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28 agosto, 2015

Porque os chefes do governo mentem?



Perder a democracia em nome das boas maneiras?

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho dá uma entrevista e, ostentando o olhar mais cândido que consegue, mente sobre uma questão fundamental – os dados do desemprego – para tentar convencer os portugueses de que as coisas estão no bom caminho, de que a economia está a recuperar, de que a austeridade funcionou e de que o seu governo merece ser reeleito em Outubro.
O irrevogável vice-primeiro-ministro Paulo Portas repete a mesma mentira em todos os púlpitos da pré-campanha que encontra pela frente, mas com um dedo esticado de autoridade e a voz pausada que Portas sabe que se podem fazer passar por gravitas e com os fatos de bom corte que Portas sabe que se podem fazer passar por seriedade.
Escândalo, porque os chefes do governo mentem? Escândalo porque não se trata apenas de uma declaração que não corresponde à realidade, mas de uma operação de manipulação da opinião pública, com estágios inventados para fingir que milhares de pessoas não estão no desemprego, com milhares de desempregados transformados em não-pessoas para os apagar das listas do desemprego, com os emigrantes varridos para debaixo do tapete? Sim, um pequenino escândalo. Vinte vozes indignadas. Os partidos da oposição, uns quantos investigadores não suspeitos de simpatia pelo governo, umas organizações de esquerda, uns blogs que salvam a honra do convento, um ou outro artigo nos media. Passos Coelho calou-se, envergonhado? Portas desculpou-se? O PSD vem embaraçado corrigir os dados com o argumento de que um súbito golpe de vento baralhou as notas do seu líder? Um frisson no meio político? Não. A mentira será repetida tantas vezes quantas câmaras e quantos microfones forem apontados a Passos Coelho e Portas. A oposição cansa-se. Afinal, já todos sabem que os membros do governo são uns aldrabões, para quê insistir? Os telespectadores não reparam, a mentira fica. Parece que o desemprego está a diminuir. Talvez eu afinal tenha emprego e ainda não tenha dado por isso. Não iam mentir na TV pois não? O governo não ia mentir, ia?
O FMI diz que, a este ritmo, só daqui a vinte anos a emprego atingirá os níveis de 2008? Que vamos precisar de 27 anos para ficarmos de novo na casa da partida? O saltitante Mota Soares explicará, sem pudor, que não se pode dar demasiada importância ao FMI porque está farto de se enganar. O mesmo FMI cuja receita de austeridade o governo seguiu com a obediência de um poodle amestrado, jurando que as suas mezinhas eram bafejadas pelo Espírito Santo? Sim. Mas ninguém perguntou isso ao ministro ou, se perguntou, não apareceu nas televisões, que é o mesmo que não perguntar.

A mentira tornou-se não uma parte integrante do discurso político (sempre o foi), mas o cerne do discurso do poder. Todo o discurso do poder é uma mentira porque se articula em torno de mentiras nunca denunciadas pelo que são. Nunca ninguém dirá em público a Passos Coelho ou a Portas, como alguém disse a Joseph McCarthy, "Será que você não tem um mínimo de decência?"  E nunca ninguém o dirá porque a força capturou a política. O medo capturou a dignidade.


Achamos que é falta de educação dizer a alguém que mentiu mesmo quando essa pessoa mente descaradamente e há milhões que sofrem por isso. E os jornalistas vivem no pavor de ser considerados "parciais", de "ter uma agenda". Não tem importância mostrar Passos Coelho três vezes num telejornal a debitar propaganda, mais dois ministros e dois secretários de Estado, como numa típica ditadura sul-americana (para usar o cliché). Isso não é parcialidade. Preocupar-se com a veracidade dos factos é "ter uma agenda". "Ter a agenda" do governo não é ter uma agenda, é citar fontes institucionais. Denunciar falsidades no discurso do poder passou a ser considerado militância de esquerda. Pode fazer-se às vezes, uma vez. Mas não se pode fazer de cada vez que uma mentira sai da boca de Passos Coelho. Seria impensável, inaceitável, uma perseguição. Por isso, a propaganda ganha sempre. Por isso a democracia perde sempre.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi responsável pelo maior esquema de fuga ao fisco na história da Europa, roubando milhares de milhões de euros aos contribuintes europeus? O presidente do EuroGrupo, Jeroen Dijsselbloem, inclui no seu CV um mestrado inexistente que apagou quando foi descoberto? O FMI sofre de esquizofrenia financeira, impondo à força aos países medidas que condena nos seus documentos internos? Que importa. Pode falar-se nisso uma vez nos jornais, mas insistir seria falta de educação, "ter uma agenda". Dizemo-nos indignados mas não queremos ser considerados indelicados.

Rimbaud perdia a vida por delicadeza. Estaremos dispostos a perder a democracia em nome das boas maneiras?



JOSÉ VÍTOR MALHEIROS - 04/08/2015






22 julho, 2014

Uma Nação de estúpidos



Como a Europa Vê Portugal 


O juízo que de Badajoz para cá se faz de Portugal não nos é favorável... 
Não falo aqui de Portugal, como estado político. 
Sob esse aspecto, gozamos uma razoável veneração. 
Com efeito nós não trazemos à Europa complicações importunas; mantemos dentro da fronteira uma ordem suficiente; a nossa administração é correctamente liberal; satisfazemos com honra os nossos compromissos financeiros. 
Somos o que se pode dizer um «povo de bem»... 
A Europa reconhece isto; e todavia olha para nós com um desdém manifesto. 
Porquê? 
Porque nos considera uma nação de medíocres, digamos francamente a dura palavra, porque nos considera uma «nação de estúpidos».


Eça de Queirós, in 'Notas Contemporâneas' (Escrito fora de Portugal)




 


20 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 4 (fim de intervenção)



Não, meus senhores, não é ódio. Estas atitudes não me merecem ódio. Somente desprezo e um pouco de indignação, junto com estupefacção por tanta submissão e indiferença. Pensem o que quiserem da minha modesta posição de “andorinha que, sozinha, não faz a Primavera”. Fico tranquila, pois não tenho a veleidade de convencer ninguém; no entanto, sabemos que inevitavelmente a Primavera chegará, pois os ciclos têm isso de bom: giram ao cabo de pequenas ou grandes mudanças. E para a transformação basta um pequeno impulso! Do meu insignificante papel, apenas opto por não me deixar intimidar, antes exprimir uma discordância frontal, já que o que predomina são atitudes de abuso de poder, que fazem com os que aqui vivem temam o jugo no cachaço, ou então o pau com um fueiro para espetar o coiro. Mas assim, nunca irão a lado nenhum! Fora de Almeida, chega-se a apontar-se algumas atrocidades, alguns criticam o que chamam de “parolices”, mas apenas à distância, porque pela frente não dizem nada e, no fundo, ninguém mexe uma palha, porque “é lá com eles, com os almeidenses” – enquanto Almeida desaparece nesta voragem de interesses e cobardias! Se contam com os de fora, estão bem tramados!

Antes de estar nesta AM, decidi escrever num blogue [Fórum Almeida] aquilo que pensava, acreditando que ajudaria outras pessoas a deixar de ter medo. Isso passou-se há mais de quatro anos e, como se aproximavam eleições, qualquer agitação podia fazer perigar a reeleição para manter a situação. Resultado: assisti impotente como muitos ao encenar de todo o aparato de candidatura à Unesco, que resultou naquele fracasso que todos conhecemos. Em Almeida, vi as pessoas idosas a ser levadas na sua boa fé em procissões e romarias a visitar as Casamatas, que depois de se ter gasto um balúrdio para ficarem impermeabilizadas, continuam com infiltrações, como seria de esperar e como técnicos qualificados advertiram, para não falar naquela esplanada ao relento, com um ridículo elevador de monta-pratos que nunca funcionou, como tantas obras feitas em Almeida, que depois ficam para os cardos e vandalizações. 

Vi também fogos-de-artifícios espectaculares como raramente vejo numa grande cidade, de tão dispendiosos que são. Seguiram-se anos de vacas magras, “por causa da crise”, mas ao que parece, em ano de eleições outra vez, a crise já passou, pois torno a ver festa rija, nos vários quadrantes e durante muitos dias. Ano de eleições, pois então! Não lhes tiro o chapéu, pois governar assim não é difícil: como dizia a cantora: “Demagogia, feita à maneira,/ É como queijo numa ratoeira” – e os ratos atracados somo nós…

Aceitei vir para uma AM na condição de falar claro, já que dizem que os blogues não chegam aos olhos das pessoas. Mas aqui também não parecem chegar, nem aos ouvidos. Por isso, não vou continuar. O jogo está montado para continuar neste levanta-braço e siga, vai de roda, está aprovado, mesmo que ladrem, a caravana passa. O povo quer e é enganado com festas e promessas… e de quatro em quatro anos assiste-se ao mesmo. Mesmo que Almeida esteja a agonizar, porque no dia a seguir às festas vai-se tudo embora e Almeida, sede e concelho voltam a ficar desertos e entregues à sua tristíssima sorte, degradando-se dia após dia, sem condições para a população se fixar, depois de tanto dinheiro gasto.

 Sr. Presidente, meus senhores e senhoras, despeço-me, pedindo desculpa pela morosidade da minha intervenção, mas foram quatro anos para meter nestas miseráveis páginas, escrevinhadas, com muita pena de não conseguir acreditar em condições de poder fazer mais por Almeida, terra de antepassados, que ensinámos filhos e amigos a ter sempre no imaginário e no coração, terra onde nos esforçamos, e bastante, por recuperar um tecto para não nos desprendermos das raízes e darmos se possível algum contributo, mas onde agora nem gosto tanto de estar, por tanta desolação e fantochada. 

Estes anos foram uma experiência dura, mas também madura. Por isso, não guardo ressentimento e reconheço até o seu lado de distanciamento e alargamento de perspectiva. Assimilo-o, e continuo seguindo um caminho, que é diferente deste. Não lamento o passado, nem o tempo aqui investido, pois agi sempre em consciência e lisura. A todas as questões referidas, dispenso resposta, pois foram por mais do que uma vez debatidas, e estou certa que esta AM tem coisas mais urgentes para fazer. Já ouvi diversas vezes nas minhas intervenções, que essa é a minha opinião e que fique com ela. Eu fico. Quero apenas despedir-me com um apelo a todos os presentes que façam também um exame à sua própria consciência e abram bem os olhos ao que está na frente do nariz, de forma bem objectiva para tomarem a decisão que acharem certa no momento certo. Bem-hajam!

16 de Setembro de 2013
Maria Clarinda Moreira

19 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 3



Contudo, os poetas autores daquelas palavras ficariam destroçados se soubessem que as suas palavras de liberdade se tornaram ocas e usadas de forma muito hipócrita numa terra que chega a negar o uso da palavra a um membro, eleito pelo povo como seu representante, e por sinal bem tarimbado no serviço à causa pública, precisamente numa cerimónia de evocação do Dia da Liberdade – e isto sem qualquer motivo de força maior, ou até menor. Pura e simplesmente, nega-se e pronto, “sou eu que decido, e eu é que mando” – sendo esta a noção de liberdade que os dirigentes democráticos têm neste município e, suprimindo, se possível, da acta a afronta.

Ou então, como daquela vez em foi mandado evacuar a sala para abafar o escândalo de um livro pago com dinheiros públicos estar a apodrecer numa garagem, quando poderia estar a ser convertido em saldo positivo de contas, só porque tem um agradecimento considerado errado por quem manda, quando lá bastaria colocar uma errata se quisessem corrigir um erro, que não o é, porque o autor designa em espanhol aquilo que vulgarmente no seu idioma considera “coordenadora”, como a pessoa que sempre tratou directamente com ele, com autorização e até indicação expressa do executivo, para que doasse o seu trabalho a Almeida. No entender do executivo, o que antes era digno dos mais rasgados elogios, agora é um erro –  chegando ao desplante de ser afirmado publicamente “enquanto eu for Presidente de Câmara, o livro não será posto à venda, quem vier atrás de mim, faça dele o que quiser” – e assim uma simples página de agradecimento, sincero e honesto, serve de reles argumento para que uma edição explicitamente preparada com todo o carinho para comemorar o Bicentenário das Invasões francesas, e um custo de quase 5.000 €, valor que daria tanto jeito ao menos para reparar uns buracos numa estrada, permaneça inexplicavelmente censurada em pleno século XXI, dito de democracia livre.


Não, meus senhores, não é ódio o que me levou a levantar a voz de protesto. É antes amor por Almeida, que não aceita injustiças deste calibre e sobretudo tão mesquinhas. Em tempos, uma pessoa mais velha, bem traquejada nestas lides políticas que fazem o dia-a-dia do concelho de Almeida disse-me: “O actual Presidente é como um eucalipto. Grande, possante, mas que suga com as suas raízes a água toda das outras árvores - e seca tudo à sua volta”. Essa frase ficou-me gravada e deu-me muito que pensar. De facto! Quase me obriga a pedir desculpa aos almeidenses pela boleia de imagem com que contribuí, dentro e fora, pedindo a todas as portas a que batia que colaborassem com alma por Almeida, porque o presidente em nome do qual falava, tinha condições de fazer um trabalho diferente, sendo ele experiente na gestão autárquica e determinado a imprimir um novo fôlego na dinâmica do concelho. 

Sim, até dá ar disso. Mas quando cai o verniz, cai como se diz, o Carmo e a Trindade em ameaças e vociferações, ai de quem o contrarie, porque logo o cortante “eu não lhe admito” se virá a transformar num extenso relambório justificativo de quem tem o uso e privilégio de antena! Bem sintomática é a sua expressão de marca: a palavra “desafio”, que lança a torto e direito, como quem está sempre em posição defensiva ou de ataque e nunca confiante. A História está carregada de padrões desses, que degeneraram em ditaduras. Não é preciso procurar muito para saber que o poder transforma aqueles a quem sobe à cabeça, procurando espezinhar quem se atreva a contestá-las, dando abrigo a descaradas assumpções de que “nos milheirais comem os pardais” – quem quiser, é assim, senão que se lixe!
 
(Continua...)

18 setembro, 2013

Despedida de Assembleia Municipal - parte 2



Para quem não sabe, a ideia da Recriação Histórica do Cerco de Almeida, que agora enche os écrans do país, mas serve também de mera propaganda interna, nasceu na nossa casa, longe de qualquer ribalta, ou desejo dela, num dos muitos serões de entusiasmo e saudades do potencial que sonhávamos para esta terra; estamos, deveras satisfeitos pelo êxito da ideia, embora isso não signifique pela sua forma de concretização, e observamos todos os anos o seu crescimento, sorrindo da distância que separa a apresentação da proposta ao edil de então, e o mesmo de agora, que recordo ainda argumentou “e quem é que veste as fardas?”, tendo eu respondido alegremente “tenho lá três soldados em casa, mais colegas de faculdade dos filhos… mas o importante é que se envolva as pessoas daqui” – o que foi conseguido sem qualquer dificuldade, vencidas as primeiras resistências.

Recordo esse facto para sublinhar que, após o decisivo impulso de arranque, fomos nós que nos quisemos afastar – e não o contrário, e não por despeito ou frustração de interesses particulares, como foi propalado, mas apenas porque “quem não se sente não é filho de boa gente”:  neste mesmo salão nobre, sem qualquer atitude reparadora, calmamente aguardada durante meses, fomos publicamente insultados por um consultor contratado, o arq. João Campos, a propósito da sua intempestiva defesa do mamarracho aqui defronte, de que agora todos parecem esquecidos, chegando a qualificá-lo de “jóia, bijou e preciosidade”. Hoje, após uma frustrada tentativa de perseguição judicial que nos visava silenciar, e a que vergonhosamente o executivo prestou colaboração, permanece o mesmo técnico como o responsável de quase todas intervenções e outras bizarrias arquitectónicas que o município tem subscrito e pago, ao que parece, sem pestanejar, com o argumento que são obras comparticipadas – ignorando que a comparticipação e não comparticipação somos sempre nós, contribuintes, que pagamos, com os pesados impostos a que estamos cada vez mais sujeitos pelo estado a que o país chegou, com obras inúteis, fora interesses em torno delas. 

Sentimo-nos aliviados pela nossa atempada decisão de afastamento, porque assim não temos o rabo trilhado. O povo murmura para aí que tanta floresta de candeeiros e tanta obra em granito e outras pedras que não da região, em paletes amontoadas e usadas, às toneladas e por quilómetros, servem para cumprir projectos desenhados pelos próprios interessados, com empresas de familiares ou amigos a lucrarem, em troca de apoio político… mas eu não sei, parece que ninguém sabe, ou faz que não sabe, porque se fosse assim chamar-se-ia corrupção ou máfia, que é o nome que se dá quando uns poucos beneficiam em prejuízo de muitos… mas o que é certo é que esse tipo de obras e projectos proliferam como cogumelos e, quanto mais não seja, só por si são já na maioria das vezes profundamente lesivas, pela destruição da autenticidade histórica, que é um bem colectivo que todos temos a obrigação de legar às gerações próximas, e não esta vulgarização de vilas e aldeias antigas que desatam a imitar os aglomerados do litoral, com direito a programas de televisão, pagos a peso de ouro, a impingir a ideia de que este é o rumo certo, basta meter os pés na água para tirar o cheiro a chulé, e aqueles poemas enaltecendo a liberdade a testemunhar que tudo vai às mil maravilhas…

(continua)