesmo a simples familiares desses, ainda que tenham tentado e esgotado previamente todas as vias do diálogo, deveria merecer de todos os cidadãos livres e esclarecidos a maior repulsa e indignação, no entanto, lamentavelmente, por acomodamento, conivência ou simples cegueira, nem sempre alcançam a gravidade desse atentado à dignidade humana e à democracia!

Bem sei que o aproximar de eleições é propício a esse clima. Sobretudo quando tantas forças são postas em jogo e em que não vencer, pelo menos para alguns, parece hipótese fora de questão. Quanto aos cidadãos comuns, não é tanto por motivos de vitórias partidárias, mas talvez por pacatez, indiferença, sobrevivência e cumplicidade de interesses, que parecem ficar imunes a uma visão e vontade próprias. (E que conveniente que isso é para os que se sentem detentores do poder!...)

No entanto, foi precisamente esse clima de intimidação e cobardia que veio reforçar a anterior convicção de que quem não aceita as prepotências como legítimas… NÃO deve vergar-se!

Por isso, ao contrário do que chega a ser insinuado, aqueles que dão a cara neste blogue pelo seu descontentamento com o rumo que Almeida tomou não são pessoas ressabiadas. Magoadas, sim. Desiludidas, certamente. Porque
apesar de se terem afastado, preferiam ter podido colaborar em acções positivas por Almeida! No entanto, foram forçadas a escolher entre a falta de dignidade ou a voz da sua consciência com cara levantada – e, obviamente, só podiam rejeitar a primeira.

O que não significa é que as razões das críticas assim desapareçam ou que o afastamento passe a significar desinteresse! Daí a manutenção das suas críticas, por coerência com as suas convicções e falta de alternativa perante o autismo e a arrogância instalados!

Nunca me motivou a luta partidária como tal: observo-a, atenta, como forma de discernimento relativamente ao mundo que me rodeia. Tal como muitos portugueses, desilude-me ver os sucessivos governos a culpar o anterior pelas dificuldades e fracassos. Tantas vezes esse filme passou que era tempo de termos aprendido alguma coisa com ele - e exigirmos políticos diferentes, mais competentes e com obrigação de respeitar efectivamente quem os elege e lhes paga o salário.

Em Almeida, terra onde sempre nos interessamos pelos problemas e potencial, emprestando colaboração sempre que possível, nunca me viram ou ouviram a criticar abertamente este ou aquele executivo, ainda que reconhecendo algumas falhas que todos têm e tiveram. Mesmo assistindo, diversas vezes, ao passar de oportunidades, optei por fazer as observações ou reparos directamente junto dos interlocutores responsáveis, sem que nunca fosse molestada ou marginalizada por isso, conseguindo manter sempre os níveis de cordialidade e transparência com todos, sem trair as minhas próprias opiniões ou precisar de fingir-me alheada com o que se passava.

Porque haveria agora de ser de outro modo? Perante os sinais, não estava nas nossas mãos a possibilidade de ocultar as opiniões e alinhar de fachada ou de bandeja como tantas vezes vejo fazer? Decerto que sim.

Então, antes de alguém volte a usar o termo de “bota-abaixo” para este blogue, gostaria de lembrar que ele está aberto a todos os elogios que os participantes queiram fazer também sobre a forma como os destinos de Almeida estão a ser tratados. Se bem que talvez haja pouco que se possa acrescentar aqui à informação que sobeja no Boletim Municipal… ou que o objectivo deste espaço seja mais um espaço de reflexão e de debate do que de informação, cuja função compete a um jornal, muitas vezes com publicidade paga. Aqui, publicam-se opiniões, trocam-se preocupações, partilham-se ideias. E cada um, dentro das restrições de uma comunicação pública, deve ser livre de expressar as suas.

Pela parte que me toca, estou tranquila: fiz os reconhecimentos em tempo e local próprios, quando acreditei na sua justeza; e se agora não os faço, é porque vi desaparecer o chão de credibilidade e prazo de validade para os mesmos.

Quando descobri este blogue, tocou-me a coragem de um homem só e determinado, contra ventos e marés. Antes de decidir intervir, mantive-me atenta ao seu esforço, procurando o despertar de consciências, atitudes cívicas e empenho pela sua terra, aqui e ali apoiado das participações de cidadãos isolados, em crescendo. Decorridos tantos meses de existência deste espaço, reconhecida por muitos o seu interesse, registada a activa participação, não deixa de surpreender, mesmo assim, a opção de negação das evidências, a constatação de ligeireza ou indiferença que continua a verificar-se em espectadores de bancada, para não falar das incondicionais atitudes de servilismo que, sem muitas razões de convicção, mais parecem “cumprir o seu dever”… a ponto de às vezes suscitar dúvidas: SERÁ QUE ALGUMA VEZ ALMEIDA VAI ABRIR OS OLHOS?!

Justamente porque diversas vezes, em privado ou em público, apelei a um envolvimento activo e solidário por Almeida, (sem que passe pela cabeça de muitos a tristeza que é ver as boas ideias e intenções irem pelo cano abaixo), posso afirmar que dei (demos) muitas mais oportunidades que o simples benefício da dúvida como testemunho de boa-fé! Contudo, hoje, deixou de se poder ignorar, e sobretudo calar, o destino que Almeida merecerá… se não quiser ver, ouvir e sentir por todo o lado a vassalagem, a intimidação e o desalento que são mais que flagrantes!

Sejamos lúcidos: há certamente, no meio de tantas coisas más, algumas que são boas. Mas como um participante anteriormente aqui disse, fazer bem é apenas uma obrigação, já que houve voto de confiança e larga margem para isso. De resto, para além de atitudes de pesporrência e falta de respeito pelos concidadãos, já sobejamente evidentes, se problemas havia, muitos mais foram altiva ou inutilmente criados, outros não seriamente abordados, outros agravados e muitos mais apenas iludidos.

Almeida com tantos problemas… não tem alternativas se não quiser vencer desafios para ter oportunidades! Todos nos orgulhamos de Almeida. Mas os almeidenses não podem ficar-se apenas pelo orgulho na sua terra; devem evoluir para motivos de que se orgulhar, unir-se em torno de uma vontade o mais possível comum e determinada, sem marginalizações, sem retaliações, saindo da resignação, do medo, da apatia ou da cobardia.

Todos nós podíamos ficar calados. Podíamos. Até era mais cómodo… e evitavam-se dissabores. No entanto, as razões para estes ou outros dissabores existem de qualquer modo. E se todos nós que podemos fazer qualquer coisa, nos encolhemos a um canto… fazemos um grande jeito para que tudo fique na mesma!

Se é isso que querem… arcarão com a escolha: explicarão um dia a si mesmos ou aos filhos porque a sua terra optou por fazer que se desenvolvia, encostada a promessas de sombra benigna, em vez de se desenvolver efectivamente, contando com o ânimo, a cabeça e os braços dos seus habitantes.

Só que esse jeito, eu não faço. Por isso, modestamente, com o meu teclado, decidi escrever. Contra a cegueira.


- Têm a palavra os Almeidenses!

Maria Clarinda Moreira

17 novembro, 2008

ERA UMA VEZ...

Era uma vez um reino, não muito longe, apenas distante no tempo, cuja corte gostava muito de festas. As cortes sempre gostaram de festas, entenda-se. Seja porque a governação, sem elas, é uma tremenda chatice, seja porque impressionam o povo que acorre a aplaudir os cortejos a passar, seja porque os folguedos também ajudam a distrair dos problemas e com isso toda a gente parece mais feliz, ou simplesmente porque a realização de festas são sinal de abundância – ou pelo menos é o que se julga…

O povo, a princípio, até apreciava ver aquela gente toda animada que vinha de longe só para vir visitar aquele reino, mas quando a festa acabava, começou a verificar que afinal pouco mais lá ficava que os desperdícios deixados na pressa da partida, que no dia seguinte tudo voltava a ser monótono e vazio, que naquela terra já nenhum outro remédio parecia haver senão esperar pela festa seguinte em que tudo espevitava mas nenhum sortilégio efectivamente melhorava aquele triste viver... e começou a desesperar.

Foi então que surgiram alguns murmúrios de descontentamento. Mas como não passavam de murmúrios, coisa que sempre houve em todas as terras, ninguém ligou muito. Muito menos o rei. Até porque as pessoas não se atreviam a falar mais alto, com medo das orelhas atentas que as iam denunciar e, por isso, as festas foram continuando, cada vez mais animadas… segundo o que se contava.

Entretanto, como festas combinam com espaços enfeitados, não tardou a concluir-se que havia que remodelar todas as salas antigas do palácio, jardins e arredores, convocando-se os conselheiros, com ordens de chamar outros mais reputados, de forma a apresentarem propostas, planos e ideias, para fazer cumprir uma promessa do rei de que haveria de tornar aquele reino o mais famoso de todas as terras próximas e distantes.

Começou então também a lufa-lufa de obras e arranjos, até importação de estátuas, parecendo que o dinheiro jorrava, enquanto o povo, atordoado pelas novidades que surgiam todos os dias, se limitava a coçar a cabeça, não vendo quem é que ia pagar aqueles exageros… embora desconfiando que, como de costume, acabaria por ser ele mesmo através dos seus tributos, sem ao menos sentir que isso iria contribuir em alguma coisa para melhorar a sua luta diária pela sobrevivência.

Porém, a corte pouco se preocupava com isso. Também, pensar nas necessidades do povo não é propriamente prioridade de uma corte, nunca o foi, o importante é “trazê-los pela corda” e “não arrebitarem demasiado cabelo”, comentava-se nos salões, rindo-se uns com os outros. Quando algumas vozes mais indignadas se levantaram, logo o rei as condenou, banindo-as da sua presença e, assim, a maioria foi preferindo o silêncio amordaçado, enquanto outras optaram voluntariamente pelo risco de serem proscritas, passando a enviar os seus protestos por pássaros a voar, sabendo que irão sempre ter a algum lado, ou que há sempre um viajante que acaba por reparar neles.

Por isso, subitamente, lembrando-se do episódio de uma rainha que foi decapitada pelo seu povo que não tinha pão (“Não têm pão? Comam brioches!”, terá comentado com natural frivolidade…), o rei reuniu de emergência a sua corte para, pelo sim pelo não, saber o que fazer a tantos pássaros indignados que começaram a incomodar por todo o lado. E a decisão que dali resultou foi, adivinhem se forem capazes, isso mesmo: que juntariam todos os barões para uma caçada aos pássaros, com o fito de tentar eliminar os vestígios dessa contestação.

O que aconteceu a seguir, ninguém sabe muito bem, pois o desfecho das histórias muitas vezes se perde na noite dos tempos… e cada um desenvolve a sua versão: “Quem conta um conto… acrescenta um ponto”, não é verdade?

- Mas ninguém duvida que com tanto pássaro a voar no céu, sempre algum ou outro atinge o seu destino, embora muitos possam ficar pelo caminho! Daí haver sempre a probabilidade de se cruzarem com um deles e assim poderem ouvir o final desta história de antigamente…

…Se bem que apenas para recordar esses tempos de outrora pois, apesar de continuarem a existir caçadas e caçadores, agora os reis já não governam assim. E qualquer semelhança desta história com a realidade actual, pelo menos em qualquer reino civilizado, não passa de pura imaginação para entreter um serão!

Por Maria Clarinda Moreira
Ilustrações de Adelchi Galloni

29 outubro, 2008

INTERVENÇÕES DESTAS? NÃO, OBRIGADO!

Poderá parecer aos menos avisados munícipes que a defesa do património histórico na sede do município em Almeida ou no concelho é uma questão em que pouco mais há a dizer. Aliás, poderão até outros habitantes do concelho interrogar-se sobre a veemência com que neste blogue se tem abordado este tema, já que essa questão não afecta a sua própria aldeia ou vila e, portanto, até possam “estar-se nas tintas” para o que se passa na sua sede…
Mas não parece que seja assim: já por várias vezes, em participações escritas, tentei transmitir a importância que o património histórico, natural, cinegético e ecológico tem para o concelho. Penso mesmo que é nele que reside a grande parte da sua possibilidade de sobrevivência económica e social, já que a estagnação económica e social das regiões do interior resulta da sua desertificação humana e do facto de as pessoas partirem para onde exista trabalho que lhes possa proporcionar melhor qualidade de vida.

E que potencialidades tem o concelho de modo a travar ou mesmo inverter essa desertificação? Qual a receita que poderá, pelo menos parcialmente, estancar este abandono constante dos residentes que se tem vindo a acentuar?

Activar a economia, investindo na agricultura, na indústria transformadora, no comércio?
Hoje em dia, e ainda mais com os efeitos de globalização, parece não haver dúvidas sobre as hipóteses de se encontrar nestas três áreas de actividade a possibilidade de serem muito mais dinamizadas, a ponto de inverter esta tendência das populações, sobretudo os jovens, de se deslocarem para as cidades.
Vejamos: a agricultura, no nosso concelho, não tem as condições geológicas dos solos ou climatéricas ideais para concorrer com outras regiões, tanto nacionais como comunitárias, no tipo de culturas tradicionais nem de outras, agora de produção em massa. Portanto, a agricultura aqui pode ter alguns nichos de produção restrita, nomeadamente a pecuária e silvicultura, mas pouco mais; a indústria, além da falta de pessoas, tem carência de pessoal qualificado. Uma grande fábrica não pode ser no nosso concelho implantada, pois se inicialmente até seria encarada como uma mais-valia, perspectivando-se como entidade empregadora de uma grande fatia da população activa, imagine-se o desastre social que seria, caso encerrasse… (lembremo-nos dos exemplos da Montebelo em Almeida e da Rhode em Pinhel que provocou um grande abalo social, com centenas de pessoas desempregadas que não tiveram na sua maioria alternativa de mudar para outro emprego). Assim, a hipótese mais viável seria procurar dinamizar pequenas ou médias indústrias e incentivar especificamente as ligadas à produção tradicional local, o que pode bem ser um objectivo por quem tem responsabilidades políticas…

Quanto ao comércio, em todo o concelho, como se sabe, o centro mais marcante desta actividade está na fronteira de Vilar Formoso, que também já viu melhores dias, caracterizado não só pelo movimento rodoviário e pela atracção das gentes de Espanha aos seus mercados e estabelecimentos… mas hoje a carecer de outras estratégias, que seria muito importante repensar!
- Qual é, então, a área mais agregadora de esforços em que se deverá apostar para que haja alguma dinamização e possa ser o volte-face da situação actual, resultando na criação de condições de fixação de alguma população?
Todos os analistas que se têm debruçado sobre esta problemática parecem unânimes em privilegiarem o turismo como a aposta mais forte, a pedra de toque para melhorar o nível económico das populações, motivando-as a fixar-se localmente, evitando a sua contínua fuga para o litoral ou para o estrangeiro.
Ora, para haver turismo tem que haver visitantes. E a estes o que os atrai para se deslocarem e permanecerem em Almeida e no seu concelho? Naturalmente aquilo que possui como autêntico, e deve ser preservado, bem como outras valências que possam ser criadas ou melhor aproveitadas e lhe são complementares. O que possuímos em todo o concelho é um conjunto diversificado do património que pode constituir uma rede de pontos de atracção únicos e genuínos para os visitantes.
E nele incluído, a vertente do património histórico-natural que ressalta por várias freguesias no concelho, com um expoente na sede do município, onde está implantada uma fortaleza, relativamente bem conservada que, pela sua grandiosidade e tipo de construção, a todos surpreende e, pela sua identidade e harmonia arquitectónica, é uma mais-valia histórica invulgar que atrai visitantes, os quais poderão despender algum dinheiro se houver em que o gastar, ou permanecer na região, simplesmente em lazer, a rever memórias ou a descansar do bulício das cidades. E naturalmente procurarão bens que sejam os mais típicos da região ou relacionados com a sua história e tradição, pois não irão adquirir algo que normalmente têm em qualquer loja ou sítio junto das suas residências habituais. E como visitar também abre o apetite ao forasteiro, este mais facilmente ficará seduzido por sabores e receitas tradicionais se existirem locais, inclusive espalhados pelas outras freguesias, bem divulgados, onde se possa bem comer, se se mantiver a qualidade naquilo que apresentam…
Mas o visitante só vem a Almeida, permanece, recomenda a amigos, regressa novamente e aqui gasta dinheiro, se se sentir atraído por algo que valha a pena ver ou usufruir, como lugar único pelas suas características.
... E alguém de bom senso acredita que esse mesmo visitante aprecia a vulgaridade de acrescentos e mamarrachadas nos espaços históricos da vila de Almeida e nos núcleos histórico-naturais de algumas das suas freguesias, que só os descaracterizam?!!!
No entanto, esta vaga delapidadora de um património cultural diferente, praticamente único meio capaz de gerar algum benefício, portanto, de ajudar a fixar pessoas, espalhou já efeitos perversos e ao que parece com muita vontade de continuar. Sem pensar que com ela desaparecem o ambiente e o encanto genuíno que Almeida conheceu e ainda possui! E que vulgarizando ou desfeando qualquer pedaço de história e cultura se está a destruir não só algo magnífico como também economicamente produtivo…
Para que é que Almeida necessita de pirâmides de vidro sobre portas abaluartadas, edifícios modernaços na sua praça de visitas, pórticos com azulejos geometricamente dispostos e outros arremedos de obras de arte? Que mais-valia terá para o Centro Histórico a construção de um edifico no ponto mais elevado da vila, visível, recortando o horizonte, contrastando pela sua forma e modernidade junto das vetustas ruínas do que foi um grandioso castelo medieval, ao lado do antigo cemitério?

Em que vai valorizar Almeida um monumento ao 25 de Abril que, pela sua dimensão de implante e contraste, com todo o aparelho de granitos e repuxos, ofusca a monumentalidade da entrada da própria fortaleza e reduz a imponência das suas Portas a um vulgar acesso de qualquer vila ou cidade?

Se há que ordenar o trânsito, se há que precaver acidentes junto ao jardim da pérgola, se existe um desejo de um monumento ao 25 de Abril, será que a melhor solução é atravancar todo o acesso a uma fortaleza histórica… com granitos, tanques e esguichos, numa zona que sempre lutou com falta de água?
Como nos disse um amigo que recentemente visitou Almeida, e agora acompanha todos estes projectos com apreensão pelo efeito perverso que já conheceu de outros lugares, todas estas obras não passam de “arquitetontices”… Mas pior ainda, são desperdiçadoras de verbas que poderiam ser canalizadas para a manutenção e restauros efectivamente valorizadores, tanto do Monumento como de outros lugares de interesse do concelho!
Quando é que os Almeidenses se darão conta destes desvarios e dirão: “BASTA!”???


- O Monumento é nacional, mas nós que aqui vivemos ou lhe estamos intimamente ligados por gerações, devemos ser ouvidos sobre o que nele querem fazer! De outro modo, Almeida e seu concelho, por onde se fizerem intervenções destas, irremediavelmente e cada vez mais, se irá a todos os níveis empobrecendo, em vez de se valorizar. E nós também seremos considerados responsáveis por não pedirmos contas a quem assim (tão mal) decide.

Rui Brito da Fonseca

12 outubro, 2008

MAIS QUE MIL PALAVRAS...


Ainda a propósito dos posts mais recentes, relacionados com o património de Almeida, que têm motivado intensa participação de visitantes e comentários dos leitores, é interessante salientar o seguinte:

1) Há bem pouco tempo, antes do aparecimento deste blogue, os temas relacionados com o Património eram apenas aflorados pela generalidade dos almeidenses nas esquinas, em voz baixa, com indignação recalcada, ou apenas com a resignação de quem normalmente se sentia impotente para se pronunciar sobre o que quer que fosse que achavam mal, deixando o trabalho de contestação aos “políticos”, se assim o entendessem.
2) O aparecimento e divulgação das novas tecnologias permitiu uma alteração significativa da forma de expressar o parecer de cada um, porque nem que seja a coberto de anonimato, salvaguardadas as elementares regras de decoro, podem exprimir a sua opinião, cientes que sobre eles não recairá nenhuma retaliação, como sucedia antes.
3) Por não constituir qualquer apologia do anonimato, antes uma contingência de um meio pequeno e de cidadãos pouco à vontade, ou que no dia-a-dia sentem represálias pela livre expressão do seu pensamento, este blogue não tem alternativa para lhes dar voz, mas em contrapartida, parte desta característica fundamental: todas as participações temáticas que introduzem os debates são assinadas pelos seus autores, sem recurso a qualquer nome falso.
4) Quer isto dizer que felizmente os tempos evoluíram, por um lado, mas também que as pessoas que voluntariamente assinam as suas participações dão a cara por aquilo que escrevem, assumindo publicamente as suas posições – sem medo de serem rotuladas por chicanas que defendem interesses contrários aos deste espaço de debate, ou de serem contestadas por falta de veracidade naquilo que publicam.

Assim, e a talhe de foice de alguns comentários menos informados, mais indignados, ou melhor intencionados, estes defendendo o diálogo com o poder autárquico, torna-se pertinente esclarecer o seguinte:

- Antes de bater a porta na colaboração com este executivo, também eu acreditei que o seu presidente era uma pessoa experiente, pelo seu trabalho autárquico como vereador durante 12 anos, além de outros como presidente de Junta de Freguesia; também eu pensei que era uma pessoa seriamente preocupada com o futuro dos seus concidadãos, tomando algumas atitudes excessivamente exaltadas como frontalidade e coragem, sinais de determinação e vontade de concretização dos projectos em que acreditava.

E não me enganei. Pelo menos totalmente. De facto, é uma questão de registo (o excesso de voluntarismo conduz geralmente a problemas de autismo) e de perspectiva: diversas vezes reconheci publicamente o mérito deste executivo em procurar criar condições de dinamismo cultural, embora, confesso, me desiludisse que começasse a torná-lo mero folclore, sem capacidade de perspectivar, a par disso, outras preocupações mais fundas e a longo prazo. Liderar para a satisfação imediata pode ser um acto de inteligência para sobrevivência no poder, mas é também uma de falta de visão estratégica e consequente. Pior do que isso, deixar-se ficar refém de técnicos contratados para “fazer obra” e usar dinheiros comunitários, sem querer sequer escutar verdadeiramente a opinião de outros munícipes ou técnicos, invocando uma teoria de “macacos e galhos” para se justificar nas competências de quem contrata, é um sinal demolidor de credibilidade. Três vezes (3!) me esforcei por ter um diálogo sereno e cara a cara, com este executivo, além de outras vezes, por escrito e à distância, para tentar resolver a bem um insulto público desrespeitador da divergência de opinião. A reacção tardia e meramente descartadora não foi mais do que uma cobertura para atitudes arrogantes, às quais se colou indelevelmente, vindo também a encarnar atitudes muito semelhantes, como se viu nos recentes workshops.

Contudo, não se pense que a verdade dos factos se resume a isto: outra resposta a uma reacção de protesto pelo desaforo de sucessivos atropelos relativamente a convidados e recriadores já na Recriação Histórica e respectivas Jornadas de 2007, onde como mentora e dinamizadora inicial das mesmas, confessava que “tinha vindo a Almeida para sofrer, só não sabia é que ia doer tanto” veio, por sua vez assinada pelo Vice-Presidente do Executivo, vereador de Cultura, a quem também se entregavam os louros de qualquer êxito das iniciativas, sintetizada em apenas dois provérbios, via mail (lamento, se desiludo os admiradores):

- “Mais vale mágoa no coração, que vergonha na cara!”
e
- “Nos milheirais comem os pardais”

Como não preferi a vergonha de pactuar com o que estava fora das nossas concordâncias, nem estava disposta a “comer nesses milheirais”, mantive-me fora. Mais tarde, bastante mais tarde, completamente afastada da colaboração com Almeida, e antes de qualquer participação neste blogue, prova de que o regime que aqui vigora é “quem não é por mim é contra mim”, recebi uma carta assinada pelo Presidente, acusando-me, bem como a toda a minha família chegada, de “boicote”…

- Pasme-se!!! Todos a torcermos por Almeida, colaborando até ao limite das nossas disponibilidade e boa fé - e ainda levamos com desconsiderações e desconfianças destas! Boicote… apenas porque tivemos a lisura de não escamotear as nossas discordâncias junto de quem acreditávamos ter o dever de as escutar e procurar ouvir outras opiniões para melhor decidir??? E como se não bastasse, ainda declarando ter-se imposto a si mesmo “um período de reflexão”. Período de reflexão que só pode ter gasto, não no silêncio da sua consciência, mas na companhia da sua trupe de toupeiras, procurando em vão desenterrar quaisquer “acusações falsas” – sem conseguir fundamentar um único argumento!

Na altura, levou nova resposta escrita, que obviamente não serviu de nada, já que ficou no segredo do Olimpo. Um Olimpo onde os deuses continuam a planear levar por diante mais “investimentos”, simpósios, projectos escultóricos baptizando-os de “arte popular”, para impingirem mais obras, obras como aquelas que vão conseguindo aprovar com manobras de braço enfiado no IGESPAR de Lisboa, ou batendo com pé no chão para vencer as resistências da Delegação Regional de Cultura, contra a vontade da população, contra o parecer e recomendação de outros técnicos, como o Arq. Perbellini da Europa Nostra, do Dr. Ray Bondin, membro do ICOMOS…esse, azar no discurso que trouxe, amigo do arq. João Campos, começando por elogiá-lo, sem saber o que ia verdadeiramente encontrar no terreno e acabando, sem querer, por pôr o dedo na ferida de Almeida. (Sobre tudo isto, voltaremos com mais notícias, oportunamente!)

Por isso, e porque o debate não se pode efectuar com marginalização dos almeidenses, nem com o escamotear da verdade, escolhemos este fórum para, responsavelmente, todos podermos exprimir as nossas opiniões. Não, não se trata de vinganças nem politiquices: como se pode ver, até aqui TODAS AS TENTATIVAS DE DIÁLOGO SAIRAM GORADAS. Sobrou apenas este espaço, que irrita muita gente, certamente, mas cuja intenção, à falta de melhor, é que haja participação de consciências livres e verdadeiramente democráticas sobre o futuro de Almeida.

Enquanto isso, e evidência do que aqui é muitas vezes afirmado, podemos todos ir-nos preparando, porque apesar de toda a contestação, a probabilidade de as obras se efectuarem, se tornará uma certeza! Porque a máxima é “só não é polémico quem não faz nada e pelo menos eu faço”. É tarde demais para recuar: investido tanto espalhafato, tanto alarde com peritos, mesmo que estes até nem fossem ou se viessem a revelar tão competentes como isso, não importa! Os ovos foram todos postos nesse cesto. O cesto que é oferecido aos almeidenses com promessas de um pão-de-ló para o seu desenvolvimento. E os ovos, mesmo que já cheiram mal, não se podem deitar fora e voltar atrás…

E tais ovos de tão podres e inchados de contentamento por esta enorme confiança de um executivo de uma pobre autarquia desertificada, até já saltam do cesto, em gestos de grande audácia, ameaçando atirar-se a quem lhes fizer frente: aconteceu nos workshops, acontecera antes, e tornará a acontecer. Ainda recentemente, por ocasião, da visita da Secretária de Estado da Cultura, houve mais evidências desse descaramento.

Mas não nos indignemos: está a ser fabricado um pão-de-ló em forma de estrela, que será posto numa travessa bem comprida, com um cravo cheio de repuxos para não murchar o espírito do 25 de Abril em Almeida. No meio, um exemplar da tal “arte popular” que pode ser por todos admirada: 24 calhaus + 1 de metal, que ainda falta. Tudo para que os almeidenses “sejam muito felizes”… sobretudo aqueles que ainda há pouco eram desdenhosamente apelidados de “abrileiros” por, na melhor das intenções, sonharem com um monumento comemorativo dessa efeméride!


- Que sorte a nossa!

Maria Clarinda Moreira

02 outubro, 2008

E DEMOS CABO DO MUNDO!

Em crónica publicada no Jornal de Notícias de 09.05.2007, o escritor Manuel António Pina recorda ler na escola o seguinte epigrama de Bocage:

Arrimado às duas portas,
Pingue boticário estava.
E brandamente acenou
A um doutor que passava.

Mal que chega o bom Galeno
Diz o outro com ar jucundo:
Unamo-nos, meu doutor,
E demos cabo do Mundo!

Propondo o autor dessa crónica, que se substituísse “boticário” por “autarca” e “doutor” por “arquitecto”, obter-se-ia (cita-se):

um panorama mais-que-perfeito do que acontece hoje em muitas cidades. A mistura explosiva de voluntarismo e ignorância de autarcas com o voluntarismo e arrogância de alguns arquitectos tem vindo a destruir a memória e ‘espírito do lugar’ de numerosos centros históricos”.



Precisamente temendo que o erro ilustrado nestes versos jocosos de Bocage pudesse acontecer em Almeida perante os sinais notórios de aparecimento de um “contentor de obras” na Praça da Liberdade, junto à Câmara, bem como uma reconfiguração de um buraco anteriormente feito na muralha, no qual se investia sem uma efectiva mais-valia de adequação dessa entrada a um centro histórico como o de Almeida, foi escrito e entregue, no final desse mesmo mês de Maio de 2007, um memorando de apelo ao Executivo para parar e reflectir, antes de mais, sobre as verdadeiras necessidades desta vila.


A resposta, tardia, veio embrulhada num convite, com elogios à mistura, de continuação de colaboração “à distância sem interferência neste grupo de trabalho” no qual tinha sido instada a participar, pelo qual dera a cara, procurando cativar todas as sinergias de amigos e estudiosos dedicados a Almeida.

A decepção de ver um executivo que prometia um dinamismo “comprometido com todos” a tomar esta opção de marginalizar qualquer tentativa de contestação, fazendo concessões unilaterais a arquitectos, foi tão profunda que não houve outra saída senão recusar o indigno ‘convite’ e afastar-me dessa colaboração com Almeida.


Mais de um ano depois, com outras advertências pelo meio perante mais evidências de autismo, tive oportunidade de comprovar nestes últimos workshops que a arrogância não apenas se manteve como ainda se acentuou.

E que o voluntarismo troante apenas confirmou um fraco servilismo, pronto a persistir (e pagar!) mais disparates.


Por essa determinação de destruição da memória e ‘espírito do lugar’ de Almeida, tenho que reconhecer que, afinal, uns e outros se tornaram autênticos merecedores da ironia dos versos de Bocage:

Unamo-nos, meu doutor,
E demos cabo do Mundo!


Um Mundo de potencial, que ainda mal despontado estava, logo se procurou atrofiar, dando prioridade à aplicação de mezinhas à toa que, venham de “boticário” ou de “doutor”, afinal não passam mesmo de banha-da-cobra… que se pretende alastrar a outros lugares do concelho de Almeida.

Com que objectivos? Cabe aos munícipes julgar!

Maria Clarinda Moreira

12 setembro, 2008

(DES)ARRANJOS EM ALMEIDA

Lamentavelmente, confirmaram-se os receios que levaram à minha participação no “Praça Alta” de Agosto e no último ‘post’ deste blog, chamando a atenção para o eventual risco que corria o património histórico-cultural da vila de Almeida, a propósito dos workshops promovidos pela CMA no dia 23 de Agosto.
Seria até mais pragmático reconhecer que a organização dos tais workshops não passaria de uma tentativa de branqueamento das intenções para intervir a próprio contento no centro histórico de Almeida, não fosse a presença massiva dos almeidenses que compareceram para tomar conhecimento dos projectos e, ao fazê-lo, os contestarem veememente. Isto porque o que foi apresentado como novas obras ultrapassa o razoável em termos de bom senso, constituindo, caso se concretize, algo que pode inclusivamente ser visto como de lesa-património. Habituados que devem estar à indiferença ou distracção dos almeidenses, esperariam as entidades promotoras uma fraca participação destes, o que misturado com os aplausos de circunstância dos convidados de fora, uma vez mais passaria por uma tácita anuência para o tipo de intervenção. Mas, desta vez foi diferente, e pelo vigor das intervenções, dificilmente nada daqui para a frente será igual…

Tanto in loco na zona do Castelo como no auditório das Portas de Santo António, houve oportunidade de detalhadamente serem explicadas pelo arquitecto João Campos, consultor contratado pela CMA, e pelo Presidente as respectivas perspectivas e justificações de intervenção: no espaço exterior do antigo cemitério, contíguo ao Castelo, foi proposta a construção de um edifício em altura, com funções de arrumos na parte inferior, englobando o depósito de água que se encontra ao nível do solo, e na parte superior um miradouro com pérgula e pala, eventualmente munido de esplanada e até cafetaria, servido de diversas escadarias e rampas de acesso, que, no seu conjunto de tal modo volumoso, de linhas modernas e implantado num lugar altaneiro da vila, logo se imporia para quem chegasse a Almeida, em recorte de horizonte entre o depósito da água antigo e a torre do relógio.
Se até aqui os almeidenses se indignam com o edifício conhecido, entre outros nomes, por “mamarracho” da Praça da Liberdade junto à Câmara, e que maioritariamente, para não dizer na totalidade, os desgosta, desta vez o que se propõe é algo que rivaliza com essa construção, com larga vantagem em termos de desenquadramento e fealdade e, pior ainda, notoriedade… mesmo à distância. Portanto, mais uma vez se está a perspectivar um novo atentado ao valor e espaço histórico de Almeida como um todo, quebrando o respeito que os almeidenses sentem por aquele lugar, chocando com as suas memórias e o luto que ainda hoje sofrem pela tragédia da explosão do castelo em 1810.
Além disso, mesmo removidas todas as ossadas do cemitério velho, essa aberrante construção iria implicar imposição de terraplenos num sítio que carece de mais exaustivas escavações arqueológicas, pois se sabe que no local existiu a igreja matriz, destruída aquando da explosão do castelo. Portanto, qualquer intervenção naquele local, que apesar de aspecto abandonado, está carregado de alma para os almeidenses, faz com que só deixe de ser considerado sagrado, quando o tempo e a memória das pessoas que conheceram o cemitério e porventura ali tiveram sepultados parentes, desaparecerem também. Mesmo nessa eventualidade, as intervenções de construção ali, deverão primeiro aguardar a colocação a descoberto da totalidade das ruínas soterradas da igreja, para então se estudar o que melhor se coaduna ao local. Mas, de certeza, que não uma obra que impositivamente mexa com o todo histórico e paisagístico de Almeida como a que ora se propõe.
Para completar o naipe, está previsto no projecto e logo à entrada do portão ladeado por dois cedros um monumento tipo memorial à efeméride dos 200 anos do “Sacrifício de Almeida”, alusivo à explosão do Castelo. Independente da qualidade ou do gosto plástico do mesmo, é proposto ter na frente também um “espelho de água”, na forma eufemística de lhe chamar um tanque que, mercê da previsível e constante necessidade de manutenção para ter água corrente, ou acabará por ficar seco, ou fatalmente transformado em repositório de lixo e água estagnada. Durante o workshop e integrado no “Simpósio de escultura” foi apresentado esse memorial, alegadamente um “estudo”, até pelo texto que não se consegue decifrar. Bem se pode estranhar que um monumento que pretende comemorar 200 anos da explosão do castelo, ou seja para 2010, já esteja concretizado… a ponto de merecer coroa de flores no seu local provisório!

Foram ainda mostradas uma série de esculturas que deverão ser colocadas em vários pontos do concelho. Uma delas, designado por Monumento ao 25 de Abril, que serve de pretexto ao “arranjo urbanístico” junto às Portas de S. Francisco, o qual, segundo o projecto, será implantado mesmo defronte à Porta exterior, ocupando o largo ali existente, e prolongando-se até ao jardim da pérgola, defronte aos edifícios dos antigos celeiros, com três longos “espelhos de água”… uma mania que querem fazer chegar a Almeida, depois de comprovado erro noutros lugares…
Sem questionar esse monumento, de alguma anterior controvérsia, confirmada pelo remate um tanto indelicado como foi explicado pelo seu autor com um “quero é que os almeidenses sejam felizes!...”, o que se torna descabido é sobretudo pela sua dimensão e extensão o local onde vai ser erigido. O largo ficará com uma espécie de rotunda, desaparecendo quase toda a área de salvaguarda ao monumento da fortaleza, que vai ser preenchido com essa construção. Ora, uma vez mais se está a desrespeitar toda a envolvência histórica do local, não tendo em conta o espaço junto às Portas de S.Francisco sobrepondo-se-lhes visualmente e fazendo desaparecer o amplo campo de visibilidade para quem chega e entra em Almeida. A imponência que as Portas ostentam desaparecerá, envolvidas que vão ser pelo novo monumento. Um local que nas praças de guerra quase sempre existia como parada externa para a formatura de tropas que desfilariam em dias de festa, ou partiriam em missão de patrulha e combate no exterior, deixa irremediavelmente de existir.

Com estas preocupações partilhadas, é fundamental que os Almeidenses se apercebam que, por detrás de um pretenso dinamismo de construção de obras, cada uma delas pode representar uma ou mais machadadas ao monumento histórico de Almeida. Implantadas numa antiga praça de guerra que se pretende em harmonia de ambientes e construções integradas que constituem a sua inegável mais-valia, vêm estes verdadeiros atentados empobrecê-la, em vez de beneficiá-la.
É preciso urgentemente demonstrar a este autismo decisor que basta de tanto disparate arquitectónico que está inegável e irreversivelmente a descaracterizar a nossa histórica terra. Os workshops serviram como primeiro passo, mas os almeidenses não devem descansar!

Rui Brito da Fonseca

16 agosto, 2008





À Atenção dos Almeidenses:
- uma vez mais o nosso património histórico em perigo?


Acedendo ao sítio da CMA e ao blog do Jornal Praça Alta, tem-se conhecimento do Programa da Recriação do Cerco de Almeida 2008, que ocorrerá entre os dias 22 e 24 de Agosto próximo.

Chamou-me especial atenção o programa da tarde do dia 23 de Agosto, próximo Sábado. Anuncia-se a realização de dois workshops. O primeiro, com o seguinte tema:” o projecto do município para a regeneração da zona do castelo”; com os temas em discussão:
“O arranjo urbanístico do alto da cidadela”, “A importância arqueológica e sua integração” e o “ Projecto do miradouro da Praça Forte”.
O segundo workshop tem por tema : “O 1º Simpósio de Almeida - Um programa de Escultura para o Concelho”, com os temas em discussão: “O Memorial do Sacrifício de Almeida e os 200 Anos da Guerra Peninsular” e o “Monumento do 25 de Abril e outras Intervenções de Arte Pública como monumentos de inovação urbanística a assinalar”.

Ora todas estes workshops parecem pertinentes e revestidos até de alguma democraticidade, pois neles poderão - ao que se julga - participar quem quiser, não necessitando de inscrição…

Contudo, há que estar atento às propostas de mais “projectos do município” e “arranjos urbanísticos” e agora também “Arte Pública” (estaremos para ver o que entendem por isso…), pois poderão enfermar de aspectos que não são de todo os mais adequados para a valorização de Almeida.

Considerando as mais recentes intervenções, é de temer que de novo possam surgir soluções descabidas e desadequadas ao todo histórico que o monumento, no seu conjunto, representa. As obras e inovações executadas por ou com o beneplácito da Câmara disso são exemplos. Sem pretender ser prolixo para quem me lê, gostaria só de, uma vez mais, enunciar os mais recentes: edifício tipo caixote na Praça da Liberdade (quase em frente à Câmara); azulejaria e granitos tipo estação de metro na porta nova junto às casamatas”, armações em aço e vidro, quais cutelo e paliteiro, construídas sobre as Portas de Santo António; postes de iluminação tipo estádio de futebol no picadeiro exterior, esquadros e quilhas de granito semi-polido por detrás da Pousada; propostas para espelhos de água junto às Portas de S. Francisco… só para referir as mais destacadas. Também, ao que tudo leva a crer, acrescenta-se o mais recente “(des)arranjo” das Casamatas…

Não se conhecem ainda estes novos projectos, mas pelos exemplos anteriores… e pelo autismo conhecido…é indispensável ter os olhos bem abertos ao que dali vai sair!
Por isso, os Almeidenses que verdadeiramente se interessam pela preservação do património da sua terra deverão estar alerta com o que se pretende construir. Corre-se o risco de, com novos “ (des) arranjos”, cada vez mais a Praça-Forte ficar incaracterística como monumento histórico graças a intervenções que vulgarizam o seu espaço histórico.

Pergunta-se: o que é que Almeida tem que cative os visitantes e que possa, bem gerido, tornar-se uma fonte de rendimento para a terra? O que é que ali vão encontrar os visitantes que os façam voltar, ou propagandear junto dos seus conhecidos o interesse na visita? Um antigo e monumento militar classificado, com implantes de modernices semelhantes a tantas outras terras?

O visitante ao entrar no espaço interior das muralhas, deveria ser naturalmente envolvido pelo ambiente que caracteriza uma época passada, pois só assim sente a originalidade do seu testemunho histórico. Mas, actualmente, o que vê? Edifícios e espaços numa certa harmonia que transmitem uma determinada mensagem histórica e, ao virar da esquina, leva um choque na ambiência sentida ao esbarrar de caras com edifícios, construções e intervenções que contrastam com o todo monumental. A viagem que estava a viver, ou a memória evocada do ambiente de outras épocas e outros tempos, afinal o aliciante e objectivo de visitar Almeida, é violentamente cortado pelo anacronismo que lhes surge perante os olhos. E então sobra a inevitável desilusão de constatar que Almeida poderia ser única na sua monumentalidade, preservada pelo tempo e estimulada com novas intervenções de forma integrada, e, em vez disso, se torna apenas comparável a qualquer lugar antigo com casas, praças e modernas intervenções. Ao fim e ao cabo, vulgar!

É isso que nós não queremos - e tememos possa acontecer. Para contrariar essa tendência, bem como a falta de um debate que deveria ser amplo, aberto à população e com prazo temporal alargado, e não se confinar a um mero workshop em que aos presentes, como habitualmente, é argumentando pouco tempo disponível, sem lhes dar tempo de reflexão suficiente para questionar o quer que seja…

…Num dever de cidadania, deveremos estar presentes nos tais workshops e, se for caso disso, intervir, levantando questões e até eventualmente demonstrando o nosso desagrado por propostas que acharmos desadequadas. Assim, apesar de não idealmente, podemos mostrar às autoridades decisoras se os projectos apresentados merecem ou não o nosso apoio e vão ao encontro do querer dos Almeidenses. De outro modo, corre-se o risco de ver a nossa Almeida, em poucos anos, mais desvirtuada no seu todo arquitectónico que nos duzentos anos anteriores!


Rui Brito da Fonseca

14 agosto, 2008

Alma até Almeida...bem iluminada.


“Alma até Almeida“ é um grito de guerra já conhecido internacionalmente mas que muitas pessoas desconhecem certamente o verdadeiro motivo da sua criação.
Também não é minha pretensão aqui e agora esclarecer esse ponto.
O motivo deste comentário é um outro.

Hoje quando vamos a um médico, seja de clinica geral ou de uma qualquer especialidade para consultar sobre qualquer problema que nos incomoda um pouco mais, depois de uma receita com mais ou menos antibióticos, vem sempre o conselho de que após o jantar, deve-se sempre dar um passeio a pé.

Talvez por isso ou talvez porque algumas pessoas encaram essa ideia como uma das últimas modas, ou ainda porque gostam, cada vez mais vemos gente a passear à noite.
Ainda bem que o conseguimos fazer sem qualquer contratempo, pois lugares há onde não é possível com receio de assaltos.
Deixemos também isso ao cuidado das autoridades competentes.

Verdadeiramente o que me leva a escrever hoje é o facto de todos aqueles que nesta bela Vila histórica de Almeida após o jantar mais ou menos magnificente, podemos admirar a imagem deslumbrante nocturna da nossa Vila, devido à sua recente iluminação.

Na realidade é difícil aqui deixar uma fotografia por palavras, já que a beleza com toda a iluminação, é simplesmente espectacular.

Certamente houve um empenho forte por parte da Câmara, e assim sendo temos que louvar tal decisão.




Esperemos, isso sim, que esta situação não seja passageira, após o termino do Verão ou a saída dos emigrantes.

Certamente os nacionais migrantes que por aqui passem uma noite ou mais, serão os primeiros a levar este maravilhoso postal nocturno para outras paragens, o que significa que será a melhor publicidade para que muita mais gente venha até Almeida.



Deixo aqui o convite aos almeidenses, para que um dia destes passem por cá a visitar-nos, e possam apreciar esta beleza.

Sem quaiquer preconceitos de qualquer espécie, creio que hoje poderemos gritar alto e bom som, porque se adapta bem a tudo aquilo que aqui descrevi “Alma até Almeida” .

12 agosto, 2008

EUROPA virada a Sul

A discussão sobre os mais variados sistemas de energia para uso caseiro, tem levado muita gente a emitir opiniões para variadíssimos gostos.
Na reunião do passado mês da União para o Mediterrâneo, o presidente francês Nicholas Sarkozy, lançou para discussão com fortes probabilidades de ter pernas para andar a possibilidade de uma vez por todas, se resolver a questão energética para toda a Europa.
A ideia de um grupo de cientistas, é a de construir no maior deserto quente do mundo, uma quinta de painéis solares capazes de gerar energia suficiente para abastecer toda a Europa.
Desde logo Nicholas Sarkozy e Gordon Brown decidiram apoiar publicamente este projecto, considerando esta ideia a melhor forma de responder aos críticos que dizem que a urgência de uma solução não permite soluções de carácter solar ou eólico.
Os mesmos cientistas afirmam que a recolha de raios solares em células fotovoltaicas é três vezes mais produtiva no deserto do Sahara do que no norte da Europa.
Outro especialista na matéria e funcionário do Instituto para a Energia da Comissão Europeia, Arnulf Jaeger-Walden, afirmou no fórum de abertura da Eurociência em Barcelona que basta apenas uma captação de 0,3% da luz solar do deserto do Sahara e Médio Oriente, para permitir um abastecimento a toda a Europa.
Diga-se que o espaço necessário para essa captação pode ser um pouco menos do que a área do País de Gales na velha Inglaterra.
A construção do parque solar terá um custo aproximado de 450 mil milhões de euros por ano, até 2050.
Nessa altura, a produção estimada daquela que poderá ser a maior quinta solar do mundo, é de 100 gigawatts de energia. O maior gerador nuclear só produz um máximo de 3 gigawatts.
A Greenpeace sempre atenta a estas coisas, já deu o seu aval.
O Instituto para a Energia da Comissão Europeia está fortemente empenhado neste projecto e procura reunir esforços de toda a Europa, de forma a conseguir-se este objectivo.
Esta solução poderia até ao ano de 2020, reduzir o consumo de energia em 20% e acabar com a dependência do petróleo.
Naturalmente que não será fácil este trabalho em função dos grandes interesses instalados.
Como a questão do nuclear foi recentemente abordada neste pequeno país, ainda que muito superficial e sinteticamente por dois políticos portugueses, valerá talvez a pena deixar aqui este post, à consideração.
Sendo a esperança a última a morrer, aguardemos por ela em prol da vivência do futuro dos nossos descendentes.


09 agosto, 2008

REPOR A VERDADE, A BEM DA CREDIBILIDADE POLITICA - 2ª PARTE

Porque se registaram problemas no artigo publicado anteriormente e uma vez que o debate estava a ser interessante e elucidativo..."pedimos desculpa pela interrupção mas o debate segue já a seguir"




Fiquei incomodado com esta troca de comunicados entre o PS e os Vereadores do PPD/PSD do Executivo da Câmara Municipal de Almeida.
Penso que se deve pedir a todos os intervenientes na vida politica concelhia, que tenham uma postura mais séria e clara, de forma que todos os habitantes deste Conselho sejam devidamente informados, caso contrário correm o risco de verem os seus excelentes comunicados a irem para o cesto dos papéis mesmo antes serem lidos e, mais uma vez, a credibilidade dos nossos políticos ser avivada de forma ainda mais negativa.
Quanto ao facto do comunicado do executivo camarário ter sido “autenticado” com as assinaturas do Senhor Presidente da Câmara e por dois dos seus Vereadores, foi uma bela ideia já que ficamos sem dúvidas nenhumas da autoria das afirmações transcritas no mesmo.Mas, vamos lá tentar fazer aqui um ponto de ordem nesta troca de comunicados e, sobretudo de uma forma que todos percebam bem:


1 – O Governo de Portugal acabou com as taxas de aluguer dos contadores da água?
É verdade.


2 – A Câmara de Almeida criou uma nova taxa ou imposto (coloquem o rótulo que quiserem)em sua substituição?
É verdade.
3 – Medidas sociais – famílias numerosas.
Uma simples pergunta: haverá muitas famílias com mais de 2 filhos (eu não digo 3, eusó digo 2 filhos!). Como a redução só beneficia as famílias com 3 ou mais filhos...francamente!


4 – IMI.
Vamos lá clarificar esta questão do IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis, tão propagado pelo executivo camarário desde as últimas eleições autárquicas como se uma oferta ao Povo do Concelho de Almeida se tratasse.
Vamos lá repor a verdade dos factos:Em 16/12/2003 o Executivo da Câmara Municipal de Almeida apresentou à Assembleia Municipal uma reforma da Tributação sobre o Património Imobiliário (o tal IMI), propondo a taxa máxima de 0,8 (sim, disse bem: a proposta do Executivo Camarário foi a taxa máxima).Esta proposta do executivo foi reprovada pelos Deputados, com 22 votos contra, 6 votos a favor e 19 (dezanove) abstenções. O que diz a Lei nos casos de “chumbos” da proposta do executivo, a taxa a aplicar passará a ser a taxa mínima de 0,4.Portanto, se temos que agradecer a alguém pela aplicação da taxa mínima de 0,4, não será certamente ao executivo camarário, uma vez que a sua proposta foi de 0,8 (nada mais nada menos que a taxa máxima), mas sim aos Senhores Deputados da Assembleia Municipal que a impuseram.Estes são os factos verdadeiros, como poderão comprovar pela Acta nº 9 de 16/12/2003 da Assembleia Municipal de Almeida, aqui publicada.Parafraseando um dos comunicados…confundir é grave, mentir é feio…




















5 – IRS.
O Governo da Nação entregou às Câmaras Municipais 5% do valor cobrado em IRS.Por sua vez, as Câmaras deveriam reduzir o IRS dos seus Munícipes nas percentagens queentendessem até aquela percentagem, a bem de uma politica social e humana de realçar.

Pelo gráfico a seguir publicado, poderão verificar quais as Câmaras verdadeiramente benfeitoras.

Resumindo, podemos dar os parabéns à Câmaras Municipais de Manteigas, Alcoutim, Castro Marim, Crato, Gavião, Oleiros, Ponte de Lima, Ponte de Sor e Terras do Douro.

João Neves

05 agosto, 2008

REPOR A VERDADE A BEM DA CREDIBILIDADE POLITICA

Fiquei incomodado com esta troca de comunicados entre o PS e os Vereadores do PPD/PSD do Executivo da Câmara Municipal de Almeida.

Penso que se deve pedir a todos os intervenientes na vida politica concelhia, que tenham uma postura mais séria e clara, de forma que todos os habitantes deste Conselho sejam devidamente informados, caso contrário correm o risco de verem os seus excelentes comunicados a irem para o cesto dos papéis mesmo antes serem lidos e, mais uma vez, a credibilidade dos nossos políticos ser avivada de forma ainda mais negativa.

Quanto ao facto do comunicado do executivo camarário ter sido “autenticado” com as assinaturas do Senhor Presidente da Câmara e por dois dos seus Vereadores, foi uma bela ideia já que ficamos sem dúvidas nenhumas da autoria das afirmações transcritas no mesmo.

Mas, vamos lá tentar fazer aqui um ponto de ordem nesta troca de comunicados e, sobretudo de uma forma que todos percebam bem:

1 – O Governo de Portugal acabou com as taxas de aluguer dos contadores da água?

É verdade.

2 – A Câmara de Almeida criou uma nova taxa ou imposto (coloquem o rótulo que quiserem)
em sua substituição?

É verdade.

3 – Medidas sociais – famílias numerosas.

Uma simples pergunta: haverá muitas famílias com mais de 2 filhos (eu não digo 3, eu
só digo 2 filhos!). Como a redução só beneficia as famílias com 3 ou mais filhos...francamente!

4 – IMI.

Vamos lá clarificar esta questão do IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis, tão propagado pelo executivo camarário desde as últimas eleições autárquicas como se uma oferta ao Povo do Concelho de Almeida se tratasse.

Vamos lá repor a verdade dos factos:

Em 16/12/2003 o Executivo da Câmara Municipal de Almeida apresentou à Assembleia Municipal uma reforma da Tributação sobre o Património Imobiliário (o tal IMI), propondo a taxa máxima de 0,8 (sim, disse bem: a proposta do Executivo Camarário foi a taxa máxima).

Esta proposta do executivo foi reprovada pelos Deputados, com 22 votos contra, 6 votos a favor e 19 (dezanove) abstenções. O que diz a Lei nos casos de “chumbos” da proposta do executivo, a taxa a aplicar passará a ser a taxa mínima de 0,4.

Portanto, se temos que agradecer a alguém pela aplicação da taxa mínima de 0,4, não será certamente ao executivo camarário, uma vez que a sua proposta foi de 0,8 (nada mais nada menos que a taxa máxima), mas sim aos Senhores Deputados da Assembleia Municipal que a impuseram.

Estes são os factos verdadeiros, como poderão comprovar pela Acta nº 9 de 16/12/2003 da Assembleia Municipal de Almeida, aqui publicada.

Parafraseando um dos comunicados…confundir é grave, mentir é feio…





















5 – IRS.



O Governo da Nação entregou às Câmaras Municipais 5% do valor cobrado em IRS.
Por sua vez, as Câmaras deveriam reduzir o IRS dos seus Munícipes nas percentagens que
entendessem até aquela percentagem, a bem de uma politica social e humana de realçar.
Pelo gráfico a seguir publicado, poderão verificar quais as Câmaras verdadeiramente
benfeitoras.



Resumindo, podemos dar os parabéns à Câmaras Municipais de Manteigas, Alcoutim, Castro Marim, Crato, Gavião, Oleiros, Ponte de Lima, Ponte de Sor e Terras do Douro.

João Neves