18 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 2



Para quem não sabe, a ideia da Recriação Histórica do Cerco de Almeida, que agora enche os écrans do país, mas serve também de mera propaganda interna, nasceu na nossa casa, longe de qualquer ribalta, ou desejo dela, num dos muitos serões de entusiasmo e saudades do potencial que sonhávamos para esta terra; estamos, deveras satisfeitos pelo êxito da ideia, embora isso não signifique pela sua forma de concretização, e observamos todos os anos o seu crescimento, sorrindo da distância que separa a apresentação da proposta ao edil de então, e o mesmo de agora, que recordo ainda argumentou “e quem é que veste as fardas?”, tendo eu respondido alegremente “tenho lá três soldados em casa, mais colegas de faculdade dos filhos… mas o importante é que se envolva as pessoas daqui” – o que foi conseguido sem qualquer dificuldade, vencidas as primeiras resistências.

Recordo esse facto para sublinhar que, após o decisivo impulso de arranque, fomos nós que nos quisemos afastar – e não o contrário, e não por despeito ou frustração de interesses particulares, como foi propalado, mas apenas porque “quem não se sente não é filho de boa gente”:  neste mesmo salão nobre, sem qualquer atitude reparadora, calmamente aguardada durante meses, fomos publicamente insultados por um consultor contratado, o arq. João Campos, a propósito da sua intempestiva defesa do mamarracho aqui defronte, de que agora todos parecem esquecidos, chegando a qualificá-lo de “jóia, bijou e preciosidade”. Hoje, após uma frustrada tentativa de perseguição judicial que nos visava silenciar, e a que vergonhosamente o executivo prestou colaboração, permanece o mesmo técnico como o responsável de quase todas intervenções e outras bizarrias arquitectónicas que o município tem subscrito e pago, ao que parece, sem pestanejar, com o argumento que são obras comparticipadas – ignorando que a comparticipação e não comparticipação somos sempre nós, contribuintes, que pagamos, com os pesados impostos a que estamos cada vez mais sujeitos pelo estado a que o país chegou, com obras inúteis, fora interesses em torno delas. 

Sentimo-nos aliviados pela nossa atempada decisão de afastamento, porque assim não temos o rabo trilhado. O povo murmura para aí que tanta floresta de candeeiros e tanta obra em granito e outras pedras que não da região, em paletes amontoadas e usadas, às toneladas e por quilómetros, servem para cumprir projectos desenhados pelos próprios interessados, com empresas de familiares ou amigos a lucrarem, em troca de apoio político… mas eu não sei, parece que ninguém sabe, ou faz que não sabe, porque se fosse assim chamar-se-ia corrupção ou máfia, que é o nome que se dá quando uns poucos beneficiam em prejuízo de muitos… mas o que é certo é que esse tipo de obras e projectos proliferam como cogumelos e, quanto mais não seja, só por si são já na maioria das vezes profundamente lesivas, pela destruição da autenticidade histórica, que é um bem colectivo que todos temos a obrigação de legar às gerações próximas, e não esta vulgarização de vilas e aldeias antigas que desatam a imitar os aglomerados do litoral, com direito a programas de televisão, pagos a peso de ouro, a impingir a ideia de que este é o rumo certo, basta meter os pés na água para tirar o cheiro a chulé, e aqueles poemas enaltecendo a liberdade a testemunhar que tudo vai às mil maravilhas…

(continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário