18 abril, 2009

CIDADES AMURALHADAS – Problemas de Gestão

I.
Almeida é sem dúvida uma das mais importantes vilas amuralhadas. Ao contrário de muitas outras cidades que têm apenas algumas portas ou parte da muralha original, Almeida é uma vila que se pode vangloriar de ter as muralhas completas e intactas. Isso torna-a perfeita para o estudo dos problemas das cidades amuralhadas e do desenvolvimento da arquitectura das fortificações. Almeida, assim com Elvas, são dois dos melhores exemplos de preservação de cidades amuralhadas. Almeida, em particular, deve estar muito orgulhosa do que faz para conseguir a sua preservação
(…)

As cidades amuralhadas são especiais. O simples facto de que os nossos antepassados decidiram fortificar essas cidades significa que lhes deram muita importância. As cidades fortificadas são, por isso, muito especiais. Já são muito poucas as cidades que ainda têm um sistema fortificado apesar de terem existido centenas delas.
(…)

Isto leva-me a outro ponto importante. Hoje em dia já não se olha para um projecto de conservação como sendo uma lista de projectos de restauro de edifícios individuais. Não faz sentido conservar um edifício único sem referir à área circundante.
(…)

Nenhuma construção pode ser considerada apenas por seu próprio mérito mesmo que desenhada pelo arquitecto mais importante. Tem de ter um contexto. Deve ser compatível com o tecido urbano da cidade. Quando se pensa numa intervenção dentro de cidades históricas, deve pensar-se na cidade como um todo.
(…)

Repito. Uma cidade histórica não é uma colecção de edifícios importantes mas um conjunto, uma enorme intervenção humana numa área em particular, que deve ser respeitada, reflectindo os diferentes períodos de desenvolvimento. Nenhuma cidade pode estagnar num período num período em particular porque cidades desta natureza estão sempre em desenvolvimento. Tenho a certeza que os arquitectos, deste modo, concluirão que temos o direito de intervir. A minha resposta é afirmativa, temos a obrigação de preservar o que os nossos antepassados construíram mas isso não significa que não permitiremos novas construções, mas em perfeita compatibilidade com as existentes.
(…)

O património é um activo, muitas vezes o único activo económico das cidades históricas. Temos que, doravante, olhar para a sua protecção deste ângulo. O património pode e deve ser um importante activo económico para as nossas cidades e temos de pensar na sua conservação e desenvolvimento com este facto em mente. Portanto ao discutirmos a administração das cidades históricas temos de dar importância a dois elementos, isto é, modelos económicos e, tanto quanto possível, o envolvimento da população local.
(…)

O turismo pode e deve ser visto como um elemento positivo na preservação do património. O turismo cria problemas especialmente em cidades pequenas mas também traz benefícios económicos. Os problemas de turismo podem ser resolvidos com um sistema de gestão.
(…)

Como já disse anteriormente, dou muita importância a um bom sistema de administração, especialmente quando esses sistemas são baseados numa vasta participação. Os Presidentes de Câmara devem tentar a maior participação possível. Nas sete cidades em que fui responsável durante vinte anos criei três Comissões de Aconselhamento nas quais havia uma grande representação da sociedade, incluindo Municipalidade, sector comercial, historiadores, projectistas, sector cultural, entre outros. Nas reuniões mensais eles discutiam formas de tirar o maior proveito dos fundos de apoio às cidades e, em particular, preparar projectos integrados que tanto no curto como no longo prazo, ajudassem as cidades a desenvolver e a preservar melhor o seu património. Este sistema não é perfeito, mas permite aos representantes uma melhor gestão das cidades. Estas comissões não olhavam só aos projectos de conservação mas também a projectos de melhoramentos do ambiente.

Ao preservar as nossas cidades, o objectivo principal é, acima de tudo, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, conseguir um desenvolvimento económico, alcançar melhores padrões de vida. Isto só pode ser conseguido através da preservação do coração urbano histórico das nossas cidades.

Autor: Ray Bondin, membro do ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), do ICCROM (Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauro da Propriedade Cultural) e do CIVVIH (Comité Internacional para as Aldeias e Cidades Históricas do ICOMOS), in Revista CEAMA nº 1, extractos de comunicação apresentada em Agosto de 2007, em Almeida.


II.
(…) O caminho vai sendo percorrido, mas é o que falta fazer que sempre constitui o desafio mais interessante. É nessa parte do que nos espera, como meta para a nossa actividade, que está a motivação maior do empenho de todos os que contribuem para construir o Presente, preservando o Património para que melhor possa cumprir as funções que o Futuro reclama.
De todos esperando participação, a todos tendo em consideração, a todos outorgando e de todos requerendo o respeito que nos merece o engrandecimento da nossa Terra, vamos brevemente colocar à disposição de todos mais dois equipamentos de qualidade que nos orgulham e ampliam o percurso que encetámos: refiro-me, concretamente, à abertura ao público da Biblioteca Municipal e do Museu de História Militar, este a instalar nas Casamatas.
Este caminho também é a aventura e a responsabilidade de ser indiferente à crítica paralisadora, assumindo a responsabilidade de quem, como poder político, é mandatado para decidir e fazer as opções que contribuirão – tenho a certeza! – para a abertura do nosso Concelho ao Universo Cultural, e que deixarão marca para os vindouros. (…)

Autor: António Baptista Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal, in Editorial da Revista CEAMA nº 3, 2009.




NOTA: Este ano, neste dia 18 de Abril, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que se comemora não apenas internacionalmente mas também em Portugal, um pouco por todo o lado em vários municípios, incluindo no Distrito da Guarda, o tópico escolhido pelo ICOMOS é: ‘Património e Ciência’.
A escolha prende-se com o objectivo de proporcionar uma oportunidade de reflexão e de reconhecimento do papel da Ciência na criação do património cultural e, ainda, de incentivar a discussão sobre o potencial contributo que a Ciência (e Tecnologia) oferece ao estudo e preservação do património.

Em jeito de contributo para essa reflexão, à falta de melhores meios de debate que o Prof. Doutor Ray refere acima, num texto publicamente acessível, que recomendamos vivamente e que por excessiva extensão não reproduzimos na íntegra, apenas no essencial e omitindo algum louvor à pessoa que lhe dirigira o convite, uma vez que essa comunicação foi feita por ocasião da sua primeira visita a Almeida sem conhecimento directo do que veio encontrar, propõe-se uma análise dessa experiência e considerações com a realidade sintetizada apresentada pelo Presidente da CMA, no Editorial de uma publicação subsequente da mesma colecção de estudos, este integralmente disponível também em imagem abaixo.

Para não condicionar o debate em qualquer direcção, abstemo-nos de destaques ou sublinhados, deixando a cada um o interesse de uma leitura bastante atenta e o arbítrio de uma reflexão que a cada um é possível.

Maria Clarinda Moreira


11 comentários:

  1. Este post"CIDADES AMURALHADAS-Problemas de gestão",vem-nos trazer o que toda a gente já sabe.
    O Sr. Presidente da câmara diz:
    "...de todos esperando participação, a todos tendo em consideração, a todos outorgando, e de todos requerendo o respeito..."
    E também diz:
    "...Este caminho também é a aventura e a responsabilidade de ser indiferente à crítica paralizadora, assumindo a responsabilidade de quem, como poder político, é mandatado para decidir e fazer as opções..."

    O Sr. Ray Bondin diz:
    "...Os presidentes de câmara devem tentar a maior participação possível com representação de historiadores, projectistas, sector cultural, da sociedade, sector comercial, entre outros..."

    A minha dúvida não é nenhuma, existe aqui por parte de quem se considera mandatado uma atitude de "DEMAGOGIA" porque não se pode ouvir a sociedade e permitir o "Mamarracho", e de "AUTISMO" pois o Sr Presidente mandatado não está, com este discurso a tentar " A maior participação possível".

    Parabéns ao "Almeida Forum" por trazer para o debate mais um tema da maior importância.

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  2. “…temos a obrigação de preservar o que os nossos antepassados construíram mas isso não significa que não permitiremos novas construções, mas em perfeita compatibilidade com as existentes.

    Os Presidentes de Câmara devem tentar a maior participação possível. Nas sete cidades em que fui responsável durante vinte anos criei três Comissões de Aconselhamento nas quais havia uma grande representação da sociedade, incluindo Municipalidade, sector comercial, historiadores, projectistas, sector cultural, entre outros. Nas reuniões mensais eles discutiam formas de tirar o maior proveito dos fundos de apoio às cidades e, em particular, preparar projectos integrados que tanto no curto como no longo prazo, ajudassem as cidades a desenvolver e a preservar melhor o seu património. Este sistema não é perfeito, mas permite aos representantes uma melhor gestão das cidades. Estas comissões não olhavam só aos projectos de conservação mas também a projectos de melhoramentos do ambiente…”

    Autor: Ray Bondin, membro do ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), do ICCROM (Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauro da Propriedade Cultural) e do CIVVIH (Comité Internacional para as Aldeias e Cidades Históricas do ICOMOS), in Revista CEAMA nº 1, extractos de comunicação apresentada em Agosto de 2007, em Almeida.

    ...

    Leia bem Senhor Presidente da Câmara Municipal de Almeida.
    Leia bem Senhor Arquitecto João Campos.
    Leia bem Senhor Arquitecto Marujo.
    E…por uma vez na vida, tenham um pingo de humildade e aprendam.
    Aprender não significa desvirtuar, desprestigiar. Pelo contrário é uma virtude muito digna.
    Aprender para evoluir é o caminho certo para sermos cada vez melhores.

    João Neves

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  3. “De todos esperando participação, a todos tendo em consideração, a todos outorgando e de todos requerendo o respeito que nos merece o engrandecimento da nossa Terra...”


    Todos…todos…todos…todos… QUEM? A quem se refere o Prof. Baptista?
    Os que abanam a cauda? Os que procuram intimidar com atitudes de perseguição? Os que prejudicam apesar do seu bom desempenho profissional? Aqueles que tentam humilhar com gritos agressivos, a tentar distorcer as suas palavras e a espalhar boatos? Os que arrumam para canto com indeferimentos enquanto a outros permitem construções de mamarrachos?

    “participação… consideração… respeito… engrandecimento…”??? TENHAM JUÍZO! Sabem lá o que isso é!!!


    “Este caminho também é a aventura e a responsabilidade de ser indiferente à crítica paralisadora, assumindo a responsabilidade de quem, como poder político, é mandatado para decidir…”

    Indiferente? “Paralisadora”? Li bem? O que é que o Prof. Baptista Ribeiro considera “crítica paralisadora”? A que não concorda com a sua? Fique sabendo que o que todos almeidenses falam em desejo de desenvolvimento! Não concordam é com o gastar à bruta e em disparates para a engorda de uns poucos de oportunistas!

    e achar-se como poder político “mandatado para decidir”. Claro. Decidir o que lhe impingem. Não vêem a figura ridícula que fazem? Façam as malas. Não percebem nada da poda.
    Desenvolver NÃO É IMPOR!

    Este comunicados são bem interessantes de comparar! Ponham os olhos neles.

    Parabéns ao Almeida Fórum! Se não fosse isto, estes senhores ainda se dão ao descaramento de publicar umas coisas convencidos que em Almeida são todos analfabrutos.

    Os tais “estúpidos”, não é?

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  4. Sem sombra de dúvida que o texto colocado pela Dra Clarinda faz o orgulho de qualquer Almeidense.
    Pelo que nos é dado observar,práticamente reporta excertos de uma publicação da Câmara Municipal.
    Perante tudo isto penso que o sector político em exercício deveria tirar as suas próprias conclusões.
    Sem pretender ir mais longe com a minha opinião,apenas dizer que a cultura da Câmara está muito mal entregue a quem está.
    Por outro lado seria bom que a equipa do PSD bem como a Comissão Política Concelhia tirasse alguma conclusão de tudo isto.
    O trabalho que estão a desenvolver é de facto lamentável para a população, para o concelho e muito particularmente para Almeida sede.

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  5. Parabéns ao Fórum que nos tem brindado com posts de qualidade como este último.
    Na verdade, faz-nos reflectir no que devia estar bem e o que está mal em Almeida, não só a nível do que deverá ser o património histórico e a sua reconstrução, mas mais do que isso, desmascara como não se deve gerir um município. A arrogância demonstrada pelos poderes camarários em exercício, enche qualquer um de vergonha e indignação.
    Como é possível chegar-se ao despotismo e arrogância não só de decisões, mas demonstrativo de uma intelectualidade menor que é a negação da democracia, do diálogo e da boa governação. Pensávamos nós que em Almeida “isto” já não existia, mas infelizmente aí está bem à mostra de todos , ferindo a condição de cidadãos atentos . Parece impossível!

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  6. E o povo de Almeida continua sem saber como pode aparecer um edifício como o mamarracho naquele sitio, quando nem sequer uma grade autorizam colocar numa janela.
    Quando é que alguém se propõe explicar esta situação caricata?
    Porque razão alguns podem fazer edifícios que são autênticos escarros e outros não podem colocar só uma grade de protecção numa simples janela.
    Alguém tem que explicar isto…

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  7. BIBLIOTECA MUNICIPAL
    DRA. NATÉRCIA RUIVO GOUVEIA

    Li um artigo no Jornal Praça Alta, escrito pelo meu querido amigo José Ruivo Lourenço insurgindo-se com o facto de haver instigações ou pressões para que a Biblioteca Municipal não tenha o nome da nossa querida Dra. Natércia Ruivo Gouveia.

    Quero recordar que já houve outras tentativas para boicotar esta pretensão do povo do Concelho de Almeida. Todos sabem que existe um abaixo-assinado para que esta biblioteca tivesse o nome da nossa Querida Té .

    Recordo que eu próprio, quando ainda Deputado na Assembleia Municipal e perante pressões semelhantes me insurgi com as mesmas e questionei o então Presidente da Câmara Municipal, Dr. Costa Reis.

    Recordo as palavras do Dr. Costa Reis, sossegando-me e afirmando claramente que nada tinha mudado pois a Biblioteca de Almeida ostentaria o nome da Dra. Natércia Ruivo Gouveia. Estes factos estão em acta da dita Assembleia Municipal.

    Senhor e querido amigo José Ruivo, eu penso que não haverá motivo para preocupação.

    Eu acredito no Dr. Costa Reis. Sei que é homem de palavra.

    Quero continuar a acreditar na palavra do Dr. Costa Reis.

    Fico à espera de um pequeno sinal, para que a preocupação do meu querido amigo José Ruivo Lourenço não tenha razão de ser, que a minha preocupação seja um disparate completo e que o receio de muita mais gente não se concretizará. Por exemplo uma singela informação, pode ser até de simples papel e dizer que ali se instalará a futura BIBLIOTECA MUNICIPAL DRA. NATÉRCIA RUIVO GOUVEIA.

    Sei que o Dr. Costa Reis é homem de palavra.

    João Neves

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  8. E o povo de Almeida continua sem saber como pode aparecer um edifício como o mamarracho naquele local no centro histórico, quando nem sequer uma grade autorizam colocar numa janela.

    Quando é que alguém se propõe explicar esta situação caricata?

    Porque razão alguns podem fazer edifícios que são autênticos escarros e outros não podem colocar só uma grade de protecção numa simples janela.

    Alguém tem que explicar isto…

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  9. "Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida." (Ernesto Che Guevara)

    Fico com muito respeito e admiração pelo SENHOR João Neves.

    Não o conhecia mas quero conhecê-lo em breve e dar-lhe um abraço.

    Aos Almeidenses só lhes peço para seguirem o exemplo dele.

    Até breve João Neves.Ou como dizia o mesmo Che, até à vitória final.

    De um humilde que ainda não tem idade para votar.

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  10. Maria Clarinda Moreira23 de abril de 2009 às 01:56

    Sobre o nome da Dra. Natércia Ruivo Gouveia para a Biblioteca Municipal, não me parece plausível que isso deixe de acontecer:

    a) Tal como no momento sugerido pelo Dr. Costa Reis, então Presidente da CMA, para validação da proposta foi feita uma recolha de assinaturas por todo o concelho de Almeida, onde a opinião dos almeidenses ficou bem expressa pela forma como as próprias pessoas se empenharam em cada freguesia e anexa a recolher essas assinaturas – onde nem aquelas que não sabiam assinar quiseram ficar de fora, fazendo-o a rogo. Essas listas foram entregues ao Executivo de então, formalmente acompanhadas de um pequeno relatório circunstanciado.
    b) Uma eventual objecção inicial prendia-se com outra alegada opção de atribuição do nome de um ilustre almeidense, sem manutenção de vínculo próximo a Almeida, com vasta obra publicada. No entanto, sem qualquer intenção de comparação implícita, nada demoveu os almeidenses da vontade deste reconhecimento, cientes do esforço desta vereadora pela melhoria de condições de acesso à cultura e à formação pelos jovens do concelho, a sua postura sempre dialogante com todos e o seu empenho na concretização de uma biblioteca de qualidade no concelho.

    Sabendo que a própria detestaria polémicas por causa disso, a única coisa que nos deixa surpreendidos foram as razões de manutenção de tanto silêncio sobre a decisão final, depois da clara expressividade da decisão dos almeidenses e da indicação pelo executivo de então de que seria colocada uma placa anunciando o nome que seria atribuído à instituição. Isso nunca aconteceu, vendo-se antes surgir apenas a designação genérica “BIBLIOTECA MUNICIPAL” na entrada, originando inclusive o angustiado e compreensível artigo assinado pelo pai.

    A fazer fé no respeito pela vontade da população, o nome da Dra. Natércia Ruivo Gouveia deverá ficar associado à designação da Biblioteca. Mas, pelo que é dado a observar, apenas no interior, vá-se lá saber por que razão…

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  11. Como Almeidense exigo que o nome da Dra Natércia figure na placa exterior da Biblioteca.

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