(O mesmo continua acessível neste blogue, bastando clicar na Etiqueta abaixo – “Dia dos Municípios com Centro Histórico”, no final deste artigo).
Decorrido este período de tempo, as questões de fundo são as mesmas. No entanto, a propósito deste mesmo Dia, verificaram-se duas mudanças dignas de menção: a primeira, é que, muito possivelmente estimuladas pelos reparos, ou quem sabe porque cada vez mais todos os momentos são importantes para se mostrar dinamismo, as autoridades concelhias, este ano, não se esqueceram de assinalar a data. Sobre isso, Almeida pode regozijar-se: os reparos, ainda que transmitidos pela única via aberta, como um simples blogue, que restou aos almeidenses para comunicar com as autoridades locais, parecem afinal ir surtindo algum efeito, apesar também de alguma natural crispação, por variados motivos que sempre envolvem estas situações.
A segunda mudança, relacionada com a primeira, é que desta vez é apresentado um programa de Jornadas do Instituto de História de Arte de Coimbra, recheado de iniciativas:
Dia 27, 12.00 horas - Percurso guiado (não diz por quem, mas se o Instituto de História de Arte é o convidado, presumivelmente será conduzido nessa visita…);
Dia 28, 9.00 horas – O Baluarte de S. João de Deus - Visita ao estaleiro.
Bem a propósito: o estaleiro das casamatas. A polémica intervenção que tanta tinta fez correr e originou um debate acesso, inclusive em sessão pública, por sua vez muito agitada já em 2006, esta com a presença do Executivo, do Coronel Eng. Sousa Lobo (defendendo a necessidade de um estudo mais aprofundado antes de qualquer intervenção radical), dos Arq. João Campos e Arq. João Marujo (defendendo o contrário), bem como do Arq. José Afonso, então Director Regional do IPPAR, (o qual viria a assumir uma forte oposição ao projecto das casamatas), além de outros. De toda aquela estrondosa diatribe, a que também concorreu o protesto da oposição política, resultaria uma obra da autoria do Arq. João Campos, publicada pela CMA nesse mesmo ano, com a sua proposta para intervenção nas casamatas, posteriormente alterada. Recordo o destaque: “com prefácio do Prof. Doutor Pedro Dias”.
E recordo-o, porque nessa altura, mesmo a colaborar com a CMA, fui surpreendida pela decisão de inclusão dessa informação relativa a um prefácio para um cartaz, facto que transmiti tanto ao Executivo como a quem o concebeu (imagem abaixo), o qual foi ainda exactamente transposto para os outdoors de divulgação do Programa da 2ª Recriação Histórica de Almeida: parecera-me, excessivo, descabido, e até pretensioso, tanto mais que no mesmo programa constava igualmente a apresentação da reedição do livro “O Castelo de Almeida” do Dr. José Vilhena de Carvalho, o qual estava previsto ser justamente homenageado nesse ano, bem como das “restantes Edições da CMA”, onde vários e também conceituados autores tinham colaborado de forma muito generosa, mas sem qualquer destaque individualizado nessa divulgação, conforme as indicações por mim enviadas.

Voltando, no entanto, a estas Jornadas de 2009, a propósito do Dia dos Municípios com Centro Histórico, vou saltar alguns pormenores que podem ser consultados no sítio da CMA em http://www.cm-almeida.pt/municipio/agendadomunicipio/Paginas/Comemoracaoceama.aspx
referindo apenas uma inauguração de uma exposição do Instituto Geográfico Português, que promete e ainda bem que permanece mais uns tempos, para chegar ao programa previsto para as 11.30 horas - Sessão Comemorativa do Dia com Centro Histórico: Um documento para o Acervo do CEAMA pelo Prof. Doutor Pedro Dias.
Note-se, o Prof. Doutor Pedro Dias é uma respeitável figura académica, certamente vem a Almeida, a convite, e com a melhor das boas intenções. Mas tanto destaque fez-me lembrar uma qualquer outra notícia que pressenti relacionada. E de facto: um dos parágrafos relativos aos elementos do júri do recente doutoramento do Arq. João Campos, precisamente em História da Arte, tão pressurosamente alardeado no sítio oficial da CMA, e logo depois retirado perante as críticas, para ser publicado no jornal Praça Alta, reza o seguinte:
- O Senhor Doutor António Pedro Machado Gonçalves Dias, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Orientador;
Bom. Com isso se pode melhor explicar o objectivo da Comemoração do Dia dos Municípios com Centro Histórico este ano em Almeida. Senti pena. Afinal, não parece verificar-se uma maior sensibilização por parte do Município relativamente ao seu Centro Histórico. Todo este fio condutor de coincidências e de factos configura mais uma necessidade de patentear aos almeidenses a ideia de que o que tem vindo a ser feito em Almeida ao nível do património recebe bênçãos académicas lançadas do alto, num jogo de imagem que tacitamente promove o doutoramento de um técnico contratado pelo município, onde o “mestre”, é convidado a visitar a obra do “discípulo”. Mas neste jogo de espelhos, há um estilhaço brutal que fende a imagem quase idílica de alto a baixo: que o técnico, discípulo, consultor, por muito qualificado que seja, repetidamente demonstrou, tanto em público como em privado, a sua incapacidade de diálogo e a sua atitude impositiva para com o património de Almeida – com o que profundamente ofende e repele os almeidenses.
E é assim que esta Comemoração de um Dia dos Municípios com Centro Histórico, se revela afinal mais uma vez ditado de cima para baixo, ineficaz, deparando-se com o mesmo vazio de adesão, porque é destinado a encher o olho, quando os almeidenses já estão fartos de que tanto lhes atirem areia para os olhos!
Maria Clarinda Moreira