Querida Té,
Cumpriu-se, a 28 de Junho de 2009, a vontade dos almeidenses de homenagear a tua memória e agradecer a tua dedicação por esta terra, atribuindo o teu nome à Biblioteca que se acabou de inaugurar.
Não deixou, porém, de ser muito penoso constatar a tua ausência como razão de ouvirmos os testemunhos daqueles que contigo privaram, mostrando bem a amizade e consideração que te tinham... Ouviram-se louvores muito justos, provando completamente que os almeidenses têm memória e não te esquecem!
Fiquei muito feliz por isso, apesar de todos os outros motivos de tristeza: a pessoa que mais gostaríamos de ter entre nós, era a razão porque estavam ali… a falar de ti!
Discreta como eras, tenho a certeza que estando viva entre nós, nunca o permitirias…
No entanto, foi precisamente por não poderes estar… que estiveste, que estás connosco, que fizeste e nos farás companhia, enquanto por cá andarmos. Permanecerás sempre no mais fundo silêncio da nossa saudade e da nossa memória, enquanto o sentir do teu braço nos continuar a acotovelar o tempo todo, enquanto ouvirmos segredar aos nossos ouvidos as tuas confidências de satisfação ou indignação, e no teu piscar de olho maroto, naquele teu inconfundível gesto de cumplicidade. Tu bem sabes do que falo!
Cumpriu-se, a 28 de Junho de 2009, a vontade dos almeidenses de homenagear a tua memória e agradecer a tua dedicação por esta terra, atribuindo o teu nome à Biblioteca que se acabou de inaugurar.
Não deixou, porém, de ser muito penoso constatar a tua ausência como razão de ouvirmos os testemunhos daqueles que contigo privaram, mostrando bem a amizade e consideração que te tinham... Ouviram-se louvores muito justos, provando completamente que os almeidenses têm memória e não te esquecem!
Fiquei muito feliz por isso, apesar de todos os outros motivos de tristeza: a pessoa que mais gostaríamos de ter entre nós, era a razão porque estavam ali… a falar de ti!
Discreta como eras, tenho a certeza que estando viva entre nós, nunca o permitirias…
No entanto, foi precisamente por não poderes estar… que estiveste, que estás connosco, que fizeste e nos farás companhia, enquanto por cá andarmos. Permanecerás sempre no mais fundo silêncio da nossa saudade e da nossa memória, enquanto o sentir do teu braço nos continuar a acotovelar o tempo todo, enquanto ouvirmos segredar aos nossos ouvidos as tuas confidências de satisfação ou indignação, e no teu piscar de olho maroto, naquele teu inconfundível gesto de cumplicidade. Tu bem sabes do que falo!
Por ora, o que posso dizer é que as crianças, os jovens, as mulheres e os homens de Almeida têm um espaço digno de cultura e de fruição, que a todos cabe estimular para que dê frutos e um saber digno do teu exemplo. No ar, paira a tua lição de determinação de lutar por Almeida que deixou um rasto de esperança nesta terra. E rejubilo com muitos almeidenses, agora que posso verificar que apesar de algumas (muito escassas) resistências inicialmente manifestadas, o teu nome e a tua memória perdurarão como exemplo de não desistência e que, por mais manobras subterrâneas ou palacianas que tenham atrasado a confirmação da atribuição do teu nome à Biblioteca Municipal de Almeida, a voz dos almeidenses foi mais forte!
Mas se me podes ler, vais perdoar-me, porque sabes que eu partilho do teu gosto pela verdade e pela justiça, mas não da tua conformação: em nome dos muitos almeidenses que se prontificaram a assinar para que a Biblioteca Municipal permanecesse como o símbolo da tua entrega de muitos anos por Almeida, tenho de lavrar aqui um protesto: esperámos todos calmamente por essa confirmação que interpretámos como uma ponderação para não agravar susceptibilidades, porque o desgosto da tua perda estava demasiado vivo; depois, mais impacientemente, porque não compreendíamos a razão de tanta demora e, por fim, quando se soube que a vontade dos almeidenses seria cumprida, ficou pouco claro o respeito que é tido por essa vontade.
Senão, vejamos: no exterior da Biblioteca, apareceu apenas o nome “BIBLIOTECA MUNICIPAL”. Enquanto as pessoas ansiosas se interrogavam sobre se, quando, porquê não era afixado o teu nome numa placa, apareceu uma pedra a fazer lembrar um livro aberto: seria ali? Não. Era um poema de Miguel Torga. Seria lá dentro? Na inauguração, aguardávamos todos que se descerrassem as bandeiras que cobriam dois vultos na parede: Numa, sob a bandeira do município, surgiu uma placa onde pode ler-se:
Inaugurada pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Municipal, Dr. José da Costa Reis, Sendo Presidente da Câmara, o Prof. António Baptista Ribeiro, Almeida, 28 de Junho de 2009.
Seria agora? Noutra, coberta pela bandeira nacional, surgiu o teu retrato, com o teu nome como legenda: Dra. Maria Natércia Ruivo. Houve aplausos. Mas deixou a interrogação: “Inaugurada”… o quê?
Afinal nem aqui é assumido que a Biblioteca tem o teu nome???
Vai ficar apenas nas faixas acrílicas e nas portas interiores de vidro? No meio de tantos “técnicos sabedores” que mandam actualmente em Almeida, sempre tão publicamente elogiados, não houve nenhum que medisse a desconsideração? Que Executivo sustenta esse tipo de iniciativa? Toda a obra que é inaugurada tem um nome, não é? E porque não aqui? E porque não foi essa proposta, subscrita por uma massiva recolha de assinaturas, discutida e aprovada na Assembleia Municipal, para firmar a vontade dos almeidenses?
Política? Querida Té, decerto perceberias isso melhor do que eu. Eu cá, só daquilo que vejo e sinto. E não gosto de ver políticos a não mostrarem mais respeito pela vontade dos cidadãos. Não me dês outra cotovelada no braço… Já sei que devia ficar calada. Perdoa-me. Que eu perdoo também... Só não me peças para ficar calada. Saturei!
Um abraço de profunda saudade,
Clarinda