24 abril, 2008

25 DE ABRIL DE 1974 - DIA DA LIBERDADE




25 de Abril de 1974







Nesta data, nunca é demais recordar este homem...O Capitão de Abril.

O Homem que me ensinou com o seu exemplo de vida, os caminhos da liberdade e o significado de ser um homem livre.

Até um dia...Capitão!



SALGUEIRO MAIA


Militar, capitão de Abril: 1944-1992




RUMO AO CARMO

Antes do meio-dia, pelo posto de comando, Salgueiro Maia é informado de que Marcelo Caetano está no Carmo. Deixando forças a guardar os ministérios, avança para lá. Quando entra no Rossio, aparece-lhe pela frente uma coluna militar com uma companhia de atiradores que o Governo enviara para fazer frente aos revoltosos. O Capitão salta do seu jipe e vai perguntar ao comandante da coluna o que está ali a fazer. É-lhe respondido que tem ordens para o prender, mas que está com a Revolução. E também esta coluna é integrada nas forças que avançam para o Carmo.

As edições especiais dos jornais começam a circular. O Rossio, a Rua do Carmo, todo o percurso, está cheio de populares que vitoriam os soldados. Os cravos vermelhos começam a ser enfiados nos canos das G-3. É cerca de 12,30. Diz o capitão: «No Carmo, ao chegar houve desde senhoras a abrir portas e janelas para colocar os homens nas posições dominantes sobre o Quartel, até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. O ambiente que lá se viveu não tem descrição, pois foi de tal maneira belo que depois dele nada de mais digno pode acontecer na vida de uma pessoa».


Após a intimação para que a guarnição se renda e entregue Marcelo Caetano, não sendo obedecido, Maia recebe ordem do posto de comando para abrir fogo sobre o edifício.


Porém, ele sabe que as granadas explosivas das autometralhadoras num largo apinhado de gente irão provocar centenas de mortes.

Manda disparar armas automáticas para a parte superior do Quartel .

Entra uma primeira vez dentro do edifício, mas não consegue a rendição. Entra uma segunda vez e exige falar com o Presidente do Conselho. Numa antecâmara, Rui Patrício chora como uma criança e Moreira Baptista olha, ausente, o infinito. Deixemos que ele nos descreva o seu diálogo com Marcelo Caetano:
«Marcelo estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno.
Fiz-lhe a continência da praxe e disse-lhe que queria a rendição formal e imediata. Declarou-me já se ter rendido ao Sr. General Spínola, pelo telefone, e só aguardava a chegada deste para lhe transferir o Poder, para que o mesmo não caísse na rua! Estive para lhe dizer que estava lá fora o Poder no povo e que este estava na rua. Declarou esperar que o tratassem com a dignidade com que sempre tinha vivido e perguntou o que ia ser feito dele. Declarei que certamente seria tratado com dignidade, mas não sabia para onde iria, pois isso não me competia a mim decidir. Perguntou a quem competia. Declarei que a «Óscar». Perguntou quem era «Óscar». Declarei ser a Comissão Coordenadora. Perguntou-me quem eram os chefes. Declarei serem vários oficiais, incluindo alguns generais, isto para que ele não ficasse mal impressionado por a Revolução ser feita essencialmente por capitães.


Perguntou-me ainda o que ia ser feito do Ultramar. Declarei-lhe que a solução para a guerra seria obtida por conversações. Toda esta conversa, tida a sós, teve por fundo o barulho do povo a cantar o Hino Nacional e o Está na hora».

Depois, pouco antes das 18.00, chega Spínola, que embora tenha dito a Marcelo nada ter a ver com o Movimento, rapidamente assume ares de «dono da guerra», no dizer de Salgueiro Maia.



Às 19,30, Marcelo, Moreira Baptista e Rui Patrício entram numa viatura blindada que encostou a traseira à porta de armas do Quartel. Na confusão que se estabelece, com a multidão a gritar «assassinos!», e com os militares a proteger os homens do regime da ira popular, Henrique Tenreiro que deveria também seguir preso no transporte blindado, mistura-se com os populares e escapa-se, gozando mais umas horas de liberdade.



Após a rendição de Marcelo Caetano e a sua saída do Quartel, pode dizer-se que a Revolução estava ganha, embora, ali perto, na Rua António Maria Cardoso, os agentes da PIDE, encurralados como feras dentro da sua sede, disparassem das janelas, matando cinco pessoas
As únicas mortes verificadas durante o 25 de Abril.

A noite iria ser longa.
Muita coisa iria passar-se até que nos ecrãs da televisão os Portugueses tivessem ocasião de ver a Junta de Salvação Nacional, com uns senhores empertigados, com um vago ar de golpistas sul-americanos, viessem, armados em «donos da guerra», ditar as leis de uma Revolução para a qual nada tinham contribuído, deixando na sombra os jovens oficiais que, como Salgueiro Maia, tudo tinham feito, que tudo tinham arriscado.




E DEPOIS, O ADEUS

Naquele dia do princípio de Abril de 1992, no cemitério de Castelo de Vide, quatro presidentes da República (António de Spínola, Costa Gomes, Ramalho Eanes e Mário Soares), vêem descer à terra num modesto caixão o corpo de um dos homens que mais contribuiu para que tivessem podido ascender à mais alta magistratura da Nação.


No dia 4, Fernando Salgueiro Maia fora vencido pela doença.


«O gajo ganhou», dissera ele a um oficial da EPC, referindo-se ao cancro quando se convenceu do carácter terminal da sua doença.

Quem é este homem, vencedor de batalhas, de revoluções, que agora desce à terra, em campa rasa, ao som do «Grândola, Vila Morena»?

Nasce ali, em Castelo de Vide, em 1 de Julho de 1944. Muito novo, fica órfão de mãe. Faz os estudos primários em São Torcato, Coruche, e os secundários no Colégio Nun'Álvares de Tomar e no Liceu Nacional de Leiria. Em 1964, ingressa na Academia Militar.
«Filho de uma família de ferroviários, é a situação de guerra nas colónias que me permite o acesso à Academia Militar, pois o conflito fez perder as vocações habituais, e assim a instituição foi obrigada a abrir as suas portas», diz-nos ele em «Capitão de Abril».

Dois anos depois, apresenta-se na Escola Prática de Cavalaria.

Depois, a guerra.

Porém, tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se.


Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder.

SALGUEIRO MAIA,

é o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.



E quase tudo terá ficado dito.





Joao Neves
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Nota: Este texto foi elaborado com base em diversos depoimentos de intervenientes no 25 de Abril. Entre estes destacamos o livro de Salgueiro Maia «Capitão de Abril», editado pela Editorial de Notícias e a 4ª edição de «Alvorada em Abril», de Otelo Saraiva de Carvalho, também da mesma editora.

3 comentários:

  1. "Eu sou como a garça triste
    "Que mora à beira do rio,
    "As orvalhadas da noite
    "Me fazem tremer de frio.

    "Me fazem tremer de frio
    "Como os juncos da lagoa;
    "Feliz da araponga errante
    "Que é livre, que livre voa.

    "Que é livre, que livre voa
    "Para as bandas do seu ninho,
    "E nas braúnas à tarde
    "Canta longe do caminho.

    "Canta longe do caminho.
    "Por onde o vaqueiro trilha,
    "Se quer descansar as asas
    "Tem a palmeira, a baunilha.

    "Tem a palmeira, a baunilha,
    "Tem o brejo, a lavadeira,
    "Tem as campinas, as flores,
    "Tem a relva, a trepadeira,

    "Tem a relva, a trepadeira,
    "Todas têm os seus amores,
    "Eu não tenho mãe nem filhos,
    "Nem irmão, nem lar, nem flores" CASTRO ALVES

    V.A.A.

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  2. Por onde andar, que o sr. Cap. Fernando José Salgueiro Maia, com o qual "tive de estar" em Santarém na extinta Escola Prática de Cavalaria, vai as minhas desculpas pelo atraso na sua lembrança no papel preponderante que ele teve no culminar vitorioso e sem derramamento de sangue, do 25 de Abril de 1974 - Dia da Liberdade.
    Oficial exigente (perante si, e para os outros), companheiro, mas essencialmente sempre uma pessoa de bom senso, e decisões acertadas.
    Sempre deu gosto estar a seu lado. Recordá-lo é um imperativo.
    MENS AGITAT MOLEM.

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  3. ta fixe mas podia-se resumir mais um pouco ok mas ta maravilhoso XD:(

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