24 outubro, 2015

Europeísmo ou Euroceticismo do CDS-PP




No início da década de 1990, o CDS-PP era “carinhosamente” apelidado de “partido do táxi”, pelo facto de ter apenas quatro deputados (e que, portanto, se conseguiam deslocar à Assembleia da República dividindo apenas um táxi). 
No meio da crise de resultados do CDS, foi Manuel Monteiro, de apenas 29 anos e apadrinhado pelo ex-presidente centrista Adriano Moreira, a subir à liderança do partido em 1992 e a marcar imediatamente uma mudança de estilo. 
O antigo líder da Juventude Popular entra em ruptura com as gerações anteriores do partido, corta com o CDS democrata-cristão de Freitas do Amaral, marca essa cisão ao acrescentar ao nome fundador — Centro Democrático e Social — o sufixo PP, manifesta-se frontalmente contra o federalismo e o Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht), faz com que o CDS saia da família política europeia do PPE e consegue 15 deputados nas eleições de 1995.
Ao mesmo tempo, Paulo Portas ocupava-se à crítica sem tréguas da esquerda e da direita, enquanto fundador e editor de O Independente, semanário de referência de direita anti-cavaquista. 
Portas, que apoiou desde o início a ascensão de Monteiro, era visto como um notável estratega político e escritor talentoso, e usou várias vezes a qualidade da sua escrita em textos eurocépticos e em defesa de um referendo ao Tratado de Maastricht. 
Na sua coluna Antes pelo contrário, o jornalista manifesta o seu desagrado perante a inevitabilidade da união política entre os Estados-membros da então Comunidade Económica Europeia (CEE). Por exemplo, num artigo de 28 de Maio de 1988, o futuro vice-primeiro-ministro alertava para a marginalização de Portugal no contexto de uma união política europeia, lembrando a vocação atlântica dos “descobridores” e a antiguidade das fronteiras nacionais. Portas não rejeita a CEE, que vê como oportunidade de liberalização da economia, mas sim o europeísmo que implica “abdicar da independência tal e qual a conhecemos”.

A 29 de Maio de 1992 lamentava que “não há nação europeia, nem nunca haverá”, e deixa sempre que pode o alerta da “germanização da Europa”, que descambará numa “crise social sem precedentes”. Portas acabará por abandonar O Independente no Verão de 1995 e juntar-se ao CDS, para concorrer pelo círculo de Aveiro nas eleições legislativas ganhas por António Guterres.

Paulo Portas, com uma enorme reputação adquirida dos anos de jornalista, disputa a liderança do CDS-PP em 1998, que ganha frente a Maria José Nogueira Pinto. Propõe uma lenta reconciliação dentro do partido, regressando ao modelo da democracia-cristã e enevoando a posição eurocéptica do PP. Em 2002, com a vitória de Durão Barroso nas legislativas, o PSD coliga-se com o CDS, que deixa finalmente cair, sem reservas, o “eurocepticismo”.


...vamos falar claro de uma vez para sempre ou...teremos que aturar esta figura durante muito mais tempo...




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