15 fevereiro, 2013

Não sei se volto...


Mais uma que deixa o país ...carta aberta...



Começo hoje o meu caminho de saída.
Saio do meu país levando comigo os meus trinta anos, os meus sonhos, a minha força e vontade de trabalhar.
Saio do meu país escorraçada por uma economia podre e corrupta; por políticas sujas e elitistas; por políticos que há mais de trinta anos governam as suas vidas ao invés de governar o país.
Onde o senhor se inclui, Sr. Presidente da República.

Começo hoje o meu caminho de saída. E deixo para trás um país que premeia o trabalho com pedidos de sacrifícios, o esforço de uns com a opulência descarada da vida de outros, os sonhos com frustração e desespero. Deixo um país a lutar pelo futuro e levo comigo a mágoa de não ficar para a luta. Mas a minha vida já esperou de mais; o meu filho de dois anos já esperou demais, já deve demais. Viver neste país tem sido uma teimosia que, para mim, termina agora.

Não sei se volto. Farei parte da grandiosa diáspora que V/ Ex.ª se farta de elogiar e louvar em folclóricos eventos, de gente que foi escorraçada do seu país? Serei um dos brilhantes cérebros em que os país investiu e que, estupidamente, mandou embora? Serei um dos repetidos exemplos daqueles que só depois de deixar o país alcançam o respeito do mesmo país que os ignorou enquanto lutavam por ele? Serei uma pessoa, mais uma, uma cabeça e um corpo a lutar num país que não é o seu? Isso, de certeza.

Deixo o meu país e sei que vou encontrar oportunidades novas e novos desafios. Mas não vo-lo agradeço. E dispenso os discursos paternalistas de que “há males que vêm por bem”, de que devo receber com entusiasmo as dificuldades da minha vida porque elas escondem oportunidades imperdíveis. Dispenso esse discurso porque o meu país me retirou a possibilidade de escolha. Dispenso o seu paternalismo. A sua pena. O seu desprezo pela classe a que pertenço. Dispenso os seus discursos, os seus silêncios, as suas palavras, as suas reservas em contribuir para a governação de um país onde é Presidente da República. Dispenso-o.

Ainda assim, dirijo-me a si, porque, contra a minha concordância e o meu voto, é o Presidente da República do meu país. E tem responsabilidades, E devia pagar pela culpa que tem no estado a que as coisas chegaram. E como não paga, tem, ao menos, de me ouvir.

Começo hoje o meu caminho de saída.
De si, Sr. Presidente da República que se dispensa de o ser, dispenso tudo.
De si e de todos aqueles que, neste momento, encaminham o meu país para o abismo.



Ana Isabel Oliveira



Publicado em http://www.leituras.eu/?p=1106. – 11/02/2013

13 fevereiro, 2013

...seremos sempre cinco...



…na hora de pôr a mesa, éramos cinco...

...o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu…
Depois, a minha irmã mais velha... casou-se...
Depois, a minha irmã mais nova casou-se...
Depois, o meu pai morreu...
Hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco...
...menos a minha irmã mais velha que está na casa dela...
...menos a minha irmã mais nova que está na casa dela...
...menos o meu pai…
...menos a minha mãe viúva...
Cada um deles é um lugar vazio...
...nesta mesa onde...
...como sozinho...
Mas irão estar sempre aqui...
Na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
Enquanto um de nós estiver vivo…
...seremos sempre cinco...



Poema de José Luís Peixoto.