31 dezembro, 2008

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Feliz Ano de 2009

São os votos dos Autores do

Almeida Forum

05 dezembro, 2008

ENSAIO CONTRA A CEGUEIRA

NOTA PRÉVIA: Ao escrever este artigo, presto homenagem a José Saramago pela inspiração para o título, ao mesmo tempo que rendo tributo à obra deste grande escritor, muitas vezes incompreendido, quando a sua escrita se esforça por transmitir uma profunda preocupação com os desequilíbrios da sociedade humana, na esperança obstinada de que a mesma sociedade identifique e consciencialize a origem dos problemas - para depois fazer algo para os corrigir.

Recordo ainda o impacto negativo que o filme “Blindeness” (inspirado na obra “Ensaio sobre a Cegueira” deste autor) teve nos Estados Unidos, provocando intensa polémica por parte da Federação Nacional de Cegos que, sem o entender, acusou Saramago de retratar os cegos como incapazes e criminosos, bem como a resposta lúcida do escritor ao retorguir calmamente que “a estupidez não escolhe entre cegos e não-cegos”, associando-a a outra bem mais conhecida de todos nós, que “o pior cego é aquele que não quer ver!”


Aviso ainda que o artigo é relativamente extenso. Por isso, quem não gosta de ler ou reflectir com calma, e apenas vem ao blogue à procura de espreitar novidades de Almeida, é preferível desligar já!


***

Por uma questão de lisura com quem nos lê, fiz questão nas primeiras participações de explicar as razões de ruptura com a equipa que actualmente dirige os destinos de Almeida. Podia não o ter feito, mas achei que devia, mesmo sabendo que, de seguida, essa intenção de clareza poderia ser subvertida para explicação de actuação por ressabiamento, problemas não resolvidos e outros desvirtuamentos relacionados. (O que veio a acontecer, embora apenas diminutamente, fazendo jus à perspicácia dos almeidenses!)

Esse é um risco perfeitamente normal para quem se exprime publicamente, mas entendo que o respeito devido às pessoas que procurei empenhadamente motivar e envolver por Almeida, sobretudo as mais cépticas ou as mais renitentes, fosse por prudência ou antigos dissabores, e até as pessoas que testemunharam os sinais desse esforço… mereciam essa explicação. Ainda assim, confesso que a preocupação ficou perfeitamente secundarizada perante a enormidade do ambiente que se vive em Almeida, tristemente lembrando outros tempos de sujeição, perseguição e retaliação que todos agora julgaríamos improváveis.

O favorecimento de apajoadores ou apaniguados tornou-se uma coisa tão comum na sociedade portuguesa que quase ninguém estranha e até acha “legítima”. Já a perseguição às críticas e seus autores, ou mesmo a simples familiares desses, ainda que tenham tentado e esgotado previamente todas as vias do diálogo, deveria merecer de todos os cidadãos livres e esclarecidos a maior repulsa e indignação, no entanto, lamentavelmente, por acomodamento, conivência ou simples cegueira, nem sempre alcançam a gravidade desse atentado à dignidade humana e à democracia!

Bem sei que o aproximar de eleições é propício a esse clima. Sobretudo quando tantas forças são postas em jogo e em que não vencer, pelo menos para alguns, parece hipótese fora de questão. Quanto aos cidadãos comuns, não é tanto por motivos de vitórias partidárias, mas talvez por pacatez, indiferença, sobrevivência e cumplicidade de interesses, que parecem ficar imunes a uma visão e vontade próprias. (E que conveniente que isso é para os que se sentem detentores do poder!...)

No entanto, foi precisamente esse clima de intimidação e cobardia que veio reforçar a anterior convicção de que quem não aceita as prepotências como legítimas… NÃO deve vergar-se!

Por isso, ao contrário do que chega a ser insinuado, aqueles que dão a cara neste blogue pelo seu descontentamento com o rumo que Almeida tomou não são pessoas ressabiadas. Magoadas, sim. Desiludidas, certamente. Porque
apesar de se terem afastado, preferiam ter podido colaborar em acções positivas por Almeida! No entanto, foram forçadas a escolher entre a falta de dignidade ou a voz da sua consciência com cara levantada – e, obviamente, só podiam rejeitar a primeira.

O que não significa é que as razões das críticas assim desapareçam ou que o afastamento passe a significar desinteresse! Daí a manutenção das suas críticas, por coerência com as suas convicções e falta de alternativa perante o autismo e a arrogância instalados!

Nunca me motivou a luta partidária como tal: observo-a, atenta, como forma de discernimento relativamente ao mundo que me rodeia. Tal como muitos portugueses, desilude-me ver os sucessivos governos a culpar o anterior pelas dificuldades e fracassos. Tantas vezes esse filme passou que era tempo de termos aprendido alguma coisa com ele - e exigirmos políticos diferentes, mais competentes e com obrigação de respeitar efectivamente quem os elege e lhes paga o salário.

Em Almeida, terra onde sempre nos interessamos pelos problemas e potencial, emprestando colaboração sempre que possível, nunca me viram ou ouviram a criticar abertamente este ou aquele executivo, ainda que reconhecendo algumas falhas que todos têm e tiveram. Mesmo assistindo, diversas vezes, ao passar de oportunidades, optei por fazer as observações ou reparos directamente junto dos interlocutores responsáveis, sem que nunca fosse molestada ou marginalizada por isso, conseguindo manter sempre os níveis de cordialidade e transparência com todos, sem trair as minhas próprias opiniões ou precisar de fingir-me alheada com o que se passava.

Porque haveria agora de ser de outro modo? Perante os sinais, não estava nas nossas mãos a possibilidade de ocultar as opiniões e alinhar de fachada ou de bandeja como tantas vezes vejo fazer? Decerto que sim.

Então, antes de alguém volte a usar o termo de “bota-abaixo” para este blogue, gostaria de lembrar que ele está aberto a todos os elogios que os participantes queiram fazer também sobre a forma como os destinos de Almeida estão a ser tratados. Se bem que talvez haja pouco que se possa acrescentar aqui à informação que sobeja no Boletim Municipal… ou que o objectivo deste espaço seja mais um espaço de reflexão e de debate do que de informação, cuja função compete a um jornal, muitas vezes com publicidade paga. Aqui, publicam-se opiniões, trocam-se preocupações, partilham-se ideias. E cada um, dentro das restrições de uma comunicação pública, deve ser livre de expressar as suas.

Pela parte que me toca, estou tranquila: fiz os reconhecimentos em tempo e local próprios, quando acreditei na sua justeza; e se agora não os faço, é porque vi desaparecer o chão de credibilidade e prazo de validade para os mesmos.

Quando descobri este blogue, tocou-me a coragem de um homem só e determinado, contra ventos e marés. Antes de decidir intervir, mantive-me atenta ao seu esforço, procurando o despertar de consciências, atitudes cívicas e empenho pela sua terra, aqui e ali apoiado das participações de cidadãos isolados, em crescendo. Decorridos tantos meses de existência deste espaço, reconhecida por muitos o seu interesse, registada a activa participação, não deixa de surpreender, mesmo assim, a opção de negação das evidências, a constatação de ligeireza ou indiferença que continua a verificar-se em espectadores de bancada, para não falar das incondicionais atitudes de servilismo que, sem muitas razões de convicção, mais parecem “cumprir o seu dever”… a ponto de às vezes suscitar dúvidas: SERÁ QUE ALGUMA VEZ ALMEIDA VAI ABRIR OS OLHOS?!

Justamente porque diversas vezes, em privado ou em público, apelei a um envolvimento activo e solidário por Almeida, (sem que passe pela cabeça de muitos a tristeza que é ver as boas ideias e intenções irem pelo cano abaixo), posso afirmar que dei (demos) muitas mais oportunidades que o simples benefício da dúvida como testemunho de boa-fé! Contudo, hoje, deixou de se poder ignorar, e sobretudo calar, o destino que Almeida merecerá… se não quiser ver, ouvir e sentir por todo o lado a vassalagem, a intimidação e o desalento que são mais que flagrantes!

Sejamos lúcidos: há certamente, no meio de tantas coisas más, algumas que são boas. Mas como um participante anteriormente aqui disse, fazer bem é apenas uma obrigação, já que houve voto de confiança e larga margem para isso. De resto, para além de atitudes de pesporrência e falta de respeito pelos concidadãos, já sobejamente evidentes, se problemas havia, muitos mais foram altiva ou inutilmente criados, outros não seriamente abordados, outros agravados e muitos mais apenas iludidos.

Almeida com tantos problemas… não tem alternativas se não quiser vencer desafios para ter oportunidades! Todos nos orgulhamos de Almeida. Mas os almeidenses não podem ficar-se apenas pelo orgulho na sua terra; devem evoluir para motivos de que se orgulhar, unir-se em torno de uma vontade o mais possível comum e determinada, sem marginalizações, sem retaliações, saindo da resignação, do medo, da apatia ou da cobardia.

Todos nós podíamos ficar calados. Podíamos. Até era mais cómodo… e evitavam-se dissabores. No entanto, as razões para estes ou outros dissabores existem de qualquer modo. E se todos nós que podemos fazer qualquer coisa, nos encolhemos a um canto… fazemos um grande jeito para que tudo fique na mesma!

Se é isso que querem… arcarão com a escolha: explicarão um dia a si mesmos ou aos filhos porque a sua terra optou por fazer que se desenvolvia, encostada a promessas de sombra benigna, em vez de se desenvolver efectivamente, contando com o ânimo, a cabeça e os braços dos seus habitantes.

Só que esse jeito, eu não faço. Por isso, modestamente, com o meu teclado, decidi escrever. Contra a cegueira.


- Têm a palavra os Almeidenses!

Maria Clarinda Moreira