23 abril, 2015

Estamos com os cofres cheios


O Estado está com os cofres cheios...e o Povo, pá?



Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos. 
Agora, como em 2003 ou 2004, uma em cada cinco pessoas é pobre. 
Dois milhões de portugueses. 
É este o retrato cru que se retira do inquérito às condições de vida e rendimento, publicado nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). 
Alguns números dizem respeito a 2013, outros já são de 2014. Mas as tendências vão no mesmo sentido. 
A desigualdade na distribuição de rendimentos agrava-se. 
A taxa de privação material cresce. 
Há mais pessoas em risco de exclusão social. 
Mais crianças pobres. 
E quem é pobre está mais longe de deixar de o ser.
Depois de aumentar em 2012 para 18,7% da população, a taxa de risco de pobreza voltou a agravar-se em 2013, passando para 19,5%. E se no início da crise já havia sinais de que as desigualdades e a exclusão estavam a aumentar, hoje, à luz de alguns anos, é “inequívoco” que se inverteu o ciclo de redução da pobreza, diz o investigador Carlos Farinha Rodrigues, especialista em desigualdades, exclusão social e políticas públicas. Em 2004, a taxa de pobreza era de 19,4%, em 2005 de 18,5%, em 2006 de 18,1%. Cinco anos depois, 2011, estava nos 17,9%.

Para o economista e professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Portugal recuou “uma década em termos sociais” e já reverteu os ganhos de diminuição da pobreza que se registou até 2009.

Em 2013, o agravamento da pobreza aconteceu em todos os grupos etários, atingiu com maior impacto as mulheres e foi particularmente significativo entre as crianças. 
O risco de pobreza é de 20% para as mulheres e de 18,9% para os homens. No caso dos menores de 18 anos, a taxa abrange já 25,6% da população, face aos 24,4% de 2012. 
Numa família monoparental, em que um adulto vive com pelo menos uma criança, o risco de pobreza é de 38,4%. Este foi o tipo de agregado em que a situação piorou mais, face a 2012.

O INE tem uma estatística complementar, calculando a linha de pobreza ancorada ao ano de 2009 e fazendo a sua actualização com base na variação dos preços. E aqui o resultado é ainda mais extremado: se em 2009 a taxa de pobreza era de 17,9%, quatro anos depois chega aos 25,9%.
A “forte desigualdade na distribuição dos rendimentos” manteve-se em 2013, conclui ainda o INE. Esse foi o ano em que os portugueses sentiram no bolso o agravamento do IRS, com a diminuição dos escalões e as alterações nas taxas. O Coeficiente de Gini, que numa escala de zero a cem sintetiza a assimetria dessa distribuição de rendimentos, mostra um agravamento deste indicador em 2013.

Quando o valor está mais próximo do zero, há uma maior aproximação entre os rendimentos das pessoas. Quanto mais próximo de cem estiver, mais o rendimento se concentra num menor número de indivíduos. Em 2013, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta diferença estava nos 10,7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011 e 9,4 em 2010).

Entretanto...


O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, mostrou-se hoje "muito preocupado" com a pobreza infantil em Portugal, que se estima atinja um quarto das crianças e jovens, considerando que pode comprometer o desenvolvimento do país.
A pobreza infantil "é uma preocupação acrescida porque tem repercussões para o futuro que pode comprometer um desenvolvimento integrado a médio e longo prazo", disse Eugénio da Fonseca, lembrando que a pobreza infantil "não é um fenómeno isolado".
"Há crianças pobres porque estão em famílias pobres. As crianças ficaram sem meios de subsistência porque os seus pais perderam os postos de trabalho e os recursos financeiros para poder assegurar a subsistência e perderam determinados tipos de proteção social", acrescentou.
 Portugal surge no relatório como o país em que o risco de pobreza e a exclusão social mais cresceu, estimando-se que existam mais de 2,8 milhões de portugueses em risco de pobreza, sendo que destes mais de 640 mil serão crianças e jovens.
"Há dados que são bastante preocupantes e que têm a ver com o facto de ter aumentado a pobreza e a exclusão social relativamente aos anos anteriores em cerca de 2,1 pontos. Suplantamos até a Grécia e isso reflete bastante o aumento da pobreza infantil e o desemprego de longa duração", disse.




O presidente da Caritas Portuguesa sublinhou ainda como negativo o facto de a dívida pública não estar a decrescer e termos atualmente a segunda maior dívida pública da Europa.

"Aquilo que foi o grande desígnio nacional e que levou a tanto sofrimento - a dívida - continua a ter uma expressão altamente preocupante e não diminuiu, pelo contrário, cresceu", sublinhou.


Eugénio da Fonseca responsabilizou o programa de austeridade aplicado a Portugal pelo aumento da pobreza e denunciou o que considera uma grande falta de solidariedade dos parceiros mais próximos da União Europeia.

"Estamos perante uma Europa com países de primeira e segunda e há que rever o espírito que deu origem à Europa. Não podemos estar a ser comandados por dois ou três países com economias fortes", reforçou.

Em Portugal, a despesa no apoio às famílias com filhos foi reduzida em 30% desde que surgiram os principais cortes e um terço dos beneficiários perdeu o acesso às prestações por filhos a cargo.
O responsável da Caritas Europa apelou, por isso, aos governos para que "façam mais investimentos e renunciem às políticas de austeridade".


22  de Abril de 2015 (Lusa)

Entretanto...

A Senhora que é neste momento Ministra das Finanças afirmou que Portugal tem os cofres cheios.
Esqueceu-se de dizer que esse facto nos está a sair bem caro.
Esqueceu-se de dizer que já Salazar disse o mesmo...

João Neves




16 abril, 2015

O direito à indignação ou à sublevação.



Milhares de miúdos vão para as escolas em jejum. O pior é que a propaganda governamental, cega e surda, diz que estamos no bom caminho. O direito à indignação (...) tem de ceder o lugar à sublevação.



Chegou a hora de fazer o balanço e de prestar contas. Que fizeram por Portugal Pedro Passos Coelho e os seus? Que fins desejaram atingir, em nome de quê e de quem? Aquele "vamos empobrecer", formulado logo ao princípio do mandato, possuía um tom lúgubre. E a afirmação de que havíamos gasto mais do que podíamos só poderia ser tomada como brincadeira de mau gosto. Falando por mim, falo por milhões de portugueses, atingidos por uma política insana e, por insana, inexplicável. Ou não tão inexplicável como isso. As peregrinações sistemáticas à Alemanha, a subserviência revoltante à execrável Angela Merkel e o dedo espetado do ministro germânico das Finanças, figura inquietante, forneciam-nos um retrato pouco digno daqueles que haviam trepado ao poder e diziam falar em nome de um povo.

Há qualquer coisa de repugnante em todos estes anos. Passos Coelho vai ficar impune de punição? Qualquer governo, digno desse nome, deseja a felicidade e a prosperidade dos governados. Qualquer um, menos este.

Somos menos e mais desesperados. Cerca de 400 mil saíram do País, pressionados pela ausência de emprego e de trabalho, e sugestionados não só por Passos Coelho como incentivados pelo inconcebível Miguel Relvas, doutor e tudo. A miséria não se quedou nesta depredação humana. O desemprego atingiu faixas nunca antes vistas. Milhares e milhares de pequenas e médias empresas encerraram, como as de restauração, por exagero de impostos. O funcionalismo público foi atingido por uma violência de cortes inimaginável. A educação, a saúde, a segurança social foram estropiadas, dando caminho à ganância privada e à abertura ao lucro desenfreado. Milhares de miúdos vão para as escolas (quando os pais podem) em jejum. O pior é que a propaganda governamental, cega e surda, diz que estamos no bom caminho. O direito à indignação, ante estas torpes mentiras e os crimes de que somos vítimas, tem de ceder o lugar à sublevação.


O Syriza é olhado pelos membros do Governo português como um bando de desenfreados, ignorando as humilhações que a Alemanha tem infligido àquele povo admirável. Tudo isto envolvido numa neblina de condescendências aos grandes interesses económicos. Nada de crítica, nenhum protesto perante este cerco alemão, aliás com a alegre aquiescência do "socialista" François Hollande, que deixou a França de rastos diante do seu inimigo histórico. O homem é um pobre tonto e abriu as portas à nova ascensão da Direita, quase dando o braço à Frente Popular.

Cá por casa, a reconstrução da vida política e social vai ser uma tarefa de envergadura. E receio, receio muito, que o PS de António Costa vacile no momento das grandes decisões. O balanço feito ao Governo não pode ser pior. É o pior de todos aqueles saídos de Abril. E o Dr. Cavaco, feliz e lampeiro, anda por aí a dizer banalidades. Quem nos acode?


 
10 Abril 2015 -  Baptista Bastos