Poderá parecer aos menos avisados munícipes que a defesa do património histórico na sede do município em Almeida ou no concelho é uma questão em que pouco mais há a dizer. Aliás, poderão até outros habitantes do concelho interrogar-se sobre a veemência com que neste blogue se tem abordado este tema, já que essa questão não afecta a sua própria aldeia ou vila e, portanto, até possam “estar-

se nas tintas” para o que se passa na sua sede…
Mas não parece que seja assim: já por várias vezes, em participações escritas, tentei transmitir a importância que o património histórico, natural, cinegético e ecológico tem para o concelho. Penso mesmo que é nele que reside a grande parte da sua possibilidade de sobrevivência económica e social, já que a estagnação económica e social das regiões do interior resulta da sua desertificação humana e do facto de as pessoas partirem para onde exista trabalho que lhes possa proporcionar melhor qualidade de vida.
E que potencialidades tem o concelho de modo a travar ou mesmo inverter essa desertificação? Qual a receita que poderá, pelo menos parcialmente, estancar este abandono constante dos residentes que se tem vindo a acentuar?
Activar a economia, investindo na agricultura, na indústria transformadora, no comércio?
Hoje em dia, e ainda mais com os efeitos de globalização, parece não haver dúvidas sobre as hipóteses de se encontrar nestas três áreas de actividade a possibilidade de serem muito mais dinamizadas, a ponto de inverter esta tendência das populações, sobretudo os jovens, de se deslocarem para as cidades.

Vejamos: a agricultura, no nosso concelho, não tem as condições geológicas dos solos ou climatéricas ideais para concorrer com outras regiões, tanto nacionais como comunitárias, no tipo de culturas tradicionais nem de outras, agora de produção em massa. Portanto, a agricultura aqui pode ter alguns nichos de produção restrita, nomeadamente a pecuária e silvicultura, mas pouco mais; a indústria, além da falta de pessoas, tem carência de pessoal qualificado. Uma grande fábrica não pode ser no nosso concelho implantada, pois se inicialmente até seria encarada como uma mais-valia, perspectivando-se como entidade empregadora de uma grande fatia da população activa, imagine-se o desastre social que seria, caso encerrasse… (lembremo-nos dos exemplos da Montebelo em Almeida e da Rhode em Pinhel que provocou um grande abalo social, com centenas de pessoas desempregadas que não tiveram na sua maioria alternativa de mudar para outro emprego). Assim, a hipótese mais viável seria procurar dinamizar pequenas ou médias indústrias e incentivar especificamente as ligadas à produção tradicional local, o que pode bem ser um objectivo por quem tem responsabilidades políticas…
Quanto ao comércio, em todo o concelho, como se sabe, o centro mais marcante desta actividade está na fronteira de Vilar Formoso, que também já viu melhores dias, caracterizado não só pelo movimento rodoviário e pela atracção das gentes de Espanha aos seus mercados e estabelecimentos… mas hoje a carecer de outras estratégias, que seria muito importante repensar!

- Qual é, então, a área mais agregadora de esforços em que se deverá apostar para que haja alguma dinamização e possa ser o volte-face da situação actual, resultando na criação de condições de fixação de alguma população?
Todos os analistas que se têm debruçado sobre esta problemática parecem unânimes em privilegiarem o turismo como a aposta mais forte, a pedra de toque para melhorar o nível económico das populações, motivando-as a fixar-se localmente, evitando a sua contínua fuga para o litoral ou para o estrangeiro.
Ora, para haver turismo tem que haver visitantes. E a estes o que os atrai para se deslocarem e permanecerem em Almeida e no seu concelho? Naturalmente aquilo que possui como autêntico, e deve ser preservado, bem como outras valências que possam ser criadas ou melhor aproveitadas e lhe são complementares. O que possuímos em todo o concelho é um conjunto diversificado do património

que pode constituir uma rede de pontos de atracção únicos e genuínos para os visitantes.
E nele incluído, a vertente do património histórico-natural que ressalta por várias freguesias no concelho, com um expoente na sede do município, onde está implantada uma fortaleza, relativamente bem conservada que, pela sua grandiosidade e tipo de construção, a todos surpreende e, pela sua identidade e harmonia arquitectónica, é uma mais-valia histórica invulgar que atrai visitantes, os quais poderão despender algum dinheiro se houver em que o gastar, ou permanecer na região, simplesmente em lazer, a rever memórias ou a descansar do bulício das cidades. E naturalmente procurarão bens que sejam os mais típicos da região ou relacionados com a sua história e tradição, pois não irão adquirir algo que normalmente têm em qualquer loja ou sítio junto das suas residências habituais. E como visitar também abre o apetite ao forasteiro, este mais facilmente ficará seduzido por sabores e receitas tradicionais se existirem locais, inclusive espalhados pelas outras freguesias, bem divulgados, onde se possa bem comer, se se mantiver a qualidade naquilo que apresentam…
Mas o visitante só vem a Almeida, permanece, recomenda a amigos, regressa novamente e aqui gasta dinheiro, se se sentir atraído por algo que valha a pena ver ou usufruir, como lugar único pelas suas características.
... E alguém de bom senso acredita que esse mesmo visitante aprecia a vulgaridade de acrescentos e mamarrachadas nos espaços históricos da vila de Almeida e nos núcleos histórico-naturais de algumas das suas

freguesias, que só os descaracterizam?!!!
No entanto, esta vaga delapidadora de um património cultural diferente, praticamente único meio capaz de gerar algum benefício, portanto, de ajudar a fixar pessoas, espalhou já efeitos perversos e ao que parece com muita vontade de continuar. Sem pensar que com ela desaparecem o ambiente e o encanto genuíno que Almeida conheceu e ainda possui! E que vulgarizando ou desfeando qualquer pedaço de história e cultura se está a destruir não só algo magnífico como também economicamente produtivo…
Para que é que Almeida necessita de pirâmides de vidro sobre portas

abaluartadas, edifícios modernaços na sua praça de visitas, pórticos com azulejos geometricamente dispostos e outros arremedos de obras de arte? Que mais-valia terá para o Centro Histórico a construção de um edifico no ponto mais elevado da vila, visível, recortando o horizonte, contrastando pela sua forma e modernidade junto das vetustas ruínas do que foi um grandioso castelo medieval, ao lado do antigo cemitério?
Em que vai valorizar Almeida um monumento ao 25 de Abril que, pela sua dimensão de implante e contraste, com todo o aparelho de granitos e repuxos, ofusca a monumentalidade da entrada da própria fortaleza e reduz a imponência das suas Portas a um vulgar acesso de qualquer vila ou cidade?
Se há que ordenar o trânsito, se há que precaver acidentes junto ao jardim da pérgola, se existe um desejo de um monumento ao 25 de Abril, será que a melhor solução é atravancar todo o acesso a uma fortaleza histórica… com granitos, tanques e esguichos, numa zona que sempre lutou com falta de água?

Como nos disse um amigo que recentemente visitou Almeida, e agora acompanha todos estes projectos com apreensão pelo efeito perverso que já conheceu de outros lugares, todas estas obras não passam de “arquitetontices”… Mas pior ainda, são desperdiçadoras de verbas que poderiam ser canalizadas para a manutenção e restauros efectivamente valorizadores, tanto do Monumento como de outros lugares de interesse do concelho!
Quando é que os Almeidenses se darão conta destes desvarios e dirão: “BASTA!”???
- O Monumento é nacional, mas nós que aqui vivemos ou lhe estamos intimamente ligados por gerações, devemos ser ouvidos sobre o que nele querem fazer! De outro modo, Almeida e seu concelho, por onde se fizerem intervenções destas, irremediavelmente e cada vez mais, se irá a todos os níveis empobrecendo, em vez de se valorizar. E nós também seremos considerados responsáveis por não pedirmos contas a quem assim (tão mal) decide.
Rui Brito da Fonseca