Contudo, os
poetas autores daquelas palavras ficariam destroçados se soubessem que as suas
palavras de liberdade se tornaram ocas e usadas de forma muito hipócrita numa
terra que chega a negar o uso da palavra a um membro, eleito pelo povo como seu
representante, e por sinal bem tarimbado no serviço à causa pública,
precisamente numa cerimónia de evocação do Dia da Liberdade – e isto sem
qualquer motivo de força maior, ou até menor. Pura e simplesmente, nega-se e
pronto, “sou eu que decido, e eu é que mando” – sendo esta a noção de liberdade
que os dirigentes democráticos têm neste município e, suprimindo, se possível,
da acta a afronta.
Ou então,
como daquela vez em foi mandado evacuar a sala para abafar o escândalo de um
livro pago com dinheiros públicos estar a apodrecer numa garagem, quando
poderia estar a ser convertido em saldo positivo de contas, só porque tem um
agradecimento considerado errado por quem manda, quando lá bastaria colocar uma
errata se quisessem corrigir um erro, que não o é, porque o autor designa em
espanhol aquilo que vulgarmente no seu idioma considera “coordenadora”, como a
pessoa que sempre tratou directamente com ele, com autorização e até indicação
expressa do executivo, para que doasse o seu trabalho a Almeida. No entender do
executivo, o que antes era digno dos mais rasgados elogios, agora é um erro – chegando ao desplante de ser afirmado
publicamente “enquanto eu for Presidente de Câmara, o livro não será posto à
venda, quem vier atrás de mim, faça dele o que quiser” – e assim uma simples
página de agradecimento, sincero e honesto, serve de reles argumento para que
uma edição explicitamente preparada com todo o carinho para comemorar o Bicentenário
das Invasões francesas, e um custo de quase 5.000 €, valor que daria tanto
jeito ao menos para reparar uns buracos numa estrada, permaneça
inexplicavelmente censurada em pleno século XXI, dito de democracia livre.
Não, meus
senhores, não é ódio o que me levou a levantar a voz de protesto. É antes amor
por Almeida, que não aceita injustiças deste calibre e sobretudo tão mesquinhas.
Em tempos, uma pessoa mais velha, bem traquejada nestas lides políticas que
fazem o dia-a-dia do concelho de Almeida disse-me: “O actual Presidente é como
um eucalipto. Grande, possante, mas que suga com as suas raízes a água toda das
outras árvores - e seca tudo à sua volta”. Essa frase ficou-me gravada e deu-me
muito que pensar. De facto! Quase me obriga a pedir desculpa aos almeidenses
pela boleia de imagem com que contribuí, dentro e fora, pedindo a todas as
portas a que batia que colaborassem com alma por Almeida, porque o presidente
em nome do qual falava, tinha condições de fazer um trabalho diferente, sendo
ele experiente na gestão autárquica e determinado a imprimir um novo fôlego na
dinâmica do concelho.
Sim, até dá ar disso. Mas quando cai o verniz, cai como
se diz, o Carmo e a Trindade em ameaças e vociferações, ai de quem o contrarie,
porque logo o cortante “eu não lhe admito” se virá a transformar num extenso
relambório justificativo de quem tem o uso e privilégio de antena! Bem
sintomática é a sua expressão de marca: a palavra “desafio”, que lança a torto
e direito, como quem está sempre em posição defensiva ou de ataque e nunca
confiante. A História está carregada de padrões desses, que degeneraram em
ditaduras. Não é preciso procurar muito para saber que o poder transforma
aqueles a quem sobe à cabeça, procurando espezinhar quem se atreva a contestá-las,
dando abrigo a descaradas assumpções de que “nos milheirais comem os pardais” –
quem quiser, é assim, senão que se lixe!
(Continua...)
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