27 dezembro, 2010
Reflictamos...
Não obstante sabermos quão mal determinadas atitudes da classe política nos fazem, continuamos a deparar-nos com mais algumas, apesar de nos virem falar de melhorias e benefícios.
Vou deixar ficar aqui apenas três, antes do final do ano, para reflexão.
A primeira refere-se à declaração proferida pelo responsável da pasta das finanças do governo Eslovaco, Ivan Miklos, quando afirma que Portugal e Grécia não encaixam na zona euro, e que seria melhor ficaram fora do Euro.
O ministro referiu-se ainda, à forma como a Comunidade Europeia conseguiu responder à crise generalizada e como Bruxelas conseguiu ultrapassar a mesma a fim de evitar situações semelhantes num futuro próximo. Acrescentou ainda que o plano delineado e aprovado muito recentemente prevê a responsabilização de privados a partir de 2013, mas não será certamente o suficiente para resolver os problemas actuais.
A segunda situação que abordo, tem a ver com as multas aplicadas aos dirigentes partidários políticos.
É que de acordo com a nova lei do financiamento dos partidos, as multas e coimas aplicadas passam a ser acrescentadas às despesas dos partidos. Desta forma cabe ao Estado comparticipar/pagar aos partidos em função da declaração de despesas apresentadas.
Sem dúvida que uma situação destas, só vem permitir que os políticos não se preocupem com situações mais problemáticas no desempenho das funções partidárias. Ainda que tenham que pagar qualquer coima, ficam a saber que mais tarde esse valor passará de novo para a carteira do seu partido. Trata-se sem dúvida de uma forma de subvenção estatal aos partidos políticos.
A terceira reflexão refere-se à decisão de que será o Governo Socialista a nomear a totalidade dos elementos do Conselho das Finanças Públicas, cuja finalidade é a de escrutinar as contas do Governo.
Perante uma situação como esta, apetece-me perguntar se será que esse Conselho algum dia encontrará dinheiro mal gasto. Mas há ainda mais duas situações caricatas. É que cabe ao Conselho de Ministros escolher quem fará parte dessa Comissão, quais as suas atribuições e em que termos irá funcionar.
Perante isto, está-se mesmo a ver qual o resultado que tudo vai dar.
19 dezembro, 2010
FELIZ NATAL
28 novembro, 2010
CASA ONDE NÃO HÁ PÃO...
Observar a realidade à nossa volta, faz-nos lembrar o adágio "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". Igualmente se poderia aplicar o dito da sabedoria popular de que "é muito fácil fazer festas com o dinheiro dos outros". Na verdade, gerir bens públicos que são confiados a gestores, sejam eles profissionais, ou políticos a quem se dá o voto de confiança é um exercício que requer não só competência mínima, mas bom senso e seriedade, muita seriedade. O gestor público, governante por inerência, ao fim e ao cabo aquele que vai dispor do nosso dinheiro, devia pautar-se por uma conduta essencial: gerir, gastar, aplicar ou investir os dinheiros que lhe estão confiados com o mesmo rigor que uma boa dona de casa, que se preze de o ser, o faz.
Vêm estas considerações, como toda gente facilmente conclui, a propósito de abordar também de forma simples, mas não menos verdadeira, a situação em que se encontram a economia, e especificamente as contas públicas em Portugal. Anos e anos de frenesim despesista a nível central e local, sem a consciência que esse gastar desenfreado correspondia não a reservas de dinheiros acumulados ou provenientes de rendimentos da indústria, comércio e serviços, ou seja de factores geradores da riqueza nacional, mas sim, na sua grande maioria, resultantes de dinheiros atribuídos e empréstimos - estes nunca dados pelos lindos olhos e ainda provocadores de dívidas a que são acrescidos juros. É assim como apenas se ganhar 10 e gastar 15 e continuar a pedir emprestado ao vizinho, ignorando a dificuldade de pagar essas dívidas, porque o que é produzido nunca será suficiente para saldar o empréstimo.
E nós inconscientes e irresponsáveis fazendo de conta que acreditamos nesse tipo de “desenvolvimento” e que “alguém”, que não nós, haveria de pagar a factura… propagandeando palavras que todos gostam de ouvir, mas que não passam de demagogia. Solidariedade em termos de mercado? Não é ingénuo quem assim pensa ou argumenta, mas mais provavelmente irresponsável e desonesto. Quem deixa uma situação destas chegar ao ponto de descalabro total nas finanças e no arrastar da economia para uma tão grave situação de inconsistência, seja a âmbito doméstico, autárquico ou governativo a nível nacional, deveria ser corrido por incompetência e responder, quando se trate de cargo público, criminalmente por incúria na gestão dos dinheiros que lhe estavam confiados.
Mas todos nós temos um quinhão de responsabilidade também, pois se fomos enganados pelos profissionais da política, o bom senso (algumas vozes avisadoras, fizeram-no atempadamente, mas foram muitas vezes apelidados de arautos da desgraça) devia alertar-nos para os riscos que se corria. Mas não. Continuamos a votar confiadamente, neles. É certo que muitas vezes com o argumento de que venha o diabo e escolha, mas sem sermos mais exigentes e tentarmos mostrar o nosso desagrado, dizendo: Não e Basta! Fomos andando nesse doce embalo do deixa-andar, do enquanto o pau vai e vem folgam as costas e outros estribilhos justificativos e provocadores na nossa agradável, inconsciente e confortável, cegueira.
E bem que nos tentam impingir que a culpa é dos mercados e da conjuntura de crise. Quais mercados, qual carapuça! Os mercados são feitos por homens que a maior parte das vezes, actuam sem escrúpulos, emprestando dinheiro a quem muito bem sabem que não pode pagar, continuando nessa vil manha do cambo porque, sobretudo em matéria de dinheiros públicos, alguém que venha atrás que feche a porta. E agora? Agora, é claro, dizem os mercados que o que foi emprestado tem de ser pago. E os desperdícios e uma grande parte dos “investimentos” revelam-se finalmente oportunidades perdidas de desenvolvimento, como sempre foram, aliás. Há, exigem os mercados, que fazer sacrifícios, baixar os vencimentos, cortar com despesas, trabalhar mais, pagar mais impostos para que esse dinheiro possa pagar a dívida maliciosamente provocada, mantendo-nos no engodo com discursos pesarosos e preocupados. Isto, perante as dívidas acrescidas de juros sobre juros, desperdício em cima de desperdício…
A situação apresenta-se tão má que muitos adivinham já um terramoto social não provavelmente sem tumultos civis, em perspectivas que chocam profundamente com a paz podre que se vive, à espera que o pior não venha. Por este estado a que se chegou, penso que os políticos que conhecemos e que têm (des)governado o país não servem. Haverá que procurar entre gente séria - que certamente há - pessoas que pareçam e sejam honestas de verdade. A sociedade e as novas gerações precisam de novos valores que enformem a solidariedade, a democracia, mas também a responsabilidade, a honestidade do trabalho, a condução de uma vida mais sustentável e com mais dignidade para todos. Em suma: se são eleitos para nos representarem, em muita pouca conta nos temos se continuarmos a permitir que nos rebaixem e sujeitem com todas as alarvidades a que os próprios e seus protegidos se habituaram. Chega de farsa!
Rui Brito Fonseca
12 novembro, 2010
...UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO...É UM BURRO IMPOTENTE...
por José de Almada-Negreiros
POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO
O DANTAS É UM CIGANO!
O DANTAS É UM HABILIDOSO!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!
E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!
O DANTAS É UM CIGANÃO!
O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!
E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS!
E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO!
E QUEM LHE LAVE A ROUPA!
VOCÊS NÃO SABEM QUEM É A SOROR MARIANNA DO DANTAS? EU VOU-LHES CONTAR:

A ÚNICA CONSOLAÇÃO QUE OS ESPECTADORES DECENTES TIVERAM FOI A CERTEZA DE QUE AQUILLO NÃO ERA A SORÔR ALCOFORADO MAS SIM UMA MERDARIANNA ALDANTASCUFURADO QUE TINHA CHELIQUES E EXAGEROS SEXUAES.
DANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS... E LIMONADAS DANTAS - MAGNESIA.
E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.

publicado por João Neves
28 outubro, 2010
Impasse? Não....
Mas pelos vistos ainda não existe uma avaliação exacta do défice que vamos ter no final do ano, apesar do Governo através do Sr. Ministro das Finanças afirmar que o mesmo está controlado, sem especificar o valor concreto.
Toda a encenação que vimos nos últimos dias, relativamente às reuniões havidas entre o Governo do Partido Socialista e o Partido Social Democrata, seria de evitar não dando assim aos mercados internacionais um sinal de caos em que estamos a viver no sector económico.
O Governo sabia que tinha que preparar o Orçamento de Estado para apresentar na Assembleia da República.
O Governo sabe que neste mandato não possui uma maioria absoluta de forma a permitir-lhe a aprovação do OE na Assembleia, só com os seus deputados.
O Governo sempre soube que para aprovar o OE este ano, teria que negociar com alguma força política a votação.
Quando alguém quer algo com muito interesse, deve ter a preocupação em fazer o trabalho de casa nas melhores condições.
Não pretendo com esta minha ideia dar lições a ninguém. Mas acredito que se o Governo antes de elaborar o seu próprio OE, tivesse procurado ouvir com a antecedência necessária dos partidos políticos com representação parlamentar, as sugestões e/ou propostas próprias deles, teria sido muito melhor.
Esta forma de actuação poderia contribuir para evitar as acusações que lhe são feitas. Talvez uma ou outra sugestão deste ou daquele partido a serem inseridas na proposta final, poderia evitar que todos, à excepção do PSD, já afirmassem a sua não aprovação.
Elaborar o OE e depois ir discuti-lo com os partidos é mais difícil. Aliás experiências vividas noutras áreas só demonstram que esta forma é mais fácil de negociar.
Por outro lado a troca de certas afirmações feitas por parte de alguns membros do Governo e do PS para com pessoas do PSD, em nada vieram ajudar à criação de um clima de abertura para o diálogo. Veja-se o que se passou no último debate quinzenal efectuado na AR entre José Sócrates e o líder da bancada do PSD.
Os mercados internacionais estão atentos e nervosos sobre o que se irá passar em Portugal. O Fundo Monetário Internacional também está atento uma vez que o mais provável é que mais cedo ou mais tarde vai ter que intervir.
Afinal todas as medidas que nos foram de uma ou outra maneira “vendidas” pelo Governo do PS, nos chamados PEC, foram insuficientes. Afinal as fortes críticas feitas pelos partidos da oposição, tinham mais que razão de existir. E as críticas feitas pelos mais diversos comentadores políticos e economistas? Tinham razão ou não de existir?
Estas últimas medidas que o Governo acabou por assumir, se tivessem sido feitas há mais de um ou dois anos, hoje certamente estaríamos melhor e evitar-se-ia todo este cenário vergonhoso por que estamos a passar e a levar para o palco internacional.
Nem quero imaginar se o PS tivesse obtido uma nova maioria absoluta, em que situação hoje estaríamos.
Hoje como ontem e mesmo nos próximos dias, o debate as conversas vão versar sobre a aprovação ou não do OE.
Acredito que vai passar. Tenho essa convicção. O PSD pode e deve abster-se na votação da generalidade. Por sua vez o Governo vai ter que ceder em alguns pontos na discussão da especialidade.
Será talvez o ponto mais crítico, uma vez que as alterações propostas podem ser aprovadas pela maioria da oposição. Será que depois o Governo aceita ou não. Se não aceitar só tem um caminho, pedir a demissão ao Sr. Presidente da República, e lá estamos então com o mesmo problema de hoje, mas muito mais grave.
Acredito que à reunião a que o Sr. Primeiro Ministro vai hoje e amanhã, e onde vão estar presentes por exemplo, Angela Dorothea Merkel e Nicolas Sarkozy, estes acabarão por sensibilizá-lo a ouvir de novo a oposição e encontrar a qualquer custo uma solução para o impasse. A ver vamos.
Não podemos sobre qualquer pretexto ficar reféns de políticos. A democracia é algo muito valioso, para que meia dúzia de pessoas a coloque em causa e a transforme em algo vergonhoso. Mais do que nunca me parece que a nossa classe política, a actual, está fora de prazo e rica de mais para que olhem para nós, os pobres.
Que a situação actual que estamos a viver nos servia para reflectir em termos futuros.
18 outubro, 2010
A Lista...
Oswaldo Montenegro
26 setembro, 2010
No Rescaldo das Comemorações do Bicentenário
Um mês depois das Comemorações do Bicentenário do Cerco de Almeida, o silêncio deste blogue relativo ao acontecimento, semelhante ao que se verificou noutros espaços digitais, e até no sítio oficial do município, evidencia bem o seu fraco impacto junto da comunidade. O fenómeno não se pode certamente atribuir à época de Verão, que já lá vai. Por outro lado, fossem quais fossem os temas, o histórico deste Fórum mostra reacções bem mais participadas em épocas estivais anteriores. A única conclusão possível é a do desânimo em que Almeida se vê mergulhada de há uns tempos para cá… desmintam-me se estiver errada!
Estive nas Comemorações do Bicentenário do Cerco de Almeida. Não para ver o colorido das fardas e os outros trajes dos recriadores, de que guardo imagens de edições anteriores, além de que a repetição dos certames lhes retirou a novidade, mas para avaliar o que é feito de uma ideia que teve de vencer indiferenças e relutâncias antes de conseguir experimentar-se e implantar-se a tempo de captar e firmar alguma notoriedade para o anunciado Bicentenário. Contudo, a impressão com que fiquei, mesmo com a expressiva presença de participantes, foi que o esforço de ir espremendo a ideia do “evento” sem o inovar, e a fórmula de fundir inaugurações com recriação histórica e com o anúncio de uma candidatura à Unesco, perante uma catadupa de convidados estrangeiros recebidos com o aparato que todos puderam testemunhar em 2009, ano de eleições onde e apesar da crise já instalada não se olhou a meios para tentar impressionar tudo e todos, a postura megalómana parece ter esgotado assim os meios e a capacidade de fazer diferente e especial para este ano de 2010, o ano em verdadeiramente se assinalava o Bicentenário.
Por outro lado, este processo tem a ver com uma distorção progressiva do conteúdo destas comemorações, onde se verifica um acentuar do lado lúdico para distrair os visitantes, com cerimónias oficiais e seminários ignorados por quase todos, ou iniciativas onde a própria organização participa de forma apressada para cumprir programa, como no caso do desfile e homenagem na Praça Alta, este ano despercebida, quase inexistente. Sente-se o desfasamento entre uma vontade de destacar e homenagear os episódios e figuras de relevo histórico, e aquilo que sobra, e em que se vai transformando essa memória, que é sobretudo um mimetismo de episódios históricos, promovido como mais um “evento”. Até porque é essa postura que se sente agora ao ouvir-se da própria boca de um edil ufano perante o troar de canhões e simulação de combates pelos recriadores: “ Isto nasceu de uma brincadeira há 2 ou 3 anos atrás”. Não foi assim. Surgiu de uma vontade mais antiga e autêntica de ajudar Almeida a concretizar iniciativas que a tornassem mais ciosa e zelosa do seu património histórico e mais conhecida no exterior - procurando contribuir para o seu potencial de desenvolvimento. Uma experiência bem sucedida em 2005 e desenvolvida em 2006 demonstrou o seu interesse, o que veio a permitir o acolhimento favorável pela pessoa que viria a ser e é o actual Presidente da Câmara, num trajecto de esperanças promissoras, que rapidamente se desvaneceriam.
Os factos são bem comprováveis. Perduram filmes e fotografias desses momentos, irrepetíveis pela sua mobilização genuína, inclusive na Internet, disponibilizados no YouTube, como aliás o vídeo do anterior Post documenta. Para quem apregoa o princípio de “Falar verdade”… é melhor nem comentar!
Registo a ocorrência salientando o triste espectáculo de quem se exibe por conta das boas-vontades e lamentando o fado de sujeição assim imposto em todos os domínios da sociedade civil em Almeida. Pela nossa parte, ainda que posteriormente alvo de remoques infundados de que a crítica vinha de quem nunca fizera nada por Almeida, restou-nos a liberdade de nos afastarmos, desprezando as retaliações (que se viriam a concretizar) ao vermos o tratamento de desconsideração a que fomos submetidos quando patenteámos discordância relativamente ao mamarracho construído em frente à Câmara: na nossa lógica, tanto rigor nas fardas e armas, incluindo acessórios e até botões, tanta discussão partilhada quanto a detalhes para recriar uma autenticidade, ainda que passageira, era incompatível com pactuar cobardemente com intervenções, essas sim mais permanentes, que nada tinham de preservação e revitalização do centro histórico da vila de Almeida. Sempre incentivámos a que outros continuassem o espírito das recriações, incluindo os filhos. Se optaram pela não participação, não lhes podemos levar a mal. Culpa nossa de lhes termos transmitido a necessidade de coerência com as decisões que se tomam.
Quanto ao Bicentenário propriamente dito, com o colorido que encheu o centro histórico de Almeida, é pena que ao menos uma parte dessa animação não tenha condições de perdurar, favorecendo um quotidiano da vila mais dinâmico e um saudável contágio com outras mentalidades, mais cientes da riqueza e importância do património histórico de Almeida, se bem que explicitamente os de fora pouco façam - ou possam fazer pela sua protecção. Voltam para as suas terras no final, deixando os almeidenses entregues a si mesmos, indiferentes aos sinais deixados – que estes nem reparam ou querem dar-se ao trabalho de interpretar.
A título de exemplo, destaco apenas um, pelo seu profundo significado, que a muitos terá escapado: na homenagem aos mortos no combate do Côa, juntaram-se os recriadores, portugueses e estrangeiros, na antiga ponte para alguns minutos de silêncio. Foi digno de observação: perfilaram-se, apertaram-se para caberem todos, representantes de antigos regimentos, desde as forças aliadas às “invasoras”, unidas no mesmo espírito de homenagear os antigos combatentes de ambas as partes. Eram umas centenas e, pelas manobras que tiveram de fazer, tornou-se bem evidente a sua intenção: totalmente voltados para o rio, sobre a antiga ponte, guardaram a memória dos antepassados simplesmente defronte à antiga cruz em toques de clarinete e em momentos de silêncio. Dispersaram no fim. Não houve dúvidas que ignoraram completamente qualquer outro elemento acrescentado à paisagem agreste do vale. De acordo com essa postura, o essencial estava lá. Descartaram completamente a necessidade de um memorial imponente assinado por dois arquitectos do século XXI e pago por uma edilidade que faz esforços para o promover como tal.
Aliás, nisto de experiências de memoriais, um outro memorial do Bicentenário, supostamente “um estudo”, praticamente ilegível, que deveria ser plantado no alto do castelo, depois de arrasar o cemitério e lá se construir um miradouro em betão, foi ridiculamente inaugurado com coroas de flores em 2008, e repetidamente desde então, levando as entidades convidadas a posarem junto dele para as fotografias, alheias a todo este improviso. Como o projecto (felizmente!) não foi para a frente, nem para cima como previsto, inventou-se outro memorial, desta vez no Côa. E com tudo isto, só não dá para perceber de que estão os almeidenses à espera para defenderem uma outra visão para Almeida, em vez de se limitarem a aninhar-se ou fingirem que acreditam em todas as justificativas ciciadas aos ouvidos ou propaladas aos microfones.
É que pelo seu acatamento indiferente, quando não conivente, não se livrarão no futuro de merecedores da denúncia em verso que fez a poetisa Sophia de Mello Breyner: “Senhor, perdoai-lhes porque eles sabem o que fazem!”.