16 agosto, 2008





À Atenção dos Almeidenses:
- uma vez mais o nosso património histórico em perigo?


Acedendo ao sítio da CMA e ao blog do Jornal Praça Alta, tem-se conhecimento do Programa da Recriação do Cerco de Almeida 2008, que ocorrerá entre os dias 22 e 24 de Agosto próximo.

Chamou-me especial atenção o programa da tarde do dia 23 de Agosto, próximo Sábado. Anuncia-se a realização de dois workshops. O primeiro, com o seguinte tema:” o projecto do município para a regeneração da zona do castelo”; com os temas em discussão:
“O arranjo urbanístico do alto da cidadela”, “A importância arqueológica e sua integração” e o “ Projecto do miradouro da Praça Forte”.
O segundo workshop tem por tema : “O 1º Simpósio de Almeida - Um programa de Escultura para o Concelho”, com os temas em discussão: “O Memorial do Sacrifício de Almeida e os 200 Anos da Guerra Peninsular” e o “Monumento do 25 de Abril e outras Intervenções de Arte Pública como monumentos de inovação urbanística a assinalar”.

Ora todas estes workshops parecem pertinentes e revestidos até de alguma democraticidade, pois neles poderão - ao que se julga - participar quem quiser, não necessitando de inscrição…

Contudo, há que estar atento às propostas de mais “projectos do município” e “arranjos urbanísticos” e agora também “Arte Pública” (estaremos para ver o que entendem por isso…), pois poderão enfermar de aspectos que não são de todo os mais adequados para a valorização de Almeida.

Considerando as mais recentes intervenções, é de temer que de novo possam surgir soluções descabidas e desadequadas ao todo histórico que o monumento, no seu conjunto, representa. As obras e inovações executadas por ou com o beneplácito da Câmara disso são exemplos. Sem pretender ser prolixo para quem me lê, gostaria só de, uma vez mais, enunciar os mais recentes: edifício tipo caixote na Praça da Liberdade (quase em frente à Câmara); azulejaria e granitos tipo estação de metro na porta nova junto às casamatas”, armações em aço e vidro, quais cutelo e paliteiro, construídas sobre as Portas de Santo António; postes de iluminação tipo estádio de futebol no picadeiro exterior, esquadros e quilhas de granito semi-polido por detrás da Pousada; propostas para espelhos de água junto às Portas de S. Francisco… só para referir as mais destacadas. Também, ao que tudo leva a crer, acrescenta-se o mais recente “(des)arranjo” das Casamatas…

Não se conhecem ainda estes novos projectos, mas pelos exemplos anteriores… e pelo autismo conhecido…é indispensável ter os olhos bem abertos ao que dali vai sair!
Por isso, os Almeidenses que verdadeiramente se interessam pela preservação do património da sua terra deverão estar alerta com o que se pretende construir. Corre-se o risco de, com novos “ (des) arranjos”, cada vez mais a Praça-Forte ficar incaracterística como monumento histórico graças a intervenções que vulgarizam o seu espaço histórico.

Pergunta-se: o que é que Almeida tem que cative os visitantes e que possa, bem gerido, tornar-se uma fonte de rendimento para a terra? O que é que ali vão encontrar os visitantes que os façam voltar, ou propagandear junto dos seus conhecidos o interesse na visita? Um antigo e monumento militar classificado, com implantes de modernices semelhantes a tantas outras terras?

O visitante ao entrar no espaço interior das muralhas, deveria ser naturalmente envolvido pelo ambiente que caracteriza uma época passada, pois só assim sente a originalidade do seu testemunho histórico. Mas, actualmente, o que vê? Edifícios e espaços numa certa harmonia que transmitem uma determinada mensagem histórica e, ao virar da esquina, leva um choque na ambiência sentida ao esbarrar de caras com edifícios, construções e intervenções que contrastam com o todo monumental. A viagem que estava a viver, ou a memória evocada do ambiente de outras épocas e outros tempos, afinal o aliciante e objectivo de visitar Almeida, é violentamente cortado pelo anacronismo que lhes surge perante os olhos. E então sobra a inevitável desilusão de constatar que Almeida poderia ser única na sua monumentalidade, preservada pelo tempo e estimulada com novas intervenções de forma integrada, e, em vez disso, se torna apenas comparável a qualquer lugar antigo com casas, praças e modernas intervenções. Ao fim e ao cabo, vulgar!

É isso que nós não queremos - e tememos possa acontecer. Para contrariar essa tendência, bem como a falta de um debate que deveria ser amplo, aberto à população e com prazo temporal alargado, e não se confinar a um mero workshop em que aos presentes, como habitualmente, é argumentando pouco tempo disponível, sem lhes dar tempo de reflexão suficiente para questionar o quer que seja…

…Num dever de cidadania, deveremos estar presentes nos tais workshops e, se for caso disso, intervir, levantando questões e até eventualmente demonstrando o nosso desagrado por propostas que acharmos desadequadas. Assim, apesar de não idealmente, podemos mostrar às autoridades decisoras se os projectos apresentados merecem ou não o nosso apoio e vão ao encontro do querer dos Almeidenses. De outro modo, corre-se o risco de ver a nossa Almeida, em poucos anos, mais desvirtuada no seu todo arquitectónico que nos duzentos anos anteriores!


Rui Brito da Fonseca

10 comentários:

  1. Face ao que se lê no post, só se pede aos Almeidenses que puderem ou foram atempadamente avisados e certamente lhes irá ser proporcionado transporte face à importância do evento que, sendo pessoas importantes também, por isso mesmo assinalem a sua presença e se façam ouvir exercendo asim o seu direito de cidadãos; que não se "limitem" porque ser-se cidadão é muito importante, e algo que não se deve alienar.
    Meu pensamento pessoal: penso que o Património Histórico Almeidense, não está devidamente cuidado.
    Sei que existem "opções" em termos de acção executiva; a maior dos Executivos Camarários do nosso País, têm-nas certamente, mas se uma das prioritárias não passar pela preservação da Cultura, então como vamos atrair investimento sustentado!?. Que iremos contar um dia mais tarde, aos vindouros!?.

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  2. Não correu como o previsto....
    A recriação do cerco de Almeida foi um sucesso, o triplo dos visitantes, os recriadores no seu melhor, foi fantástico!
    Os workshops é que não correram muito bem, principalmente para aqueles que pensaram que iam ter intervenções luminosas e cheias de "saber"...
    Ali os Almeidenses perceberam, com toda a clareza, quem tenta trabalhar com seriedade apesar de muitas vezes esse trabalho ser deturpado e ironizado por quem afinal provou nestes workshops ficar muito além das expectativas criadas na blogosfera...como diria o ditado popular:
    - MUITA PARRA E POUCA UVA!!!

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  3. Visitar Almeida em dias de ainda algum calor e sabor a Verão soube a tempos antigos e autênticos, onde uma vila sabida de importancia histórica, se nos vai revelando e mostrando-se rica e cativante. Ao mesmo tempo vamo-nos apercebendo de facto de uma lacuna ou falha de sentido e direcção, como se se tratasse de uma manta de retalhos, em que querendo aproveitar, todas as ideias ou cores, mesmo sabendo não combinarem, (especialmente no que diz respeito a construções arrepiantemente deslocadas e despropositadas), se vai desvirtuando, quase sem se dar conta do mais original e cativante que têm estes pequenos lugares, na sua originalidade e franqueza. Ao voltar e procurando pesquisar mais um pouco sobre a vila fica a ideia, mais uma vez, dessa atitude que mais ou menos conscientemente acorre nos portugueses possivelmente amedrontados com complexos provincianos, aspectos de autênticidade e originalidade que noutras aldeias e vilas de França e Alemanha,por exemplo, ou mesmo na próxima vizinha Espanha, ao invés do que se observa por esta terra, servem antes de tudo como mais valia e razões de preservação de um património que se pretende histórico. Estará Almeida embuida de uma atitude e isolamento narcisista, ilusoriamente progressista, à medida que na sua construção acaba com as poucas coisas que ainda distinguem e pervalecem, fazem pensar voltar, à medida que se auto destrói e concorre para ser apenas uma vila como tantas outras, sem características e valores autênticos, que façam voltar, olhar, prmanecer!?

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  4. “Não correu como o previsto....
    A recriação do cerco de Almeida foi um sucesso, o triplo dos visitantes, os recriadores no seu melhor, foi fantástico!
    Os workshops é que não correram muito bem, principalmente para aqueles que pensaram que iam ter intervenções luminosas e cheias de "saber"...
    Ali os Almeidenses perceberam, com toda a clareza, quem tenta trabalhar com seriedade apesar de muitas vezes esse trabalho ser deturpado e ironizado por quem afinal provou nestes workshops ficar muito além das expectativas criadas na blogosfera...como diria o ditado popular:
    - MUITA PARRA E POUCA UVA!!!”
    - Ó Tó Soares, mais valia estares calado do que falar do que não sabes!...
    Da recriação que escreves com minúscula, basta estares lá, que já és a maiúscula…

    Quanto aos workshops, sem quereres, fugiu-te a boca para a verdade.
    Realmente, foi como dizes: MUITO ALÉM das expectativas criadas na blogosfera. E o ditado popular também se aplica: provou-se que os almeidenses sabem muito bem distinguir quando há MUITA PARRA E POUCA UVA!!!

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  5. ALMEIDA (vila) está ferida.
    Não me interessa quem é poder, nem tão pouco quem é oposição.
    Interessa-me sim a defesa e preservação da história e do seu património. Que culpa tenho eu de ser um amante dos tempos antigos? Ver o que vi na minha recente visita a esta maravilhosa vila histórica, feriu-me tanto, que ainda hoje o meu coração sangra.
    Não é possível haver gente capaz de atentar contra a história da forma como o têm feito em Almeida.
    É simplesmente intolerante, inadmissível, inaceitável.
    Não são apenas e só os autores dos projectos, são também aqueles que os autorizam a implantar-se. Só me ocorre um único nome para os denominar: analfabetos.
    Haverá gente em Almeida com cultura?
    Haverá gente em Almeida com coragem?
    Haverá gente em Almeida capaz de mudar os rumos dos acontecimentos?
    Tem que haver. É imperioso e urgente.
    Disse que não me interessa quem é poder nem quem é oposição, porque se os primeiros são incompetentes (a prova está no atentado ao património), os segundos são por um lado mancomunados e/ou inconsequentes na posição pública.
    Por vezes não basta falar, é preciso actuar.
    Talvez aos políticos desta região lhes falte o essencial, cultura.
    Não me apetece voltar a Almeida. De certeza que nos tempos (anos) mais próximos não irei.
    Mas ficaria muito contente se soubesse num futuro próximo, que os analfabetos foram corridos ou então responsabilizados pelos atentados feitos.
    Mas todos.

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  6. Porque é que as conclusões dos worshops, não estão por exemplo no sitio da Câmara Municipal de Almeida, na net?.

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  7. Dª Marta Pinho, espero que não me tome a mal citá-la, mas faço-o porque concordo em absoluto com o seu comentário, e em especial com o excerto que cito seguidamente:"Estará Almeida embuida de uma atitude e isolamento narcisista, ilusoriamente progressista, à medida que na sua construção acaba com as poucas coisas que ainda distinguem e pervalecem, fazem pensar voltar, à medida que se auto destrói e concorre para ser apenas uma vila como tantas outras, sem características e valores autênticos, que façam voltar, olhar, prmanecer!?".

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  8. Visitar locais onde a história nos abraça sem que algo seja pedido é uma alegria imensa! Almeida é um local desses onde as muralhas fortes de outros tempos e algumas casas nos oferecem toda uma história que insiste em ficar.
    Todos os visitantes gostam dessa aventura de passear pelas muralhas e ao fim da tarde espreitar o pôr do sol onde um longo horizonte se oferece e onde se respira um ar que cheira a palha seca e onde mesmo que uma brisa corra o tempo parece parado.
    Almeida é especial! Conserva uma calma silenciosa onde os visitantes encontram história que ninguem tem o direito de ferir.
    Nos ultimos tempos Almeida tem sido vítima de verdadeiros maus tratos. A história que tem para nos contar está ameaçada.
    Há muita gente interessada em afirmar um mau gosto e desrespeito pelo património e pelas gentes que vivem neste local e até pelos que a visitam periódicamente.
    Não acreditam?
    Então visitem Almeida e vejam o mau gosto das esculturas desajustadas e despropositadas que junto às tais muralhas gritam por um lugar que nunca terão ali.
    É necessário encontrar alguém com coragem para desmascarar interesses pessoais e familiares e de forma determinada evite a todo o custo que deixe de poder dizer-se ""Alma até Almeida""!

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  9. Sendo eu funcionário da Câmara Municipal de Almeida não era inteligente fazer, aqui neste espaço,um comentário contra o executivo actual pois todos sabemos que sofreria represálias. Assim, só me resta intervir no anonimáto.Peço que compreendam esta minha posição.
    Aliás, esta posição compreende-se melhor quando constatamos as palavras do Senhor Presidente da Câmara no Workshop agora na altura das recriações históricas, palavras que só podem vir de quem não tem espirito democrático, de quem tem imensos tiques ditatoriais, quando diz que quem põe e dispõe é ele, quando diz que quem manda fazer ou desfazer é ele uma vez que ganhou as últimas eleições. Mas, o povo pode ter-se enganado, Senhor Presidente.Mas fique certo que nas próximas eleições já não se vai enganar.

    Termino com dois apêlos:
    Primeiro apelo aos Senhores Arquitectos e outros profissionais envolvidos em todos estes novos MAMARRACHOS nomeadamente o Sr. Arq. Marujo, seu Irmão e até a Empresa de seu Pai, o Sr. Arq. João Campos (de onde apareceu este Senhor que se diz tão iluminado)que se vão embora, que deixem os Almeidenses em paz, que façam estes mamarrachos lá na terra deles e, como afirmou um deles, que sejam lá muito felizes. Deixem-nos em paz o mais urgente possivel.
    Segunda referência é dirigida aos homens de um partido politico que conseguiram o feito de conquistar a Junta de Freguesia de Almeida e que nos habituou a estar atento a agressões do tipo destas agora anunciadas, e dizer-lhes que o silêncio deles é muito estranho e só dá razão a quem se refere à santa aliança PSD-CDU em Almeida.

    Termino pedindo aos meus conterrâneos que se unam, que demonstrem a sua revolta e quem demonstrem que quem manda na nossa casa somos nós.

    Um Almeidense nado, criado, residente e de coração.

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  10. Quem são os Pedantes que querem fazer isto? Porquê?
    Almeida já tem de sobra maus exemplos e de mau gosto. Saliento a Pousada,as neo-Portas medievais e para finalizar o exemplar caixote junto à Câmara.
    Espero que o IGESPAR não esteja a dormir...
    Águia Bonelli

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