18 outubro, 2009

MUSEU NAS CASAMATAS

Há pouco mais de um mês foi inaugurado o Museu Militar em Almeida. Aspiração antiga que vem no seguimento da Sala de Armas que existiu há anos nas Portas de S. Francisco e fora entretanto desactivada. Um museu militar é, na verdade, uma mais- valia em Almeida e faz jus à importante Praça de Guerra que foi, e que vai sobrevivendo, apesar da delapidação do seu todo abaluartado que há anos vem sofrendo…
Estão ali representadas algumas mostras cronológicas do armamento e artes militares ao longo da existência humana até à I Guerra Mundial. Penso que se devia investir um pouco mais sobre o papel militar de Almeida, mas talvez com o tempo isso venha a acontecer, desde que a direcção do museu se mostre dinâmica e atenta.

Muito recentemente, visitei um museu em tudo análogo ao de Almeida, estruturado igualmente a partir do Museu Militar de Lisboa que forneceu, para além das peças, a maioria da descrição museológica. O Museu, instalado no Forte de Santa Luzia em Elvas, apesar de muito interessante, apresenta sinais de sofrer também dos mesmos males de estar parcialmente instalado num local problemático para o efeito, nomeadamente algumas casamatas integradas nesse pequeno forte, ainda que aí (e bem) tenham aproveitado os baluartes exteriores para recriar equipagens das baterias de artilharia. Contudo, no interior, apesar de bem apetrechado, parte do equipamento multimédia deixou de funcionar adequadamente devido à humidade, a ponto de numa das salas, o piso estar levantado como resultado de infiltrações de água.

E, em Almeida?
Como já anteriormente salientado, e não apenas por afirmações da minha lavra, há a considerar que o local escolhido (as Casamatas do Baluarte de S. João de Deus) é o menos adequado em termos de humidade em toda a vila. E apesar do valor ali gasto (a informação municipal refere 720.314,64 euros), do dispendioso e sofisticado sistema de desumidificação aí montado, que além de gastador em termos de energia, funcionando ininterruptamente, será impotente - a fazermos fé no parecer do grande especialista Coronel e Engenheiro Sousa Lobo, que deixou o alerta: “ainda que lhe retirem a terra das coberturas, vão ter sempre os pés na água, pois o local é de cota baixa, e a humidade, até por capilaridade, vai surgir sempre”. As fotos tiradas no início de Setembro de 2008, já sem terras na cobertura, mas ainda antes das mais frequentes chuvas de Inverno, mostram claramente a humidade surgir do solo e, como se pode ver, a impregnar os expositores que aí aguardavam a musealização.

Para além deste aspecto de dificuldade de conservação física do local, do espólio e aparelhagens que ali se encontram, há um outro que, em termos de património arquitectónico e histórico da fortaleza, é muito mais significativo quanto à sua adulteração: como noutra altura referi, as casamatas de Almeida eram locais que protegiam tanto as pessoas como os bens materiais dos bombardeamentos que a Praça esteve sujeita ao longo da história. Em tempo de paz, serviram de armazéns para produtos agrícolas e outros. Contudo, em termos históricos, tiveram um funesto papel como presídios durante as Lutas Liberais, na primeira metade do Séc. XIX. Ali estiveram instaladas as terríveis prisões, onde padeceram e morreram muitos liberais às mãos do regime absoluto de D. Miguel e seus seguidores. Ali, centenas e centenas de seguidores do liberalismo, por terem ideias democráticas e humanistas que vieram a resultar no moderno estado de direito, sofreram atrozmente. E agora, que testemunho físico podemos mostrar, veiculando o que os antepassados das novas gerações padeceram como lutadores da Liberdade?

O fundamental desvaneceu-se, pois as obras de adaptação ao museu, adulteraram todo o ambiente que, apesar de soturno, conservava uma autenticidade única, com todas as valências didácticas para transmitir aos visitantes a luta surda e a penosidade a que os seus antepassados, émulos da liberdade, foram sujeitos. Essa atmosfera carregada de memória, intensa na algidez dos espaços húmidos e tenebrosos, foi desvirtuada, vulgarizada, afinal para ali se instalar um normal museu multi-época, com unidades museológicas descontextualizadas do espaço Casamatas em si, um museu que poderia perfeitamente ter sido instalado noutros locais, sem beliscar o património arquitectónico e histórico da Praça-forte, e certamente com menores custos, tanto de adaptação como de manutenção. Não faltariam espaços em Almeida para albergar um museu histórico-militar desse género, ao passo que as Casamatas, pela sua especificidade histórica, poderiam e deveriam ter uma musealização excepcional, impossível de se conseguir noutro espaço. Isto, para não falar no terrível tratamento exterior, sem nenhuma contemporização pela dignidade histórica do lugar!

Por isso, não posso estar de acordo com um dos oradores, aquando da sua inauguração, que referiu que quem gosta de História tem que gostar do museu histórico-militar de Almeida. Sim, quanto à sua existência, mas NÃO naquele sítio - e muito menos daquela forma! Deixa-me até perplexo como é que agora, num cartaz eleitoral, por detrás dos candidatos, na montagem das perspectivas do Monumento que é a Fortaleza de Almeida, reclamando o “seu lugar lugar na Humanidade”, se tenha aproveitado para entremear precisamente o ângulo mais infeliz da recuperação das Casamatas. Pelo que conheço das posturas que fomos observando ao longo dos tempos mais recentes, só pode ser mesmo mais um acto de birra… ou sobranceria perante a indignação já manifestada relativamente àquela proeminência bizarra implantada como monta-pratos, lava-loiças… ou lá o que é! Não passa despercebida a mensagem: aquele sinal de ostentação de uma obra polémica como foi a recuperação das Casamatas deixa uma leitura muito inquietante da promessa, reafirmada em promessa eleitoral, de requalificação do Largo 25 de Abril, até pela garantia pública que foi dada pelos mesmos de que já a tinham aprovada, bem como da zona envolvente do Castelo!
Caso tais intenções se mantenham, confiemos que os Almeidenses saberão dar a resposta adequada, no momento certo, a essa provocação!

Rui Brito Fonseca

13 comentários:

  1. Como comentário a este Post, apenas me ocorre dizer que as pessoas de Almeida passam ao lado destas e de outras coisas importantes, apenas lhes interessando festas e festinhas, bebezainas e comezainas etc.. É só consultar alguns blogues laranjas que grassam por aí para ficar com uma ideia daquilo que nos rodeia, ou seja, gente que não respeita nem património, nem semelhantes.
    Tenho muito respeito por pessoas como o Dr. Rui Brito Fonseca e toda a equipe que o acompanha, bem como pelas pessoas que realizaram o projecto "a força de acreditar". Será destas últimas pessoas que poderá nascer e frutificar um futuro com mais qualidade e maior consistência.
    Com aquilo que será suposto vir ao cimo nos próximos tempos, muita gente terá oportunidade de reavaliar posições, e, mais cedo ou mais tarde, ter a chance de acabar com rumos de mentiras, rumos de "salve-se quem puder", rumos de canibalismo!

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  2. "Se Ele não cuida de Almeida quem cuidará?..."

    Veremos com o tempo se a isto se chama "cuidar de Almeida".

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  3. Francisco Manuel Garces19 de outubro de 2009 às 12:56

    Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas.
    Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto politico, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos.
    Política de acaso, política de compadrio, politica de expediente.
    País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

    (Eça de Queiroz, 1867 in “O Distrito de Évora”)

    Li esta transcrição aqui neste mesmo blog.
    É oportuno e não pode estar mais actual.

    Espero que os "chicos espertos" e demais pensadores não interpretem isto como um insulto ou um comentário de mais um homem sem "berço".
    Não fui eu que o disse foi simplesmente o Senhor Eça de Queiroz.

    Francisco Manuel Garces (para que conste!!!)

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  4. “…a fazermos fé no parecer do grande especialista Coronel e Engenheiro Sousa Lobo, que deixou o alerta: “ainda que lhe retirem a terra das coberturas, vão ter sempre os pés na água, pois o local é de cota baixa, e a humidade, até por capilaridade, vai surgir sempre”…

    Estas são palavras de um especialista na matéria.

    Qualquer Engenheiro Civil e/ou Empreiteiro de Obras, se quiserem ser honestos, sabem perfeitamente que, nestas condições não conseguem parar ou estancar a humidade ascensional, pois para além da cota ser muito baixa, toda aquela zona no subsolo é um extenso lago de água.

    Toda aquela madeira e aparelhagens eléctricas vão sofrer danos com toda a certeza.

    É só uma questão de tempo.

    João Neves

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  5. Maria Clarinda Moreira19 de outubro de 2009 às 23:41

    INAUGURAÇÃO DO MUSEU HISTORICO-MILITAR NA IMPRENSA:

    O Museu Histórico-Militar de Almeida, instalado nas Casamatas daquela vila, apenas poderá ser visitado após a sua inauguração, agendada para este Sábado, e não antes como adiantou no final do mês passado ao TB o presidente da Câmara local, António Baptista Ribeiro. Uma situação que o autarca lamenta, e pela qual pede «desculpa por ter acontecido». «Ainda ontem [Quinta-feira passada] passei largas horas na parte da coberta, onde acompanhei as obras, a instalação do museu, porque tínhamos especialistas de vários sectores, e apercebi-me das centenas de pessoas que bateram à porta para querer entrar e visitar», explica o autarca, sublinhando tal não ser possível devido ao facto das obras estarem a decorrer.
    Ainda assim, garante Baptista Ribeiro, «as pessoas ficaram maravilhadas, autenticamente espantadas e deliciadas com o que viram só da cobertura, porque não há dúvida nenhuma que ainda bem que vencemos essa batalha, que venci essa batalha, porque bem me bati por ela, de não termos cometido o crime de cobrir aquele tecto com terra e com telas». É que em seu entender, isso iria «causar prejuízo ao monumento em si». «A prova está nas salas que ainda estão cobertas por terra, a prova do mal que estamos a fazer àqueles espaços porque são os que ainda não vão manter humidade já que tivemos o trabalho de climatizar o espaço, caso contrário seriam ali criados graves problemas, até para o material que lá está instalado», afirma o autarca, referindo-se às divergências que o director regional de Castelo Branco sempre manifestou em relação à opção seguida pela autarquia e que passou por retirar terra da cobertura das Casamatas. «É bom ver como foi importante termos conseguido esta batalha e de a termos vencido de deixarmos aquela cobertura descoberta, porque aquilo é uma verdadeira maravilha. Maravilha-nos só olhar para aquilo, não há ninguém que saia de lá sem fazer um comentário de admiração e de estupefacção daquilo que vê porque é único no mundo», diz ainda a propósito.
    A inauguração do Museu está agendada para as 18h00 de Sábado, podendo ser visitado a partir desta data, contudo, nem tudo será como inicialmente previsto. É o caso da iluminação, onde Baptista Ribeiro confessa ter havido «uma pequena falha». «Estamos no mês de Agosto, as fábricas fecham e aquilo ainda não vai ficar como está projectado, porque merece uma visita à noite depois de estar todo instalado com a iluminação, com os focos que vai levar nas sua envolvente», argumenta.
    (…)
    Por: Gabriela Marujo
    27.08.2009
    In http://www.terrasdabeira.com/noticia.asp?idEdicao=621&id=29461&idSeccao=5279&Action=noticia

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  6. Manuel Norberto Baptista Forte20 de outubro de 2009 às 14:00

    Vi no dia 7/8/2009 (4ª Fª), o Museu nas Casamatas em Almeida. Gosta-se do que se viu, mas também se percebe bem os "custos"(???) que o mesmo irá ter ... ...

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  7. Visitei o museu e fiquei deveras agradado com aquilo que vi. Mais, surpreende-me que mesmo após as eleições ainda haja gente que só vê mal em tudo o que é feito. JA BASTA, façam algo por esta terra. Mal já nós estamos, vejam se contribuem pela positiva e com algo de novo.
    Outra coisa, tá mal ali e ficava melhor noutro local.....concretizem e não andem sempre a levantar pó.
    O MUSEU ESTÁ OPTIMO E RECOMENDA-SE e quando se fala na temática do mesmo, mais de 90% dos visitantes não percebem o mínimo de história da guerra ou das armas, mas ficam decerto nop final, com uma ideia do que foi a dita guerra durante anos. A HISTORIA TAMBÈM É PARA OS LEIGOS, NÃO APENAS PARA INTELECTUAIS..... (ou pseudo...)

    f.afonso

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  8. O sr. f. afonso não é capaz de perceber que o artigo em causa não tem nada a ver com eleições. A sua pertinência é sempre válida, já que o que o preocupa qualquer pessoa, com o mínimo de sensatez, é que não se façam obras à toa só para cumprir programa e usar fundos comunitários, mesmo que tenham sido aconselhados a ter mais ponderação por técnicos muito qualificados que, além de investigadores são engenheiros, como o caso do Cor. Sousa Lobo, pessoa muito dedicada e sempre disponível com Almeida que foi publicamente desfeiteada pelo autor do projecto de recuperação das Casamatas – que apenas quis (e conseguiu) impor a sua própria visão.

    E, como se sabe, não foi o único a discordar. Por isso é que o processo foi tão conturbado, com sucessivos pareceres discordantes por outros técnicos responsáveis, a ponto de o presidente da edilidade ter assumido que “contornou” o normal procedimento para conseguir a sua aprovação. Se reparar bem no artigo de imprensa acima citado, os termos repetidamente utilizados foram “batalha” e “maravilha”.

    “Batalha”, porque é a atitude de quem opta sempre por conflituar e impor em vez de dialogar. “Maravilha” porque é o lugar-comum de todos os políticos que falam da sua obra, nem que seja para atirar areia para os olhos das pessoas…

    O cidadão comum e eleitor tem o direito (e o dever) de estar atento e, se discordar, manifestar-se. Porque o património é um bem comum! A HISTÓRIA É PARA TODOS! Não apenas para leigos, nem entendidos nem os tais pseudo, que o senhor mete entre parêntesis.
    Veja se consegue polir-se um pouco mais!...

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  9. O que é verdade caro Sr é que o museu é visitado por centenas de pessoas todos os fins de semana as quais, pasme-se, veêm de propósito a almeida para visita-lo....
    que engraçado, de repente almeida tem algo que a diferencia de outros locais e atrai gente. como é possivel isto? será esta a tal "batalha"? será que a batalha afinal é trazer pessoas à "maravilhosa" almeida?
    O património é sem dúvida um bem comum caro senhor. será que já se dignou saber qual a opinião dos almeidenses? sim da comunidade almeidense, a residente principalmente e
    não apenas dos pseudo-intelectuais e, desta vez sem parentesis.
    se a humidade fosse por si só condicionante única para um (não) investimento o que fariam as pessoas do litoral do país? o que fariamos com o património das ilhas?
    se o problema existe e está identificado, OPTIMO, corrija-se, ajuste-se, controle-se mas, NAO SE PARE O INVESTIMENTO quando mais, o mesmo até nos torna diferentes.
    sei, caro senhor que a rede nacional de museus está a um pequeno passo de integrar este museu, aberto há dois meses apenas, nos seus planos e pergunto, SERÀ QUE ESTA BATALHA NÃO ESTÀ A SER MARAVILHOSAMENTE GANHA?

    f.afonso

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  10. Dr Rui, nem sei para que está a perder tempo neste tipo de diálogo. O sr. fala de alhos e há uns pseudo intelectuais que só percebem de bugalhos. “Deixá-los falá-los e eles calaram-se-hão ”. Parta para outra.

    Transcudano

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  11. João Gabriel de Sousa21 de outubro de 2009 às 21:16

    Eu gosto de diálogo. Também gosto de ter opinião. Mas acima de tudo gosto de opiniões divergentes. É que só através da discussão (pacífica entenda-se)se pode fazer luz.
    Nestas últimas eleições autárquicas houve vencedores e perdedores. O importante é que tanto uns como outros saibam respeitar-se mútuamente. Parece-me, infelizmente,que não será assim, pois quem ouviu o vencedor na rádio,ouviu as ameaças veladas a pessoas que não o apoiaram, ou a presidentes de Junta de Freguesia onde o resultado não o favoreceu.
    Pareceu-me estar a ouvir rádio nos anos sessenta.
    Mas nem tudo é mau neste concelho. Também sei que este espaço vai continuar a ter a sua propria opinião. É muito bom.
    Para os responsáveis os meus votos de confiança e que sirva de exemplo para outros.

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  12. Para o Rui.
    Amigo, continua a tua luta com o teclado.
    Um dia serás vencedor (espera........não o foste sempre?).
    Não ligues muito a certas opiniões.
    Lê-as...e sorri.
    Sabemos do que falamos.

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  13. Este f.afonso, que agora deu em vir também travestido de gringo elxico, sente-se na obrigação de fazer de moço de recados, sem perceber a figura patética que faz. Já todos percebemos que as “centenas” de visitantes não passam de magotes que vêm de passeata sem aqui deixar um cêntimo. Só falta a câmara também lhes dar uns beberetes e comeretes para depois irem contar mais maravilhas…
    Com papas e bolos se enganam os tolos!

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