16 maio, 2015

Não coma queijo!!



Ideias para comédias



Após ter votado a lei de bases da segurança social, um deputado diz desconhecer as suas obrigações legais para com a segurança social.


Após ter passado anos a dar aulas de catequese, um catequista diz ter ficado com a ideia de que a obediência aos mandamentos era opcional.

Um cidadão passa cinco anos sem descontar para a segurança social. Depois chega a primeiro-ministro e manifesta grande preocupação com a sustentabilidade financeira da segurança social.

Um cidadão passa cinco anos sem tomar banho. Depois fica incomodado quando partilha o elevador com um vizinho que acabou de chegar do ginásio.


Um primeiro-ministro admite que cometeu irregularidades mas justifica-se dizendo que são irregularidades menores do que aquelas que o primeiro-ministro anterior é acusado de ter cometido.

Um aluno falha a entrega dos trabalhos de casa mas justifica-se dizendo que não procedeu tão mal como um aluno que, no ano anterior, tinha roubado a lancheira a outro menino. A professora lembra-lhe que o facto de outros terem cometido infracções maiores não o isenta de uma nota negativa. O aluno, mesmo sendo pequenino, compreende o argumento da professora.

Um primeiro-ministro apercebe-se, em 2012, que deve dinheiro ao Estado, mas acha que é mais oportuno fazer o pagamento apenas no fim do seu mandato, para não criar confusões. Ao mesmo tempo, o seu governo recorre a penhoras automáticas para executar mais rapidamente as dívidas fiscais.

Um verdugo apercebe-se, em 2012, que cometeu um delito parecido com os que são cometidos pelas pessoas que castiga com chibatadas. Passa a dar chibatadas com mais força, para transmitir a ideia de que a sua adesão à prática delituosa não significa que a aprove.

Um primeiro-ministro decide regularizar imediatamente a sua situação fiscal depois de perceber que o jornal Público descobriu aquilo que ele já sabe desde 2012. O ministro da segurança social considera a postura do primeiro-ministro muito digna.


Um criminoso decide confessar um crime cometido dez anos antes, e só depois de terem surgido provas absolutamente claras e indesmentíveis de que o cometeu. O seu advogado considera a postura do cliente muito digna.

Milhares de cidadãos falham o pagamento dos impostos na data estipulada e justificam-se dizendo que o jornal Público não teve a gentileza de os incentivar a saldar a dívida.

Um cidadão acumula dívidas e não recebe a respectiva notificação. O sistema que não o notifica durante cinco anos é o mesmo que não deixa passar cinco dias sem notificar os outros cidadãos devedores. O ministro da segurança social diz que o primeiro-ministro foi vítima de um erro do sistema.

Um cidadão ganha a lotaria. Os seus amigos dizem que foi vítima de um acaso da sorte



RICARDO ARAÚJO PEREIRA – Visão -  12 de Março de 2015





11 maio, 2015

Perceber e amar a diferença





Sou daqueles privilegiados que deu um passo para sair do país antes que o seu primeiro-ministro o aconselhasse a fazer. Sou daqueles que abraçou a palavra emigrante como a opção, carregando o orgulho de ser português noutro(s) país(es). Sou daqueles que tenta valorizar e aplicar no dia a dia os princípios valores e sabedoria que a família me transmitiu. Desde logo o exercício de ‘perceber e amar a diferença’. Um saber genuíno dos ‘simples’ que nos ajuda a ser atentos respeitosos e respeitados.
Vem isto a propósito da recente cobertura feita pelos orgãos de comunicação do meu país sobre as comemorações dos 70 anos da vitória das tropas aliadas na 2ª Grande Guerra Mundial. Todas alinhadas pelo mesma caixa editorial – Putin mostra o seu poderio militar à boa maneira dos tempos da União Soviética e da guerra fria. 
Como sempre a Rússia é o demónio favorito de gente que muito pouco ou nada conhecerá da realidade do país.
Visitei a União Soviética em 1975, em plena era Breznev. Tinha 19 anos e representava o MDP/CDE que integrava a delegação portuguesa no Festival Internacional da Juventude que teve lugar em Baku, Azerbaijão (à altura parte da URSS e hoje estado independente). 
Antes passámos por Moscovo onde fomos recebidos com honras de heróis da liberdade, título que nenhum na comitiva tinha diga-se. O único que assim o podia reclamar era o Adriano Correia de Oliveira, com quem partilhei o quarto ao longo da estadia de 12 dias. 
Com Adriano passei a trazer no coração, a trova do vento que passa. 
Momentos inesquecíveis. Um homem tão grande em tamanho quanto em doçura. Partiu muito cedo.
No encerramento do Festival com ele cantámos a nossa Grândola Vila Morena. 
À Rússia voltei, mais tarde em 1995, já na era Yeltsin. Motivava-me o trabalho e oportunidades de negócio a desenvolver com o país. Desde então, por esta ou aquela razão o destino passou a ser Rússia até inverter os sentidos, isto é, passando a visitar Portugal. 
Assisti à ascensão de Puti (2000) e ao repor do orgulho russo bem como ao ressurgir da Rússia no panorama internacional. 
Da Rússia trago algum conhecimento adquirido. 
Fiz uma aprendizagem que mudou a minha vida. Esta é a realidade. 
Este é o país que jamais me será indiferente.
No mais sincero acto de perceber esta fantástica homenagem aos heróis da 2ª Grande Guerra, estive lá. 


Fui ao epicentro dos festejos junto dos militares que aos milhares desfilaram na Praça Vermelha e do ‘povão’ que expressava o seu obrigado. 
Muitas foram as razões me levaram a dizer estou presente. 

Destaco no entanto duas. O facto de a minha companheira querer homenagear o seu Avô paterno, militar da força aérea morto em combate em 1942 (de lembrar os 27 milhões de russos mortos na guerra equivalendo a 1 morto por cada família de 4 elementos), e pelo significado das comemorações.
As emoções sentidas ontem ficarão como um dos dias mais bonitos que vivi. 
Não vi nem nacionalismo bacoco ou patriotismo de pipocas e coca-cola. 
Vi pessoas agradecidas aos seus mortos e orgulhosas dos seus e da sua história. 
Vi crianças e jovens partilhando a festa. 
Não vi nem senti que por perto houvesse um tal de Estaline, a obrigar as pessoas a serem diferentes.
Se a questão, e voltando à caixa editorial da imprensa portuguesa, reside no facto de as pessoas trazerem a foice e o martelo nas bandeiras, ou as figuras históricas da União Soviética de então, as bandeiras do país, ou até das fotos dos seus mortos, não vejo onde reside o problema. 
Se não gostam, então terão de mudar de ares ou ‘proceder à limpeza’ de S. Petersburgo a Vladivostok de tudo isto que tanto os perturba e incomoda. Digo-vos que terão um trabalho árduo e inacabado. Se a questão é mais primária, de ignorância, traduzido no pensamento pro americano das mentes que os leva a não gostar da Rússia porque não gostam, simplesmente por isso. Não será fashion gostar dos russos. É simples então, a informação não passa de flatulência.
Mas já agora, fiz questão de ler o discurso de Putin para perceber onde se encontram as grandes ameaças ao mundo, bem como, assisti pela televisão à conferência de imprensa conjunta com Merkel, ontem em Moscovo, após colocação das flores no túmulo do soldado desconhecido. 
Das duas intervenções não a identifiquei a ameaça do que fosse. Identifiquei, isso sim, ensinamentos decorrentes do que se tem passado no mundo desde 1945 até hoje. 
Mas se a questão for o poderio militar demonstrado ao mundo e não outro conteúdo terei de acrescentar algo mais à caixa editorial. 

Em armamento militar de todo o tipo os EUA ‘ investem’ por ano mais que a China, Índia e Rússia, juntos. 
A propósito, relembro as duras e incisivas palavras de Álvaro Cunhal, quando numa das suas últimas entrevistas se referiu aos EUA, como o país mais terrorista na história do mundo. Tenho de concordar com ele. A enormidade de golpes de estado, ‘golpinhos’ e ‘golpetas´, o patrocínios de líderes facínoras um pouco por todo o planeta, a ´sponsorização´do extremismo islâmico, a invasão de países pela dita liberdade (deles), os interesses obscuros sobre a capa da democracia de tipo ocidental com assinatura de um modelo a seguir, estão à escolha é para todos os gostos, em catálogo e saldos. 
Deve ter-se a noção do que de 1945 para cá aconteceu no plano internacional. 
Deve-se chamar o nome às coisas.
Se a conclusão, retirada pelos profissionais da comunicação que pululam na malga do poder é, a Rússia tem um exército forte. Estou de acordo. Tem e deve continuar a tê-lo. Não porque entenda que deva seguir o modelo americano mas porque acho que se deve defender dele. É dos livros a intenção dos EUA e NATO em impor um líder amigo um pro americano na Rússia. É o abc da política internacional. Basta ler para perceber o que se passa à volta da fronteira russa. 
Esta americana forma de pensar que todos devemos aceitar os EUA como o bastião da democracia no mundo é parte do golpe. De democracia tem pouco e de conspiração tudo. Assinar um tratado de cooperação com os EUA significa, grosso modo, perda de independência e de pensamento próprio. É o que acontece a todos os denominados aliados dos EUA. É o que tristemente vem acontecendo a esta União Europeia de líderes no ´he’s master voice´ que procuram o melhor retrato com o patrono.
A vida é cheia de exemplos e de simples episódios. 
Vem-me sempre à memória a minha amizade com um cidadão americano que à altura comungava comigo a sua também adaptação à Rússia. O país, as gentes, a barreira da língua, culturas diferentes e tudo mais, levavam Timothy, Tim como o tratava, a vociferar cobras e lagartos sobre este país. 
Um dia, num evento em que juntos participámos, a sua postura era das mais despropositadas e até incómoda, pois estava ‘a jogar fora de casa’ chamando demasiado à atenção. Na minha forma de ser bem humorada, disse-lhe para não ser assim porque Deus o castigava obrigando-o casar como uma cidadã russa. Da gargalhada inicial ao meu comentário ao seu casamento com uma russa, demoraram 3 anos. Hoje divide a vida entre o lá e cá. Feliz como merece e com uma família grande como se orgulha. Satisfeito pela diferença que os juntou. Ao longo do tempo a vida transformou-o. Quando lhe perguntava sobre o que pensava do país, quando veio e agora, respondeu-me de forma objectiva que nenhum americano sabe o que é a Rússia se não viver no país. Bem como o inverso é verdadeiro, sendo extensivo a todos os povos.
Há história cultura e língua diferentes. 
Há riqueza humana feita na diversidade.


Desculpar-me-á o Tio Sam mas o facto de eu não frequentar o Mac Donnalds ou não beber coca-cola não quer dizer que não goste da América e dos americanos.
Não gosto de alguns americanos, de alguns portugueses, de alguns russos, de alguns alemães, e assim por diante. Não confundo a árvore com a floresta.

Podem concluir que gosto da Rússia e até que a defendo. 
Será um facto. 
Talvez porque viva cá e esteja numa realidade bem diferente da ficção jornalística.



Se calhar o meu Tio José Luís Terreiro teve alguma influência quando nos meus 14, 15, 16 anos de idade me levava aos concertos de música clássica de compositores russos, assistir ao bailado russo. 
Terei começado a gostar por aí.

António Sousa




04 maio, 2015

Quem destruiu mais postos de trabalho?



Quem é que cria mais postos de trabalho? O Bloco de Esquerda ou a Remax?

Esta pergunta foi feita por Paulo Portas, quando no Parlamento se explicava sobre os vistos gold, política de que é o principal patrocinador.
Esta frase merece ficar na memória destes anos de lixo, juntamente com o “irrevogável” do mesmo autor, e de algumas outras de Passos Coelho sobre os “piegas” versus os empreendedores, ou o “ir para além da troika”, ou a “austeridade criadora”, ou o fabuloso conceito de “justiça geracional”, ou os saltos no palco do “jovem” comissário do Impulso Jovem que nunca deve ter percebido como é que acabou a sua nobre missão de explicar a inutilidade de saber história ou sequer de estudar. Hoje tudo isto nos parece ridículo e perigoso, uma combinação sinistra,até porque tudo ainda está no activo. 
Vamos um dia olhar para estas frases, com a distanciação possível da história, e perceber melhor o retrato de um período negro da história portuguesa, em que o país foi estragado por uma mistura de ideias erradas e muita incompetência.


Voltando à frase de Portas, um daqueles soundbites de que os jornalistas muito gostam, e que substituem em Portas um pensamento, uma coerência, uma política e uma ética que não seja a sua vanglória e a sua sobrevivência. Podemos construir várias frases exactamente com o mesmo raciocínio que lhe serve de base.

Quem cria mais postos de trabalho? O CDS ou o BE? O CDS, claro, que está no Governo e participa na distribuição dos boys e girls e com muito afinco. Chama-se a “quota” do CDS. Quem cria mais postos de trabalho? O PSD ou o CDS? Terrível problema para o CDS, que só chega ao poder encostado nos votos do PSD e já fez disso modo de vida. A resposta é: o PSD, claro. Quem cria mais postos de trabalho? O CDS ou a Remax? A Remax claro, uma multinacional cujo nome Portas acabou por misturar nestas justificações, fazendo-lhe publicidade gratuita. Que se saiba, Portas ainda não vende casas na Micronésia, onde a Remax actua. Quem tem uma “marca” de maior prestígio e maior valor de mercado? Portas ou a Remax? A Remax, que ainda não é “irrevogável”.
E a pergunta das mais certas que há: quem destruiu mais postos de trabalho? Portas ou o BE? Portas ou a Remax? Resposta: Portas e o CDS. E Sócrates – dirão as vozes? Sim, é verdade, Sócrates, Passos Coelho e Portas estão bem uns para os outros. Repito de novo a pergunta que seria aquela que de imediato lhe faria, se ele a fizesse à minha frente: quem destruiu mais postos de trabalho? Portas ou o BE? Portas ou a Remax?
Aplicada aos vistos gold, a frase de Portas tem um significado unívoco: se dá dinheiro, vale tudo. Todo o resto da argumentação é paisagem – os outros também fazem, o dinheiro entra pela banca em cheque, comprar casas de luxo ajuda à nossa economia, etc., etc. Mas a essência é: se dá dinheiro, pode comprar tudo, mesmo esse intangível valor que é a residência em Portugal e depois a nacionalidade. É este sentido que torna a frase muito simbólica dos nossos dias, em que o “estado de emergência” se faz em primeiro lugar sentir no domínio da ética pública.


 Pacheco Pereira