Afinal Eles também lêem blogues. É claro que sim! Blogues e críticas impressas. E se mais houvesse, há mais tempo, “Eles” teriam andado de outro jeito… Porque é a contar com a apatia e indiferença dos almeidenses que as coisas chegaram a este ponto!
Se dúvidas havia (para nós, nenhuma!), este ano, o extenso Programa da Recriação do “Cerco” de Almeida com respectivo Seminário, Programa de Inauguração das Casamatas, apresentação pública do Dossier de Candidatura das Fortificações de Almeida a Património Mundial e 2º Simpósio de Artes em Almeida constituiu uma extraordinária oportunidade de constatar isso mesmo.

Aí voltaremos, aos poucos, porque a dose é forte e não vamos ser indigestos. Os almeidenses, pouco unidos mas causticados, habituaram-se a ver neste blogue aquilo que tem a preocupação de ser: um Fórum onde, a par de alguns factos relevantes sobre Almeida, os intervenientes se reservam o direito de exprimir as suas opiniões, sem sequer terem a pretensão de reivindicar a razão toda. Sublinho: apenas o direito de exprimirem as suas opiniões!

E isto, com consciência de que falar publicamente responsabiliza os autores pela veracidade do que publicam, não só porque subscrevem o que dizem, mas sobretudo porque estão sempre sujeitos ao contraditório, exigindo simplesmente não serem perseguidos e desfeiteados por velhacarias e distorções de toda a espécie!
No momento em que publiquei o último artigo, aludi a esse clima em Almeida, carregado de penosidade num esforço de manter a sujeição e compadrio a todo o custo e por todos os meios. Só que agora, e como era de prever, tudo indica que cada vez mais os lobos vão pondo farinha nas patas para se simularem de cordeiros, já sem recorrer aos berros, mas a imperceptíveis olhares e ordens segredadas, sempre a farejar sinais de “polémica” para prontamente reagirem ao mínimo sinal de alerta. Afinal sempre serve de alguma coisa seguir os blogues…

Faz precisamente agora um ano que dei início a uma colaboração escrita neste Fórum, como é óbvio, não sem logo também sofrer retaliações por isso. Mas o contraste entre o que agora podemos observar e a arrogância do que então me levou então à decisão de começar aqui a participar também, a par de outros autores, não podia ser mais flagrante!
Vigorava, na altura, o “quero posso e mando” cuja gota de água foi uma série de propostas de intervenção no centro histórico de Almeida (por ora, como é óbvio, quietinhas na gaveta…) com um Presidente da edilidade a bradar aos microfones que
“Quem manda aqui sou eu. Eu fui eleito pelos almeidenses, estou legalmente mandatado para decidir. Nem que seja pela diferença de um voto, quem decide sou eu, e por isso, bem ou mal eu decido”. Todos os presentes ouviram, contestaram, ao vivo ou neste Fórum, disseram o que lhes ia na alma. Era esse o objectivo. E continua a ser! Por assim ser é que nestes quase quatro anos não foram poucos os desiludidos a exprimir a sua decepção, e por muito que se tente apagar isso, é tarde demais! Esses e outros sentimentos estão patentes relendo o que está para trás e continua publicado neste blogue desde a sua existência, favorável ou desfavorável a quem quer que seja.
Porém, subitamente, com o aproximar de um período de eleições, sobretudo após tantos deslizes públicos do género vivamente criticados, e possivelmente com aconselhamento de outro aviso à navegação, vale a pena observar a quase perfeita operação de cosmética que o mesmo orador assim tão “omnipotente”, de repente, sofreu. Não só Ele (com a maiúscula reivindicada num cartaz) como Eles (com maiúscula também, apesar de omissos no mesmo cartaz) pelos nós fundamentais na teia que tecem juntos a “cuidar” de Almeida.

Agora, como puderam constatar os presentes, já não batem o pé. Quando usam o microfone, fazem-no com uma voz controlada e quase delicada, medindo palavra a palavra, expressão pausada, crescendo, crescendo, insuflando-se… e só perto mesmo do fim dos discursos, elogiando-se e cumprimentando-se todos uns aos outros, em fileiras cerradas, tudo culmina numa espécie de apoteose final, mandada ao ar, desafiando os aplausos da assistência. De néscios não têm nada: decidiram trilhar um caminho diferente e, desta vez,
vade retro com propostas de projectos desenquadrados. Sentindo tremer o chão em tempo de eleições, toca de agradar à população “oferecendo-lhes” o que mais lhes possa agradar: inaugurações, festas, simpatia, oferta de serviços, assinatura de protocolos e, ao que se sabe, até algum apaziguamento de estômagos mais esfaimados.

Aparentemente exultantes com a estratégia, abraçam-se, felicitam-se e sorriem. Tudo parece perfeito. E à primeira vista, sobretudo para os distraídos, até é: alguns olhares chegam mesmo a brilhar de triunfo, não faltam as expressões de regozijo, as luzes feéricas refulgem por todos os lados… e só uma sombra de tristeza, aqui e ali, denuncia a existência de grades na gaiola dourada!

No meio de tanta agitação, ainda há alguém a apelar à “colaboração de todos”, apesar de outros obviamente preferirem continuar a deixar o ferrão. Nem seria de esperar outra coisa. Está na índole. É por isso que por muito que disfarcem, nada é consistente, nada consegue colar os cacos espalhados pelo chão. Quem é que não se recorda do refrão irreverente da canção: “Demagogia, feita à maneira… é como queijo numa ratoeira!”?
Maria Clarinda Moreira