21 fevereiro, 2010

TUDO COMO DANTES...

Diz-se que “Ano Novo, Vida Nova”, mas em Almeida a perspectiva é que “tudo como dantes, quartel-general em… “. Pois é, nesta terra à beira da raia plantada, a perspectiva de mudança é pouco mais do que nenhuma, pelo menos no que se refere ao que se esperaria da parte de um executivo camarário com a responsabilidade que tem relativamente ao património histórico construído, que é a grande e única potencial riqueza da vila, considerada em tempos Praça- forte, mas que na actualidade e a progredir assim só lhe vai conservando o nome.

De resto, a própria vontade da sua população parece estar anestesiada, quem sabe se pelo desânimo do fracasso de mudança governativa, se pela expectativa das promessas de empregos e satisfeita com a continuação de festas e outros entretenimentos pagos pelo dinheiro dos contribuintes, que brilharetes desses até representam uma muito fácil e prazenteira administração, pois gastar o dinheiro alheio nem é coisa difícil, e ainda mais com direito a alardear de dinamismo. Enquanto isso, ninguém parece interessado em ver o que é evidente: o continuar de obras, obrinhas e construções não integradas na arquitectura tradicional da região e da Praça de Guerra, em particular, que aos poucos, e sem muitos parecerem dar por isso, vai ficando mais e mais banalizada, numa autêntica onda de vandalismo construtivo, por muito que se inventem projectos com direitos de autor.

…E apesar de muitas outras prioridades sempre adiadas, justificando-se com os muitos milhares e milhares dos propalados visitantes, a maior parte com tempo apenas de usar os sanitários, ver o museu de borla e pôr-se ao fresco de volta às suas terrinhas, a verdade é que pouco ou nada contribuem para o bem-estar e desenvolvimento dos almeidenses e do comércio em particular.

Como dizia ao princípio, nada mudou, até pelo contrário, a força das opções do voto reforçaram ainda mais o convencimento dos responsáveis autárquicos da bondade do rumo que traçaram, prevendo-se assim nos próximos quatro anos a continuação da maré arrasadora da História, numa erosão que tudo vai levando à sua frente.

A próxima estocada vai ser a execução do anunciado e aprovado (des)arranjo urbanístico no largo defronte às Portas de S. Francisco, o Largo de 25 de Abril. O ambicionado monumento ao 25 de Abril que poderia perfeitamente integrar-se no vértice do jardim junto às Portas para quem quisesse admirar, vai antes ser plantado bem na frente das Portas numa rotunda monumental com pedras e chafarizes com uma avenida de espelhos de água a prolongar-se até à pérgola. Vai ser certamente mais uma atracção para os visitantes, sobretudo os de camioneta e garrafão, que irão embasbacados contar p’ras suas terras que em Almeida não falta dinheiro (quase 1.milhão de euros) para construir tamanhas e magníficas serventias…

E isto é só o princípio, porque durante pelo menos os próximos quatro anos, os almeidenses poderão ir contando que serão brindados com obras que vão dar nas vistas e que projectarão Almeida por todo o mundo, fazendo esquecer as velhas e escuras mas históricas muralhas. Resta-nos fazer figas para que com tantos adornos de fancaria, a aguardada galinha de ovos de ouro para a Vila não vá morrer de congestão construtiva perante a indiferença e até aplauso dos almeidenses: é este, pois, o Portugal e Almeida que temos!

Nota: Enquanto foram rotulando de “profetas da desgraça” aos que ousam apontar o dedo a gastos em obras e projectos desta dimensão e impacto, mais lojas continuaram e vão fechar portas de vez no centro histórico de Almeida, o que reflecte bem o nulo benefício na economia que todos estes chamados melhoramentos têm trazido para o dia-dia dos almeidenses. A própria Pousada Nossa Senhora das Neves, que serviu de pretexto para a abertura de um buraco na muralha há uns anos com ideia de que os turistas iriam chegar em autocarros, vai deixar de ser Pousada e passar a hotel de 4 estrelas. Os almeidenses poderão não dar pela diferença, mas o certo é que vila histórica deixará de constar nos roteiros das Pousadas de Portugal.
Só o tempo confirma o resultado destas decisões.
Rui Brito da Fonseca