A NOSSA FAMÍLIA
Se não fosse o NHS — o sistema de saúde do Reino Unido, onde
nasceram, muito prematuramente, as minhas filhas — elas não teriam sobrevivido.
Elas devem a vida ao NHS. E eu devo-lhe o amor e a alegria de conhecer a Sara e
a Tristana, para não falar no meu neto, António, igualmente devedor, mais as
netas e netos que aí vêm. Se não fosse o SNS (Serviço Nacional de Saúde) eu
teria morrido em 2005, com uma hepatite alcoólica causada unicamente por culpa
minha. Seria também coxo, quando me deram uma prótese para anca. E, sobretudo,
teria morrido, se o SNS não me tivesse dado o antibiótico caríssimo (Linozelid)
que me salvou do MRSA assassino que me infectou durante a operação.
Se não fosse o SNS, a Maria João, o meu amor, estaria morta.
Se não fossem o IPO e o Hospital de Santa Maria, pagos pelo
SNS, ela não estaria viva, por duas vezes.
Sem a NHS e o SNS, eu seria um morto, sem mulher, filhas ou
netos. Estaríamos todos mortos ou condenados à inexistência.
Não é difícil chegar à conclusão, atingida desde os meus
dezanove anos, de que as melhores ideias de todas são a social democracia e o
Estado-providência: não tanto no sentido ideológico como na prática.
A nossa família e as nossas famílias só existem e podem existir
se não tiverem morrido. Damos graças aos serviços nacionais de saúde — a esse
empenho ideológico e caríssimo — que nos tratam como se fizéssemos parte deles.
Devemos as nossas vidas a decisões políticas tomadas por
outros.
in Jornal Público 23/03/2013
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