“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas.
Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto politico, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos.
Política de acaso, política de compadrio, politica de expediente.
País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”
(Eça de Queiroz, 1867 in “O Distrito de Évora”)
Este escrito foi feito por Eça de Queiroz há 140 anos.
Quem o leia atentamente pode perfeitamente afirmar, a “pés juntos”… que foi escrito hoje.
Nada de mais actual podia ser dito…
Quando ouvimos referências aos políticos ou à politica do género de… “são uns mentirosos”… “eu não quero nada com a política” … “é tudo uma uma podridão” ou…“isso são todos iguais…é uma cambada…”, já não é novidade nenhuma, pois penso que a esmagadora maioria dos portugueses já as proferiu, e de certeza que alguns comentários serão ainda mais “apimentados”.
O nosso regime politico é democrático, baseado na representação parlamentar.
A base deste regime são os partidos políticos.
Por sua vez, a estrutura base dos partidos políticos, são os seus militantes.
Até aqui estamos todos de acordo…
E na prática…como será?
Será que os militantes dos nossos partidos têm poder? Será que são, ao menos, respeitados?
Será que os órgãos partidários, representativos dos seus militantes, têm poder ou serão respeitados?
Será que esses mesmos militantes têm influência na eleição dos seus representantes para os altos cargos da Nação e/ou até da sua região?
Não…claro que toda a gente sabe que não!
Não há ética, não há respeito, não há lealdade, não há honestidade…enfim não existe princípios que sirvam de exemplo a quem quer que seja!
Para que servem os militantes partidários? Simplesmente para legitimar as atitudes de outros que estão no poder partidário.
Os militantes dos nossos partidos servem única e exclusivamente para dar cobertura às actuação de quem quer estar no poder e/ou perpetuarem-se nesse mesmo poder. Já nem para as campanhas eleitorais são necessários.
Situemo-nos nas últimas eleições autárquicas de 2005..... por exemplo.
Quem esteja identificado ou atento à vida politica e social no nosso Concelho e concretamente ao PPD/PSD sabe como foi elaborado o processo de escolha da equipe candidata às eleições autárquicas em 2005.
O anterior Presidente da Câmara, pessoa digna, honesta e que merece todo o meu respeito, resolveu à última da hora, já em época de “pré-campanha eleitoral”, que não se iria redandidatar… o que estaria dentro do seu direito.
O que não pode fazer, não deve fazer e não é de forma alguma ético, é:
Não sendo militante do PPD/PSD, ao tomar a posição de não se recandidatar, deliberar que não se candidata mas…vejam bem…apresento-vos o meu substituto e o seu adjunto. E está deliberado e não há discussão!
Nada de mais caricato. É contra os estatutos do PPD/PSD e terá até alguns indícios, parece-me a mim, de autoritarismo…no mínimo!
Não se auscultam os órgãos partidários concelhios – a Comissão Concelhia do PPD/PSD não foi ouvida –, a estrutura Distrital não sabia de nada (palavras da então Presidente da Distrital da Guarda), não se ouvem os militantes, não se quer saber qual a opinião dos militantes de base. Atitude tomada por pessoas que me merecem todo o respeito, mas que não agiram com correcção quando, ainda por cima, nenhum deles era militante do PPD/PSD.
Que trapalhada!!!! E o Senhor Presidente da Concelhia “deixa passar” um situação destas? E a Senhora Presidente da Distrital da Guarda…assobia para o ar?
O que aconteceu foi uma atitude, no mínimo, típica de uma monarquia: ou seja..do género.. meus senhores eu abdico da coroa, mas estes senhores são os meus “herdeiros” directos…e os senhores “comem e calam”.
Em suma não se respeitaram os militantes do partido, passou-se um atestado de incompetência aos militantes...ofendem-se militantes que, por mais humildes que sejam, merecem todo o respeito...não se respeita os principios da democracia! Mas...e será só uma questão de respeito?
Não é assim que se dignifica a politica nem os políticos.
E eu continuo a perguntar…e os militantes servem para quê?
Por existirem este tipo de atitudes, é que os políticos e a politica no nosso País têm a fama que têm.
Quando se conquista o poder desta forma.
Quando sabemos que os votos se conquistam à custa de promessas de emprego, ou de outro género qualquer.
Quando sabemos que a maior preocupação que os nossos dirigentes partidários têm constantemente é… com as próximas eleições. E é logo no dia seguinte à vitória, que se começa a pensar nas próximas eleições. Não se pode perder a competição. Há que ganhar de qualquer forma...
...quando é esta a forma de estar dos "nossos" politicos...que outra opinião estaríamos à espera do povo português?
E a oposição…cumprirá com o seu dever? Estará a desempenhar convenientemente com as funções que o povo lhe conferiu?
Não estará, preguiçosamente, à espera também das próximas eleições?
Que contribuição já deu ou está a dar para que a nossa gente viva melhor?
Não estará o nosso sistema eleitoral viciado?
Termino... afirmando… mais uma vez…que a minha intervenção politica aumenta cada vez mais... mas... no entanto, a minha militância (infelizmente!) vai diminuindo.
Até para a próxima.
Cordiais saudações.
João Neves