Para quem
não sabe, a ideia da Recriação Histórica do Cerco de Almeida, que agora enche
os écrans do país, mas serve também de mera propaganda interna, nasceu na nossa
casa, longe de qualquer ribalta, ou desejo dela, num dos muitos serões de
entusiasmo e saudades do potencial que sonhávamos para esta terra; estamos, deveras
satisfeitos pelo êxito da ideia, embora isso não signifique pela sua forma de
concretização, e observamos todos os anos o seu crescimento, sorrindo da
distância que separa a apresentação da proposta ao edil de então, e o mesmo de
agora, que recordo ainda argumentou “e quem é que veste as fardas?”, tendo eu
respondido alegremente “tenho lá três soldados em casa, mais colegas de
faculdade dos filhos… mas o importante é que se envolva as pessoas daqui” – o
que foi conseguido sem qualquer dificuldade, vencidas as primeiras
resistências.
Recordo esse
facto para sublinhar que, após o decisivo impulso de arranque, fomos nós que
nos quisemos afastar – e não o contrário, e não por despeito ou frustração
de interesses particulares, como foi propalado, mas apenas porque “quem não se
sente não é filho de boa gente”: neste
mesmo salão nobre, sem qualquer atitude reparadora, calmamente aguardada
durante meses, fomos publicamente insultados por um consultor contratado, o
arq. João Campos, a propósito da sua intempestiva defesa do mamarracho aqui
defronte, de que agora todos parecem esquecidos, chegando a qualificá-lo de
“jóia, bijou e preciosidade”. Hoje, após uma frustrada tentativa de perseguição
judicial que nos visava silenciar, e a que vergonhosamente o executivo prestou
colaboração, permanece o mesmo técnico como o responsável de quase todas
intervenções e outras bizarrias arquitectónicas que o município tem subscrito e
pago, ao que parece, sem pestanejar, com o argumento que são obras
comparticipadas – ignorando que a comparticipação e não comparticipação somos
sempre nós, contribuintes, que pagamos, com os pesados impostos a que estamos
cada vez mais sujeitos pelo estado a que o país chegou, com obras inúteis, fora
interesses em torno delas.
Sentimo-nos aliviados pela nossa atempada decisão de
afastamento, porque assim não temos o rabo trilhado. O povo murmura para aí que
tanta floresta de candeeiros e tanta obra em granito e outras pedras que não da
região, em paletes amontoadas e usadas, às toneladas e por quilómetros, servem
para cumprir projectos desenhados pelos próprios interessados, com empresas de
familiares ou amigos a lucrarem, em troca de apoio político… mas eu não sei, parece
que ninguém sabe, ou faz que não sabe, porque se fosse assim chamar-se-ia
corrupção ou máfia, que é o nome que se dá quando uns poucos beneficiam em
prejuízo de muitos… mas o que é certo é que esse tipo de obras e projectos
proliferam como cogumelos e, quanto mais não seja, só por si são já na maioria
das vezes profundamente lesivas, pela destruição da autenticidade histórica,
que é um bem colectivo que todos temos a obrigação de legar às gerações
próximas, e não esta vulgarização de vilas e aldeias antigas que desatam a imitar
os aglomerados do litoral, com direito a programas de televisão, pagos a peso
de ouro, a impingir a ideia de que este é o rumo certo, basta meter os pés na
água para tirar o cheiro a chulé, e aqueles poemas enaltecendo a liberdade a
testemunhar que tudo vai às mil maravilhas…
(continua)
(continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário