15 janeiro, 2008

Encerramento de urgências

Cumprimento e felicito o Sr. João Neves pelo espaço "Almeida Forum", tão necessário num concelho onde tirada a murdaça com a instituição do regime democrático, ainda não se exorcisou o fantasma do medo que, de forma hábil e subtil, tem sido utilizado pelos "novos senhores".

Creio que um lugar público onde livremente se expõem opiniões, é um contributo para a aprendizagem do exercício da liberdade e o aperfeiçoamento da cidadania.

Quanto aos temas já tratados, começaria por colocar a algumas questões relacionadas com o suposto encerramento de "urgências" e a indignação de alguns!
Primeiro, não tenho conhecimento de qualquer encerramento de urgências, pelo menos que me recorde.
Encerraram, sim, alguns SAP's e, mesmo estes, no período nocturno!

Vão, como é público, abrir algumas unidades básicas de saúde. No nosso Distrito, V. N.Foz Côa. Terão dois médicos em permanência, laboratório, Rx e os meios mínimos indispensáveis, coisa que os SAP's não têm.

Como técnico garanto que nunca vi uma situação urgente ser resolvida num SAP sem que o doente fosse encaminhado para o hospital de referência.

Mas afinal o que é uma urgência?
Naturalmente, aquilo que faz perigar a vida no imediato, se assim não fosse, tudo seria urgente e os centros de saúde apenas teriam serviço de urgência.Portanto, o que temos é SAP, que basicamente é uma consulta disponibilizada 24 horas/dia.
Os centros de saúde não têm laboratório, Rx, nem condições humanas para cuidar de urgências verdadeiras, pelo que, genericamente, mais não são do que "central de encaminhamento" de utentes.
O chavão, "perder serviços é bom" soa a incongruência. Mas pode ser um ganho.
Em 1982 acabaram os partos nos concelhos(centros de saúde com hospitais concelhios) e a taxa de mortalidade infantil era superior a 20/1000, hoje é de 04/1000. Uma das melhores do mundo!
E que dizer de um doente urgente que é da Miuzela ou das freguesias do Alto do Leomil, que para vir a Almeida passa sobre a A25, estando naquele momento a 22Km da Guarda e a 17 da sede do concelho?
E mais não digo, porque o assunto é infindável, apenas concluo, que se faça um esforço para pensar no problema com a razão, em vez do coração, com o objectivo de servir melhor os cidadãos, em vez de servir os políticos.

Carlos Pereira

8 comentários:

  1. Um abraço para o Dr. Carlos Pereira que saúdo com alegria ao vê-lo exercer, neste espaço, o seu habitual uso da palavra, interventivo, em prol de todos.

    Este meu comentário apenas para manifestar a satisfação em que a personalidade médica mais avalizada do concelho de Almeida tenha a sua opinião no mesmo sentido da minha, a qual exprimi num dos comentários sobre o actual modelo do SNS, há uns Posts atrás.

    Mais contente, ainda, fico pelo facto do Dr. Carlos Pereira ter vindo aqui a este espaço público dar a sua opinião técnica, com toda a experiência que lhe é reconhecida, contribuindo para um acréscimo de informação para todos nós amigos do concelho de Almeida.

    As opiniões continuarão a ser heterogénias, dada a delicadeza do assunto, mas opiniões deste tipo são importantes e a ter em conta.

    Volte sempre!

    Abraço
    Mário Martinho (Jr.)

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  2. Em primeiro lugar gostaria de felicitar os autores deste blog bem como todos os seus visitantes.
    Deixo, ainda, uma saudação especial ao Dr.Carlos Pereira pela sua intervenção corajosa num tema tão polémico
    como o encerramento noturno de alguns SAP´s.
    Quero deixar claro que
    partilho da mesma opinião!
    Basta de sensacionalismos baratos em torno
    deste tema e aproveitamentos politicos ou económicos!
    Vivemos num país
    europeu do sec XXI, onde todos os cidadãos devem ter iguais direitos,
    nomeadamente o do acesso à saúde no seu pleno e não a serviços que não passam de uma falsa sensação de confiança para os doentes graves que realmente necessitam de urgências!

    Digo isto, também, como
    profissional de saúde.

    Em relação aos políticos deste concelho, penso que gastar mais do que duas linhas para reforçar tudo o que o meu irmão já referiu (e bem!)neste mesmo blog, contrastaria em demasia com a pequenez com que nos
    têm habituado!

    Tânia Martinho

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  3. Dr. Carlos Pereira.
    É com enorme prazer que saúdo a sua participação neste blog. Nós que estivémos em diferentes bancadas na Assembleia Municipal de Almeida e que "permitimos" ter confrontos interessantes entre nós os dois,vamos continuar esse debate saudável,construtivo, civilizado e, acima de tudo, útil para o esclarecimento das nossas gentes.
    Obrigado por esta demonstração de democracia e de liberdade que está a transmitir a todos nós.
    Seja bem vindo, Dr. Carlos.
    Permita-me dizer-lhe que, o seu artigo, permitiu-me raciocinar e olhar para esta problemática do "encerramento das ditas urgências" por um prisma que eu não estaria a equacionar. De certeza que como eu, muitos dos nossos leitores leram o seu artigo com atenção e estarão a raciocinar também.
    Deixou-me satisfeito porque o Sr. com a sua opinião, permite-me afirmar que valeu a pena abrir este blog, vale a pena criar o diálogo entre todos.

    Espero que não fique por aqui Dr. Carlos. Espero mais de si.

    Quanto ao tema em si, permita-me dar a minha opinião lá mais para diante.

    Apelo aos meus conterrâneos a participarem, sem qualquer tipo de preconceito ou de receio de espécie alguma, a participarem neste debate, pois é um tema que vale a pena discutir.
    Não residirá aqui uma das falhas deste Governo: a falta e/ou a deficiente comunicação ao povo em geral, das medidas que iria tomar?

    Saudações e um abraço.

    João Neves

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  4. Olá, Tânia.

    Que maravilha uma Senhora a entrar nestes debates.
    Fico muito satisfeito pois, não sei porquê, mas as mulheres não gostam de entrar nestes debates.
    Infelizmente, pois vocês mulheres têm tanta ou mais capacidade e lucidez para debater, para discutir, para tentar ajudar a encontrar o melhor caminho para o nosso sitio, a nossa Aldeia ou Vila, para o nosso Concelho.

    Tenho muito prazer em te ver assim entusiasmada.
    Queria ver-te por aqui mais vezes Tânia.

    E que tal comentares também o Orçamento e o Plano de Actividades para 2008? Porque não?

    Fico è espera.

    Obrigado por participares.

    João Neves

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  5. Sobre este tema andava há uns tempos a esta parte com vontade de acrescentar algo. Tenho evitado porque é um tema que,para mim, é dificil e até emocionante, pelos motivos que já vão ler.
    Quero dizer antes de mais que, tenho um respeito e um carinho muito especial pelo nosso Centro de Saúde, pelos Profissionais que por lá trabalham, por um motivo muito especial e particular.
    Em Setembro de 1998 tive um acidente que me levou às portas da morte. Um aneurisma que originou um derrame cerebral. Do Alto de Leomil,cheguei inanimado ao Centro de Saúde de Almeida, nos braços de um querido colega meu. Fui recebido pelo meu grande Amigo Dr. Cura que pelas informações que lhe deram, de imediato diagnosticou um derrame cerebral. Chamado o meu Médico de familia, Dr. Pires, ambos "trataram da saúde" do João fazendo todos os esforços para que ele não se "fosse para outras paragens". Eu de todas estas destas movimentações, não me lembro de nada. Absolutamente de nada...com excepção de uma voz que dizia para não me deixarem dormir...e uma voz feminina que me dizia ao ouvido constantemente "...João, então que sepassa contigo? pois é tu não bebes um tinto de vez em quando...e depois acontece-te estas coisas...". Esta voz ainda hoje a ouço com nitidez...é a voz da minha querida amiga Fátima, pessoa que ficou para sempre gravada no meu coração, por quem tenho uma amizade tremenda, um respeito enormee, ainda hoje quando a vejo é uma alegria enorme que sinto. Era aquela voz que me estava a segurar...Obrigado Fátima por não me deixares ir embora...um beijo muito grande para ti "carinho"!
    Como compreenderão estou deveras emocionado com o relato destas "aventuras".
    Disseram-me depois que a rapidez com que fui tratado e enviado para o Hospital da Guarda foi de um profissionalismo exemplar.

    Deixem-me aproveitar este espaço para prestar a minha sincera homenagem a todos os Profissionais que trabalham no NOSSO Centro de Saúde, o meu agradecimento ao meu querido amigo Dr. Cura, ao Dr. Pires, à minha GRANDE amiga Fátima (nunca deixes de falar para mim, Fátima...) e a todos os que me rodearam naquela altura dificil da minha vida. Um obrigado também aos Bombeiros que fizeram o favor de me transportarem.
    A minha homenagem e o meu obrigado a todos.
    Essa casa será sempre especial para mim.

    Assim, quando a noticia que o Governo ia proceder ao encerramento das urgências senti em mim sentimentos diversos:
    1º de tristeza.
    2º de alarme.
    3º de revolta por o interior continuar a ser desprezado.

    Felismente, hoje estou mais descançado.
    O NOSSO Centro de Saúde só poderia encerrar da meia-noite às 08 horas, mas serão tomadas medidas alternativas e, fiquei contente ao ouvir ontem, o nosso Primeiro Ministro, afirmar que ~"...não haverá mais encerramentos (de Urgências) sem que existam alternativas...".

    O MEU e o NOSSO Centro de Saúde vai continuar lá, os seus Profissionais também.

    UF!!!!

    João Neves

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  6. Bom dia a todos os bloger’s do Almeida Fórum!

    Inicio o meu post com um abraço ao nosso amigo João Neves, cumprimentando-o por este magnífico espaço.

    Efectivamente à muito que urge clarificar as valências no SNS, o que é urgente, emergente e de rotina.

    Claramente um SAP (como muitos outros) que não possui valências como RX, Trauma, Pediatria, tem que ser considerado como um Centro de encaminhamento para as diversas Unidades de Saúde que possuem tais valências como Guarda, Viseu ou até Covilhã, não podendo em parte alguma do processo ser considerado com um posto de recepção e tratamento de doentes urgentes ou emergentes.

    Mas para isso, á que possuir Hospitais ou outras instalações, com essas valências, a não mais que 60 a 80 km’s de distância para os meios de socorro e particulares.

    Ora, como foi dito, e bem, pelo Dr. Carlos, que aproveito para mandar um abraço familiar, é impensável uma vitima em estado urgente ou emergente, ir da Miuzela para o SAP de Almeida, onde cruza um itinerário, que percorrendo mais 3 km’s, encontra uma Unidade de Saúde com outras valências, com outros cuidados Médicos.

    Por outro lado, e para resumir, à que mudar um pouco as atitudes, e deixar que os Bombeiros executem o seu trabalho. Ora no concelho de Almeida o veículo INEM está sediado nos Bombeiros de Almeida, sendo tripulado por pessoal profissional e permanente (24h/dia). Muitos doentes (urgentes e emergentes) são evacuados em viaturas próprias, o que implica falta de prestação que cuidados de socorro no trajecto até à Unidade de Saúde.
    Sendo os Bombeiros a efectuar essa evacuação, além de gratuito, as condições no transporte e a prestação de cuidados são vantajosos para a vítima, podendo logo de imediato (através de ordem médica CODU) ser evacuado para uma Unidade de Saúde que possua as valências necessárias para a prestação de cuidados médicos.
    Tudo isto está à distância de uma chamada 112, simples.

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  7. Olá,Paulo.
    Não calculas a alegria que me dás ao colocares aqui a tua opinião.
    Obrigado pela tua intervenção e, aparece mais vezes Paulo.

    Quanto à tua intervenção, que considero pertinente e útil, eu gostava de acrescentar algo.

    Considero que a intervenção do Dr. Carlos Pereira foi extremamente útil e não quero tornar-me repetitivo.

    Mas deixa-me acrescentar algo e no que se refere aos transportes dos doentes urgentes, através seja dos Bombeiros de Almeida, seja pelo INEM (dito 112) ou ainda pela Cruz Vermelha Portuguesa em Vilar Formoso:

    1 - No que se refere aos custos dos socorros efectuados pelas entidades referidas, claro que o INEM - o 112 - é gratuito. Mas, Paulo, tu sabes muito bem que em termos de rapidez de execução dos mesmos, o mais rápido será o telefonema directo para os Bombeiros ( telefone 271 574 222) ou Cruz Vermelha, pois a ambulância e/ou os socorros saiem de imediato. Se fôr o 112, pois as voltas são outras.
    Este esclarecimento é de extrema importância. A informação junto da população é extremamente importante e tem que ser constante.
    2 - Quanto à mentalização que TEM QUE SER FEITA também junto das nossas gentes, no que diz respeito ao trabalho profissional efectuado pelos Bombeiros eu não tenho dúvidas nenhumas. Agora, Paulo, a população não pode automentalizar-se. Aqui os Bombeiros e a Cruz Vermelha, têm um papel importante. Como? Profissionalizando-se cada vez mais, apostando cada vez mais na formação, na qualidade dos serviços prestados. Já estão como tu dizes. Mas, eu aposto nas pessoas ambiciosas, que querem sempre mais, que ambicionam a perfeição.
    Só com um trabalho cada vez mais profissional e de grande qualidade é que podemos levar as pessoas a mudarem a mentalidade neste aspecto.
    Mas, atenção: eu sublinho, que considero que o trabalho dos Bombeiros é meritório e de qualidade, eu próprio sou testemunha disso.

    Agora temos que ser ambiciosos, e o Corpo Activo dos Bombeiros é muito jovem, tem por obrigação em querer cada vez mais e melhor. Só assim a mentalidade da nossa população poderá mudar, neste aspecto.
    Não concordas?

    Eu conheço-te bem e sei que se há alguem ambicioso, tu és um deles.
    Força e obrigado, mais uma vez pela tua opinião.

    Espero mais intervenções tuas. Tenho pena que jovens da tua geração não sigam o teu exemplo e emitam as suas opiniões também.

    Um abração, Paulo.

    João Neves

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  8. Boa tarde João e demais Bloger's.

    João, um pequeno esclarecimento, os Bombeiros para saírem e para que o serviço seja gratuito para o doente (urgente ou emergente) temos que ser accionados pelo CODU (após chamada 112), caso contrário teremos que cobrar ao doente.
    Embora, em muitos casos, os elementos estão instruídos para, em caso de alertas via 271574222, o Operador encaminhar o meio necessário para o socorro (saída imediata ao segundo) e encaminhar a chamada para o CODU, recebendo assim apoio médico especializado, passando o serviço a ser gratuito para o doente.

    Concordo com o papel do profissionalismo, o 100% Voluntário não é sustentável, embora, as Associações não gerem fluxo financeiro anual suficiente para aumentar o grau de profissionalismo (leia-se elementos efectivos) tendo que nos sobrepor nos voluntários (que possuem igual rigor profissional e formação).

    Por outro lado, e o facto de haver um Quadro de Pessoal jovem e ambicioso, há muitos obstáculos a ultrapassar, a formação externa, a disponibilidade, .... e não depende só de nós. Este por si só é um grande assunto para ser discutido. Aguardemos para ver o que vai dar as remodelações no Ministério da Administração Interna e Saúde.

    Um abraço,

    Paulo Pires

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