O Estado está com os cofres cheios...e o Povo, pá?
Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de
há dez anos.
Agora, como em 2003 ou 2004, uma em cada cinco pessoas é pobre.
Dois milhões de portugueses.
É este o retrato cru que se retira do inquérito às
condições de vida e rendimento, publicado nesta sexta-feira pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE).
Alguns números dizem respeito a 2013, outros já
são de 2014. Mas as tendências vão no mesmo sentido.
A desigualdade na
distribuição de rendimentos agrava-se.
A taxa de privação material cresce.
Há
mais pessoas em risco de exclusão social.
Mais crianças pobres.
E quem é pobre
está mais longe de deixar de o ser.
Depois de aumentar em 2012 para 18,7% da população, a taxa
de risco de pobreza voltou a agravar-se em 2013, passando para 19,5%. E se no
início da crise já havia sinais de que as desigualdades e a exclusão estavam a
aumentar, hoje, à luz de alguns anos, é “inequívoco” que se inverteu o ciclo de
redução da pobreza, diz o investigador Carlos Farinha Rodrigues, especialista
em desigualdades, exclusão social e políticas públicas. Em 2004, a taxa de
pobreza era de 19,4%, em 2005 de 18,5%, em 2006 de 18,1%. Cinco anos depois, 2011,
estava nos 17,9%.
Para o economista e professor do Instituto Superior de
Economia e Gestão (ISEG), Portugal recuou “uma década em termos sociais” e já
reverteu os ganhos de diminuição da pobreza que se registou até 2009.
Em 2013, o agravamento da pobreza aconteceu em todos os
grupos etários, atingiu com maior impacto as mulheres e foi particularmente
significativo entre as crianças.
O risco de pobreza é de 20% para as mulheres e
de 18,9% para os homens. No caso dos menores de 18 anos, a taxa abrange já
25,6% da população, face aos 24,4% de 2012.
Numa família monoparental, em que
um adulto vive com pelo menos uma criança, o risco de pobreza é de 38,4%. Este
foi o tipo de agregado em que a situação piorou mais, face a 2012.
O INE tem uma estatística complementar, calculando a linha
de pobreza ancorada ao ano de 2009 e fazendo a sua actualização com base na
variação dos preços. E aqui o resultado é ainda mais extremado: se em 2009 a
taxa de pobreza era de 17,9%, quatro anos depois chega aos 25,9%.
A “forte desigualdade na distribuição dos rendimentos”
manteve-se em 2013, conclui ainda o INE. Esse foi o ano em que os portugueses
sentiram no bolso o agravamento do IRS, com a diminuição dos escalões e as
alterações nas taxas. O Coeficiente de Gini, que numa escala de zero a cem
sintetiza a assimetria dessa distribuição de rendimentos, mostra um agravamento
deste indicador em 2013.
Quando o valor está mais próximo do zero, há uma maior
aproximação entre os rendimentos das pessoas. Quanto mais próximo de cem
estiver, mais o rendimento se concentra num menor número de indivíduos. Em
2013, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11,1 vezes
superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta
diferença estava nos 10,7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011
e 9,4 em 2010).
Entretanto...
Entretanto...
A pobreza infantil "é uma preocupação acrescida porque tem repercussões para o futuro que pode comprometer um desenvolvimento integrado a médio e longo prazo", disse Eugénio da Fonseca, lembrando que a pobreza infantil "não é um fenómeno isolado".
"Há crianças pobres porque estão em famílias pobres. As crianças ficaram sem meios de subsistência porque os seus pais perderam os postos de trabalho e os recursos financeiros para poder assegurar a subsistência e perderam determinados tipos de proteção social", acrescentou.
Portugal surge no relatório como o país em que o risco de pobreza e a exclusão social mais cresceu, estimando-se que existam mais de 2,8 milhões de portugueses em risco de pobreza, sendo que destes mais de 640 mil serão crianças e jovens.
"Há dados que são bastante preocupantes e que têm a ver com o facto de ter aumentado a pobreza e a exclusão social relativamente aos anos anteriores em cerca de 2,1 pontos. Suplantamos até a Grécia e isso reflete bastante o aumento da pobreza infantil e o desemprego de longa duração", disse.

O presidente da Caritas Portuguesa sublinhou ainda como negativo o facto de a dívida pública não estar a decrescer e termos atualmente a segunda maior dívida pública da Europa.
"Aquilo que foi o grande desígnio nacional e que levou a tanto sofrimento - a dívida - continua a ter uma expressão altamente preocupante e não diminuiu, pelo contrário, cresceu", sublinhou.
Eugénio da Fonseca responsabilizou o programa de austeridade aplicado a Portugal pelo aumento da pobreza e denunciou o que considera uma grande falta de solidariedade dos parceiros mais próximos da União Europeia.
"Estamos perante uma Europa com países de primeira e segunda e há que rever o espírito que deu origem à Europa. Não podemos estar a ser comandados por dois ou três países com economias fortes", reforçou.
Em Portugal, a despesa no apoio às famílias com filhos foi reduzida em 30% desde que surgiram os principais cortes e um terço dos beneficiários perdeu o acesso às prestações por filhos a cargo.
O responsável da Caritas Europa apelou, por isso, aos governos para que "façam mais investimentos e renunciem às políticas de austeridade".
22 de Abril de 2015
(Lusa)
Entretanto...
A Senhora que é neste momento Ministra das Finanças afirmou que Portugal tem os cofres cheios.
Esqueceu-se de dizer que esse facto nos está a sair bem caro.
Esqueceu-se de dizer que já Salazar disse o mesmo...
João Neves