19 setembro, 2012

O preço das ilusões que vendemos.



…em 25-06-2012…


o Cavaquistão apresenta factura do betão ao senhor Aníbal

O excesso de longevidade política tem destas coisas. Dá para ver anos depois, ao vivo, o preço das ilusões que vendemos.

Castro Daire, um pedaço do Cavaquistão de Viseu, epicentro das maiorias absolutas de Cavaco Silva em 1987 e 1991, onde em 2006 e 2011 Cavaco teve percentagens superiores a 70% de votos como candidato presidencial assobiou o seu herói.
Não quer que o tribunal de Castro Daire seja extinto, tal como está previsto na proposta do novo mapa judiciário.
Castro Daire é um excelente protótipo do concelho gastador em obras públicas.
É pobre, tem pouca indústria e poucas empresas produtivas.

O sector mais importante é a construção civil, que vive praticamente das obras que o município adjudica, biblioteca, auditório, piscinas, complexo desportivo, requalificação de ruas, repavimento de estradas etc, etc.
Em 2009, o PS ganhou a Câmara Municipal, com este modelo de desenvolvimento na boca.

Perde população desde há anos mas continua a construir.

Ontem, Cavaco Silva foi inaugurar o Parque Urbano, uma obra que custou quase 1 milhão de euros (no entanto, financiada a 85% pelo FEDER).

É difícil explicar a Castro Daire, e a outros tantos concelhos portugueses que viveram sempre deste modelo de desenvolvimento do cimento, que devem cortar com ele.

Cavaco colhe hoje os ventos que semeou.

O seu grande legado como primeiro-ministro são, no tempo das vacas gordas, as obras públicas, as auto-estradas, os viadutos, o CCB.
Nunca apostou no mar, nunca bateu o pé ao desmantelamento das pescas, da marinha mercante, dos portos, da agricultura.
É ele o grande responsável por esta ilusão de vida no betão que alastrou da administração central para as autarquias precisamente no tempo do cavaquismo.
Sob a capa do pretenso reformador e do tecnocrata rigoroso, Cavaco criou um país inviável.
Tem a agravante de nunca ter emendado a mão.

Em 2000, lançou-se ao monstro da despesa pública de Guterres como mera guerrilha política, sem dizer no concreto onde se devia cortar, no Estado, nas autarquias, nas obras públicas, sem indicar soluções visionárias aos muitos Castro Daire, um novo modelo judicial, extinção de tribunais, um novo modelo administrativo, com modelos assentes na produção e não no betão, o fim das coutadas políticas, num arco de poder local que abrangeu todos os partidos, inclusivé o PCP, o fim das contratações em massa nos municípios, as contratações políticas e as contratações para abafar o desemprego no concelho à custa de mais dinheiros públicos.
A partir de 2007 lançou-se noutra guerrilha a Sócrates, com a necessidade de falar verdade, também sem enunciar soluções concretas.

Ele que nunca teve a coragem de falar preto no branco aos portugueses das questões difíceis, das que ninguém gosta de ouvir.... falou da verdade.
Com ela acabou por nos enganar.
Hoje continua o mesmo.

A troika pede ao governo para extinguir metade das autarquias, porque sabe bem de onde vem parte do despesismo, mas Cavaco mete a cabeça na areia.

Tem medo de dizer o que o povo não quer ouvir, do choque, do divórcio com os portugueses por lhes falar verdade.

No fundo, nunca soube governar em tempos difíceis, que é onde se vêem os verdadeiros governantes...



Expresso – 25/06/2012

P.S. – Qualquer semelhança com a realidade local pode ser pura coincidência…