31 dezembro, 2013

...2014...





 
 
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
 
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.

A prática da vida tem por única direção a conveniência.

Não há princípio que não seja desmentido.

Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.

Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

Alguns agiotas felizes exploram.

A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.

O povo está na miséria.

Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.

O Estado é considerado na sua acão fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.

Diz-se por toda a parte: o país está perdido!

 
Isto foi escrito em 1871, por Eça de Queiróz



25 dezembro, 2013

Santo Natal.

Para todos quantos passam por este espaço de comentários e opiniões, um Santo e Feliz Natal.

02 dezembro, 2013

Evangelii Gaudium


ou "A Alegria do Evangelho"


"Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança.
 
Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível erradicar a violência.

Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.

Quando a sociedade - local, nacional ou mundial - abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade.

Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz.

Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido - que é a injustiça - tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça.
Se cada ação tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte.

"Mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais.

Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos.
Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa "educação" que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos.

 

Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos veem crescer este cancro social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países - nos seus Governos, empresários e instituições - seja qual for a ideologia política dos governantes."



Francisco

O Papa



 

25 novembro, 2013

Está a acontecer


Está a acontecer.
Aquilo que nem nos passava pela cabeça que pudesse acontecer está mesmo a acontecer. Está a acontecer cada vez com mais regularidade as farmácias não terem os medicamentos de que precisamos.
Está a acontecer que nos hospitais há racionamento de fármacos e uma utilização cada vez mais limitada dos equipamentos.
Está a acontecer que muitos produtos que comprávamos nos supermercados desapareceram e já não se encontram em nenhuma prateleira.
Está a acontecer que a reparação de um carro, que necessita de um farol ou de uma peça, tem agora de esperar uma ou duas semanas porque o material tem de ser importado do exterior.
Está a acontecer que as estradas e as ruas abrem buracos com regularidade, que ou ficam assim durante longos meses ou são reparados de forma atamancada, voltando rapidamente a reabrir.
Está a acontecer que a iluminação pública é mais reduzida, que mais e mais lojas dos centros comerciais são entaipadas e desaparecem misteriosamente.
Está a acontecer que nas livrarias há menos títulos novos e que as lojas de música se volatilizaram completamente.
Está a acontecer que nos bares e restaurantes há agora vagas com fartura, que os cinemas funcionam a meio gás, que os teatros vivem no terror da falta de público.
Está tudo isto a acontecer e nós, como o sapo colocado em água fria que vai aquecendo lentamente até ferver, não vemos o perigo, vamos aceitando resignados este lento mas inexorável definhar da nossa vida coletiva e do Estado social, com uma infinita tristeza e uma funda turbação.
 

Está a acontecer e não poderia ser de outro modo.
Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas.
Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna.
Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal.
E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país.
E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais.
É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia.
E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais.
Um país sem economia é um sítio.
Um país sem cultura não existe.


 


Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qué?”
 
Mutatis mutandis, a mesma pergunta poderíamos fazer hoje: se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê?
Mas esta, claro, é uma questão que nunca se colocará às brilhantes cabeças que nos governam.


Nicolau Santos - Expresso - 8 de Junho de 2013.
 
 
 

27 outubro, 2013

"Vem por aqui"…dizem-me alguns com olhos doces...

 

"Vem por aqui"…dizem-me alguns com olhos doces...
 

Em trinta anos, as Beiras e Trás os Montes podem perder mais de 150 mil habitantes. E se as políticas demográficas não forem alteradas, o interior norte pode perder até quase meio milhão de habitantes, em 2100.
Estudo prevê uma quebra acentuada de habitantes nas regiões das Beiras e Trás os Montes, se as políticas económicas e demográficas não se alterarem.
Cinco regiões portuguesas situadas nas Beiras e Trás-os-Montes terão em 2040 menos cerca de um terço dos habitantes, ou seja, menos 157 mil pessoas do que em 2011. Os dados são do estudo demográfico ‘DEMOSPIN’, a que o semanário Expresso teve acesso e que vai ser apresentado hoje no Fundão.
Em declarações ao jornal, Eduardo Castro, professor da Universidade de Aveiro e coordenador deste estudo que envolveu ainda as universidades de Coimbra e Beira Interior e os Institutos Politécnicos de Castelo Branco e Leiria, refere que “estas regiões estão entre as piores da Europa em termos de declínio demográfico” e “ao contrário do que se pensa, o Alentejo perderá menos população do que o Interior Norte até 2040”.
Entre as cinco regiões, onde encontramos Pinhal Interior Sul, Beira Interior Norte, Trás-os-Montes, Douro e Serra da Estrela, a que está em pior situação é a do Pinhal Interior Sul (Oleiros, Vila de Rei e Proença-a-Nova) que em 2040 terá apenas 26 mil habitantes, face aos 90 mil que tinha em 1950.

“Isto porque se morre nesta região e não há quem nasça. É por isso que as medidas políticas para os casais que ali residam terem mais filhos não surtem efeito: não há quase ninguém com idade para ter filhos”, explica Eduardo Castro, frisando que este ponto é “o mais grave: os menores de 20 anos passarão de 6.000 para 3.500 em 2040”.

Expresso - 26 de Outubro de 2013
 


 
Não será hora dos sinos tocarem a rebate para que o Povo de Almeida acorde de esta estranha forma de letargia?
...e se um dia os CTT - Correios de Portugal encerrarem portas?
...e quando as Finanças de Almeida não as abrirem mais?
...e quando resolverem encerrar também o Tribunal de Almeida?
...e a Escola Secundária Dr. Casimiro Matias também seguir o mesmo caminho?
...e se chegar a vez da Câmara Municipal de Almeida encerrar?
...e se..
...ou serão só delírios...pesadelos...ou disparates?...será...??
...ou seremos só uma parte do "país de bananas governado por sacanas"?
...a ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século... 
...ontem como hoje...o verdadeiro esplendor de Portugal.
 
...não será este o actual estado da Alma de Almeida????
 
...até que chegue ao nosso quintal e...mas já será tarde...
 

João Neves


 

09 outubro, 2013

...e a saga continua...


No âmbito do PREMAC – PLANO DE REDUÇÃO E MELHORIA DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL, os Serviços de Finanças que se preveem encerrar para o Distrito da Guarda, são os seguintes:
Aguiar da Beira
ALMEIDA
Celorico da Beira
Figueira de Castelo Rodrigo
Fornos de Algodres
Manteigas
Meda
Pinhel
Trancoso
Vila Nova de Foz Côa

De 14 Serviços de Finanças existentes no Distrito ficamos com 4 – Guarda, Sabugal, Gouveia e Seia.

É assim que se estanca a desertificação e se desenvolve este interior…????

 
Acabámos de assistir a uma campanha eleitoral e assistimos às promessas habituais de desenvolvimento económico, social, de eventos e demais propostas (habituais).
Assisti a algumas “sessões de esclarecimento” (????) para divulgação de programas eleitorais muito bem encadernados.
Não vi em nenhum desses tais “programas” nem ouvi nenhuma voz que esclarecesse o povo do nosso Concelho do que realmente nos está a acontecer.

Ontem foram os Serviços de Urgência, a serviços da EDP…em breve serão os Serviços de Finanças, os Correios (CTT) de Almeida e/ou Vilar Formoso, entretanto uma das Escolas Secundárias do Agrupamento de Almeida que se vá preparando pois o destino estará também marcado e tudo mais que o processo de centralização dos serviços nos reserva.
Não ouvi ninguém dos nossos entendidos na matéria alertar e informar quais as diligências que seriam feitas para travar o destino que estão a planear para as Terras de Riba-Côa.
Ninguém disse a este povo assustado com o seu futuro, qual será a luta a encetar contra este verdadeiro inimigo.
Ninguém escreveu nada em lado algum informando quais as atitudes a tomar contra quem está a destruir paulatinamente o interior beirão.

Eu vi bandeiras no ar, vivas a torto e a direito, criticas a roçar o insulto, gente entusiasmada com o desenrolar da empreitada ou do jogo, comeretes e beberetes, sorrisos e beijos ao desbarato…mas vi também um vazio de ideias no sentido de  contrariar o que realmente nos deve preocupar a todos:

 a consumação do processo de desertificação das terras de Riba-Côa.

Ninguém teve uma palavra de conforto para um povo alarmado com o seu futuro e o dos seus filhos.


 
Entretanto enquanto os Almeidenses vão…dando milho aos pombos…ou distraídos em defender a honra da Sede deste Concelho (até quando?) contra os maldizentes da nossa terra…a cruzada dos senhores de gravata vai avançando demolidoramente…a saga planeada pelos senhores da cidade grande vai continuando a sua marcha.

Até que o povo acorde…ou será que acordará?...mas…mesmo que acorde, já será tarde…

…entretanto, meus Senhores…vamos continuando a dar milho aos pombos…


 
João Neves


 





20 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 4 (fim de intervenção)



Não, meus senhores, não é ódio. Estas atitudes não me merecem ódio. Somente desprezo e um pouco de indignação, junto com estupefacção por tanta submissão e indiferença. Pensem o que quiserem da minha modesta posição de “andorinha que, sozinha, não faz a Primavera”. Fico tranquila, pois não tenho a veleidade de convencer ninguém; no entanto, sabemos que inevitavelmente a Primavera chegará, pois os ciclos têm isso de bom: giram ao cabo de pequenas ou grandes mudanças. E para a transformação basta um pequeno impulso! Do meu insignificante papel, apenas opto por não me deixar intimidar, antes exprimir uma discordância frontal, já que o que predomina são atitudes de abuso de poder, que fazem com os que aqui vivem temam o jugo no cachaço, ou então o pau com um fueiro para espetar o coiro. Mas assim, nunca irão a lado nenhum! Fora de Almeida, chega-se a apontar-se algumas atrocidades, alguns criticam o que chamam de “parolices”, mas apenas à distância, porque pela frente não dizem nada e, no fundo, ninguém mexe uma palha, porque “é lá com eles, com os almeidenses” – enquanto Almeida desaparece nesta voragem de interesses e cobardias! Se contam com os de fora, estão bem tramados!

Antes de estar nesta AM, decidi escrever num blogue [Fórum Almeida] aquilo que pensava, acreditando que ajudaria outras pessoas a deixar de ter medo. Isso passou-se há mais de quatro anos e, como se aproximavam eleições, qualquer agitação podia fazer perigar a reeleição para manter a situação. Resultado: assisti impotente como muitos ao encenar de todo o aparato de candidatura à Unesco, que resultou naquele fracasso que todos conhecemos. Em Almeida, vi as pessoas idosas a ser levadas na sua boa fé em procissões e romarias a visitar as Casamatas, que depois de se ter gasto um balúrdio para ficarem impermeabilizadas, continuam com infiltrações, como seria de esperar e como técnicos qualificados advertiram, para não falar naquela esplanada ao relento, com um ridículo elevador de monta-pratos que nunca funcionou, como tantas obras feitas em Almeida, que depois ficam para os cardos e vandalizações. 

Vi também fogos-de-artifícios espectaculares como raramente vejo numa grande cidade, de tão dispendiosos que são. Seguiram-se anos de vacas magras, “por causa da crise”, mas ao que parece, em ano de eleições outra vez, a crise já passou, pois torno a ver festa rija, nos vários quadrantes e durante muitos dias. Ano de eleições, pois então! Não lhes tiro o chapéu, pois governar assim não é difícil: como dizia a cantora: “Demagogia, feita à maneira,/ É como queijo numa ratoeira” – e os ratos atracados somo nós…

Aceitei vir para uma AM na condição de falar claro, já que dizem que os blogues não chegam aos olhos das pessoas. Mas aqui também não parecem chegar, nem aos ouvidos. Por isso, não vou continuar. O jogo está montado para continuar neste levanta-braço e siga, vai de roda, está aprovado, mesmo que ladrem, a caravana passa. O povo quer e é enganado com festas e promessas… e de quatro em quatro anos assiste-se ao mesmo. Mesmo que Almeida esteja a agonizar, porque no dia a seguir às festas vai-se tudo embora e Almeida, sede e concelho voltam a ficar desertos e entregues à sua tristíssima sorte, degradando-se dia após dia, sem condições para a população se fixar, depois de tanto dinheiro gasto.

 Sr. Presidente, meus senhores e senhoras, despeço-me, pedindo desculpa pela morosidade da minha intervenção, mas foram quatro anos para meter nestas miseráveis páginas, escrevinhadas, com muita pena de não conseguir acreditar em condições de poder fazer mais por Almeida, terra de antepassados, que ensinámos filhos e amigos a ter sempre no imaginário e no coração, terra onde nos esforçamos, e bastante, por recuperar um tecto para não nos desprendermos das raízes e darmos se possível algum contributo, mas onde agora nem gosto tanto de estar, por tanta desolação e fantochada. 

Estes anos foram uma experiência dura, mas também madura. Por isso, não guardo ressentimento e reconheço até o seu lado de distanciamento e alargamento de perspectiva. Assimilo-o, e continuo seguindo um caminho, que é diferente deste. Não lamento o passado, nem o tempo aqui investido, pois agi sempre em consciência e lisura. A todas as questões referidas, dispenso resposta, pois foram por mais do que uma vez debatidas, e estou certa que esta AM tem coisas mais urgentes para fazer. Já ouvi diversas vezes nas minhas intervenções, que essa é a minha opinião e que fique com ela. Eu fico. Quero apenas despedir-me com um apelo a todos os presentes que façam também um exame à sua própria consciência e abram bem os olhos ao que está na frente do nariz, de forma bem objectiva para tomarem a decisão que acharem certa no momento certo. Bem-hajam!

16 de Setembro de 2013
Maria Clarinda Moreira

19 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 3



Contudo, os poetas autores daquelas palavras ficariam destroçados se soubessem que as suas palavras de liberdade se tornaram ocas e usadas de forma muito hipócrita numa terra que chega a negar o uso da palavra a um membro, eleito pelo povo como seu representante, e por sinal bem tarimbado no serviço à causa pública, precisamente numa cerimónia de evocação do Dia da Liberdade – e isto sem qualquer motivo de força maior, ou até menor. Pura e simplesmente, nega-se e pronto, “sou eu que decido, e eu é que mando” – sendo esta a noção de liberdade que os dirigentes democráticos têm neste município e, suprimindo, se possível, da acta a afronta.

Ou então, como daquela vez em foi mandado evacuar a sala para abafar o escândalo de um livro pago com dinheiros públicos estar a apodrecer numa garagem, quando poderia estar a ser convertido em saldo positivo de contas, só porque tem um agradecimento considerado errado por quem manda, quando lá bastaria colocar uma errata se quisessem corrigir um erro, que não o é, porque o autor designa em espanhol aquilo que vulgarmente no seu idioma considera “coordenadora”, como a pessoa que sempre tratou directamente com ele, com autorização e até indicação expressa do executivo, para que doasse o seu trabalho a Almeida. No entender do executivo, o que antes era digno dos mais rasgados elogios, agora é um erro –  chegando ao desplante de ser afirmado publicamente “enquanto eu for Presidente de Câmara, o livro não será posto à venda, quem vier atrás de mim, faça dele o que quiser” – e assim uma simples página de agradecimento, sincero e honesto, serve de reles argumento para que uma edição explicitamente preparada com todo o carinho para comemorar o Bicentenário das Invasões francesas, e um custo de quase 5.000 €, valor que daria tanto jeito ao menos para reparar uns buracos numa estrada, permaneça inexplicavelmente censurada em pleno século XXI, dito de democracia livre.


Não, meus senhores, não é ódio o que me levou a levantar a voz de protesto. É antes amor por Almeida, que não aceita injustiças deste calibre e sobretudo tão mesquinhas. Em tempos, uma pessoa mais velha, bem traquejada nestas lides políticas que fazem o dia-a-dia do concelho de Almeida disse-me: “O actual Presidente é como um eucalipto. Grande, possante, mas que suga com as suas raízes a água toda das outras árvores - e seca tudo à sua volta”. Essa frase ficou-me gravada e deu-me muito que pensar. De facto! Quase me obriga a pedir desculpa aos almeidenses pela boleia de imagem com que contribuí, dentro e fora, pedindo a todas as portas a que batia que colaborassem com alma por Almeida, porque o presidente em nome do qual falava, tinha condições de fazer um trabalho diferente, sendo ele experiente na gestão autárquica e determinado a imprimir um novo fôlego na dinâmica do concelho. 

Sim, até dá ar disso. Mas quando cai o verniz, cai como se diz, o Carmo e a Trindade em ameaças e vociferações, ai de quem o contrarie, porque logo o cortante “eu não lhe admito” se virá a transformar num extenso relambório justificativo de quem tem o uso e privilégio de antena! Bem sintomática é a sua expressão de marca: a palavra “desafio”, que lança a torto e direito, como quem está sempre em posição defensiva ou de ataque e nunca confiante. A História está carregada de padrões desses, que degeneraram em ditaduras. Não é preciso procurar muito para saber que o poder transforma aqueles a quem sobe à cabeça, procurando espezinhar quem se atreva a contestá-las, dando abrigo a descaradas assumpções de que “nos milheirais comem os pardais” – quem quiser, é assim, senão que se lixe!
 
(Continua...)

18 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 2



Para quem não sabe, a ideia da Recriação Histórica do Cerco de Almeida, que agora enche os écrans do país, mas serve também de mera propaganda interna, nasceu na nossa casa, longe de qualquer ribalta, ou desejo dela, num dos muitos serões de entusiasmo e saudades do potencial que sonhávamos para esta terra; estamos, deveras satisfeitos pelo êxito da ideia, embora isso não signifique pela sua forma de concretização, e observamos todos os anos o seu crescimento, sorrindo da distância que separa a apresentação da proposta ao edil de então, e o mesmo de agora, que recordo ainda argumentou “e quem é que veste as fardas?”, tendo eu respondido alegremente “tenho lá três soldados em casa, mais colegas de faculdade dos filhos… mas o importante é que se envolva as pessoas daqui” – o que foi conseguido sem qualquer dificuldade, vencidas as primeiras resistências.

Recordo esse facto para sublinhar que, após o decisivo impulso de arranque, fomos nós que nos quisemos afastar – e não o contrário, e não por despeito ou frustração de interesses particulares, como foi propalado, mas apenas porque “quem não se sente não é filho de boa gente”:  neste mesmo salão nobre, sem qualquer atitude reparadora, calmamente aguardada durante meses, fomos publicamente insultados por um consultor contratado, o arq. João Campos, a propósito da sua intempestiva defesa do mamarracho aqui defronte, de que agora todos parecem esquecidos, chegando a qualificá-lo de “jóia, bijou e preciosidade”. Hoje, após uma frustrada tentativa de perseguição judicial que nos visava silenciar, e a que vergonhosamente o executivo prestou colaboração, permanece o mesmo técnico como o responsável de quase todas intervenções e outras bizarrias arquitectónicas que o município tem subscrito e pago, ao que parece, sem pestanejar, com o argumento que são obras comparticipadas – ignorando que a comparticipação e não comparticipação somos sempre nós, contribuintes, que pagamos, com os pesados impostos a que estamos cada vez mais sujeitos pelo estado a que o país chegou, com obras inúteis, fora interesses em torno delas. 

Sentimo-nos aliviados pela nossa atempada decisão de afastamento, porque assim não temos o rabo trilhado. O povo murmura para aí que tanta floresta de candeeiros e tanta obra em granito e outras pedras que não da região, em paletes amontoadas e usadas, às toneladas e por quilómetros, servem para cumprir projectos desenhados pelos próprios interessados, com empresas de familiares ou amigos a lucrarem, em troca de apoio político… mas eu não sei, parece que ninguém sabe, ou faz que não sabe, porque se fosse assim chamar-se-ia corrupção ou máfia, que é o nome que se dá quando uns poucos beneficiam em prejuízo de muitos… mas o que é certo é que esse tipo de obras e projectos proliferam como cogumelos e, quanto mais não seja, só por si são já na maioria das vezes profundamente lesivas, pela destruição da autenticidade histórica, que é um bem colectivo que todos temos a obrigação de legar às gerações próximas, e não esta vulgarização de vilas e aldeias antigas que desatam a imitar os aglomerados do litoral, com direito a programas de televisão, pagos a peso de ouro, a impingir a ideia de que este é o rumo certo, basta meter os pés na água para tirar o cheiro a chulé, e aqueles poemas enaltecendo a liberdade a testemunhar que tudo vai às mil maravilhas…

(continua)