19 junho, 2015

Tsunami econômico.



O regresso de Schlieffen


Em 1905, a Alemanha adotou o Plano Schlieffen. 
Dado que a Rússia e a França eram aliadas, para evitar uma guerra em duas frentes, Berlim atacaria primeiro Paris, num golpe fulminante (tentando repetir a vitória rápida de 1870) para se concentrar, depois e com tempo, contra a imensa Rússia. 
Entre 28 de junho e 4 de agosto de 1914, os europeus assistiram ao torneio diplomático que se sucedeu ao atentado de Serajevo. Nas distrações estivais muito poucos perceberam que era a sua sentença de morte que estava a ser traçada nos bastidores diplomáticos. 
A Sérvia estava ainda mais longe em 1914 do que a Grécia em 2015. 
A guerra poderia ter sido evitada? Claro. Bastaria que em vez de aplicar cegamente o Plano Schlieffen o Kaiser Guilherme II tivesse ousado pensar. 
Mas, como disse Keynes, a maioria dos homens prefere errar dentro das regras do que ter sucesso através da coragem de caminhos novos. 
Está a zona euro condenada a implodir? Claro que não. 
Mas, provavelmente, é isso que vai acontecer. 
O novo Plano Schlieffen chama-se Tratado Orçamental e transforma a austeridade em religião. 
A nova rigidez mental está no frívolo ADN de uma união monetária low cost, incapaz de aprender com os seus erros. 
A rigidez está na indiferença moral com os efeitos devastadores da imposição de políticas catastróficas, que se insiste em prolongar. 
Quem espera um milagre acredita que a chanceler Merkel poderá fazer melhor do que Guilherme II. Infelizmente, o colapso da Grécia será, com grande probabilidade, o início tumultuoso do fim do projecto de integração europeia iniciado depois de 1945. Um tsunami económico percorrerá destrutivamente todo o mundo. Como em 1914, ou 1939, também em 2015 o epicentro das ameaças para o equilíbrio e para a paz mundiais está aqui. Na civilizada Europa.

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
*Professor universitário


D.N. - 19/06/2015