26 maio, 2008

MUSEALIZAÇÃO DAS CASAMATAS DE ALMEIDA - QUE INTEGRAÇÃO?

Porque pensamos que é um assunto pertinente e que nos interessa a todos, uma vez que se trata do NOSSO Patrimonio, aqui se publica o Artigo publicado no último número do Jornal Mensal Praça Alta, pelo Dr. Rui Brito da Fonseca.
Pessoalmente, congratulo-me por, de certa forma, estarmos os dois em consonância, principalmente no que diz respeito a um apêlo que tenho feito aos poderes que lideram as nossas vidas, ou seja: Não toquem, não mexam mais no nosso Monumento. Limpem-no, restaurem-no, mas, POR FAVOR, não lhe acrescentem mais nada. Ele é lindo e fabuloso assim como está. A Estrela de Pedra é deslumbrante assim como está. Só assim o poderemos admirar e...senti-lo!



MUSEALIZAÇÃO DAS CASAMATAS DE ALMEIDA – QUE INTEGRAÇÃO?

Sobre o projecto de intervenção nas Casamatas, sem querer entrar no conflito entre a Direcção do IGESPAR e a Câmara Municipal de Almeida, penso que a questão tem uma vertente não considerada, além das opções técnicas que, sendo muito importantes, deveriam ser rigorosamente analisadas - e bem decididas – antes de se intervir naquele espaço.
Pelo que se noticia, as Casamatas da Fortaleza de Almeida estão a ser recondicionadas para ali se instalar um museu histórico-militar e, nessa sequência, se dotar esse espaço, de uma esplanada superior com uma área de cafetaria, elevador de monta-pratos, etc.
A opção já está tomada, o que torna qualquer opinião despicienda, mas haveria a ponderar alguns aspectos em alternativa que, ao que julgo, não foram tidos em conta. Como observei há dias, toda a ambiência que as casamatas tiveram e que nós bem conhecemos, desapareceu. O local está a ser preparado para a instalação de uma panóplia de infra-estruturas adequadas a um acervo museológico, ficando as paredes e abóbadas do espaço original, mas nada da ambiência dos soturnos subterrâneos que ali foram construídos. Recordemo-nos que a Praça-forte tinha nas casamatas um local para abrigo à prova de bomba, artigos vários, mas era também o sítio onde a população e parte da guarnição militar se recolhia durante os bombardeamentos a que a praça de guerra foi sujeita. Ali funcionaram ainda as tenebrosas masmorras durante as lutas liberais, sendo local de tortura e morte e, para quem conhece o local antes desta intervenção em curso, não é necessário um grande exercício de imaginação para impressivamente sentirmos todo o drama que ali se viveu em condições ambientais, físicas e humanas verdadeiramente degradantes.
Um aproveitamento museológico das suas galerias com as suas características de humidade, pouca luz e algidez talvez pudesse resultar numa maior autenticidade e originalidade com a reconstituição da atmosfera de um local tão trágico, refazendo a vivência durante épocas de bombardeamento e o terror que todos os ali recolhidos experimentaram, inclusive com recursos multimédia, enquanto, noutras salas, o tormento das presos liberais sujeitos a tão funestas condições de vida era rememorado em enquadramento fiel. Que outro lugar único, como as casamatas de Almeida para demonstrar sinestesicamente os episódios de que a História desta fortaleza é feita? Desse modo, sim, seria recuperar o local para numa visão histórica do mesmo, que de forma impressionante e pedagógica instruísse o visitante, valorizando o próprio monumento, contribuindo para a perspectiva mais fiel possível com que as casamatas foram construídas.
Tudo leva a crer que a opção tomada de ali construir um museu, permanentemente climatizado por força de conservação das peças expostas, por muito bem organizado que esteja, desvirtua o espaço, pois APENAS O USA SEM O CONTEXTUALIZAR, com todo o potencial e fim para que foi construído, não considerando os custos de manutenção do funcionamento dessa estrutura e os sempre imprevisíveis problemas com avarias. E até o tipo de museu que agora se pretende instalar nas Casamatas, também muito interessante e complementar da história local e nacional, talvez, pudesse sair valorizado num outro espaço do centro histórico, até com outras valências mais flexíveis, sem o ónus da permanente ameaça das infiltrações e humidades.

Rui Brito da Fonseca


in Praça Alta

5 comentários:

  1. Vitor Almeida
    “…reconstituição da atmosfera de um local tão trágico, refazendo a vivência durante épocas de bombardeamento e o terror que todos os ali recolhidos experimentaram, inclusive com recursos multimédia, enquanto, noutras salas, o tormento das presos liberais sujeitos a tão funestas condições de vida era rememorado em enquadramento fiel.”
    TOTALMENTE DE ACORDO.
    Mas uma coisa não retira a outra… a sua ideia, junto com a do museu, julgo que ambas se podem conjugar nesse espaço. Evidentemente que, por motivo do museu, houve um esforço financeiro para a impermeabilização, mas ainda bem, o monumento agradece. E já agora, deixando as observações técnicas para os entendidos, quero manifestar que gosto muito do aspecto exterior. Considero que agora é mais fácil verificar o real valor da fortaleza deste monumento. Está a ficar muito bonito. Espero que tenham em atenção o aspecto da segurança, na parte superior da muralha…
    Abraço

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  2. Têm sido tantas as chamadas de atenção para o que estão a fazer às muralhas de Almeida,que seria suposto os responsáveis já terem tomado algumas medidas preventivas para salvaguardar o tão rico património que temos no nosso concelho.
    Quando as pessoas com algum poder de decisão não têm ideias próprias e mais ainda,não têm conhecimento,será lógico que se devem apoiar em alguém "expert" na matéria. Mas atenção, alguém que sinta verdadeiramente AMOR,não só pelo património,como também pela vila e concelho. Alguém que não se preocupe em primeiro lugar com o que vai receber pelo serviço prestado.
    A mim não me causa qualquer surpresa o facto de pretenderem ali instalar uma esplanada/cafetaria com elevador.
    Falta saber é se não aproveitarão alguma das salas para à entrada instalarem uma luz vermelha. É que olhando para trás...
    Devemos estar atentos.

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  3. Se as Casamatas já serviram de prisão,porque não aproveitá-las de novo para esse fim?
    Talvez lá ficassem bem alguns delapidadores de bens culturais.

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  4. "...quero manifestar que gosto muito do aspecto exterior. Considero que agora é mais fácil verificar o real valor da fortaleza deste monumento. Está a ficar muito bonito. Espero que tenham em atenção o aspecto da segurança, na parte superior da muralha…".
    Isto foi referido por um dos novos homens da cultura e professor dos nossos jovens num comentário aqui posto.
    Tudo muito bonito, com esplanadas, serviços equipados por elevadores, talvez algumas meninas bonitas e bem vestidas a servir umas cervejas, não quer mais nada Sr. Prof. Vitor Almeida?
    Francamente...

    M.J.

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  5. Vítor Almeida
    Para mim pode ser Mini… francamente…com estes comentários… meninas?!

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