PRESÉPIO DO CENTRO DE SAÚDE DE ALMEIDA |
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PRESÉPIO DO ALTO DO FREIXO |
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VILAR FORMOSO - Rua do Comércio |
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Observar a realidade à nossa volta, faz-nos lembrar o adágio "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". Igualmente se poderia aplicar o dito da sabedoria popular de que "é muito fácil fazer festas com o dinheiro dos outros". Na verdade, gerir bens públicos que são confiados a gestores, sejam eles profissionais, ou políticos a quem se dá o voto de confiança é um exercício que requer não só competência mínima, mas bom senso e seriedade, muita seriedade. O gestor público, governante por inerência, ao fim e ao cabo aquele que vai dispor do nosso dinheiro, devia pautar-se por uma conduta essencial: gerir, gastar, aplicar ou investir os dinheiros que lhe estão confiados com o mesmo rigor que uma boa dona de casa, que se preze de o ser, o faz.
Vêm estas considerações, como toda gente facilmente conclui, a propósito de abordar também de forma simples, mas não menos verdadeira, a situação em que se encontram a economia, e especificamente as contas públicas em Portugal. Anos e anos de frenesim despesista a nível central e local, sem a consciência que esse gastar desenfreado correspondia não a reservas de dinheiros acumulados ou provenientes de rendimentos da indústria, comércio e serviços, ou seja de factores geradores da riqueza nacional, mas sim, na sua grande maioria, resultantes de dinheiros atribuídos e empréstimos - estes nunca dados pelos lindos olhos e ainda provocadores de dívidas a que são acrescidos juros. É assim como apenas se ganhar 10 e gastar 15 e continuar a pedir emprestado ao vizinho, ignorando a dificuldade de pagar essas dívidas, porque o que é produzido nunca será suficiente para saldar o empréstimo.
E nós inconscientes e irresponsáveis fazendo de conta que acreditamos nesse tipo de “desenvolvimento” e que “alguém”, que não nós, haveria de pagar a factura… propagandeando palavras que todos gostam de ouvir, mas que não passam de demagogia. Solidariedade em termos de mercado? Não é ingénuo quem assim pensa ou argumenta, mas mais provavelmente irresponsável e desonesto. Quem deixa uma situação destas chegar ao ponto de descalabro total nas finanças e no arrastar da economia para uma tão grave situação de inconsistência, seja a âmbito doméstico, autárquico ou governativo a nível nacional, deveria ser corrido por incompetência e responder, quando se trate de cargo público, criminalmente por incúria na gestão dos dinheiros que lhe estavam confiados.
Mas todos nós temos um quinhão de responsabilidade também, pois se fomos enganados pelos profissionais da política, o bom senso (algumas vozes avisadoras, fizeram-no atempadamente, mas foram muitas vezes apelidados de arautos da desgraça) devia alertar-nos para os riscos que se corria. Mas não. Continuamos a votar confiadamente, neles. É certo que muitas vezes com o argumento de que venha o diabo e escolha, mas sem sermos mais exigentes e tentarmos mostrar o nosso desagrado, dizendo: Não e Basta! Fomos andando nesse doce embalo do deixa-andar, do enquanto o pau vai e vem folgam as costas e outros estribilhos justificativos e provocadores na nossa agradável, inconsciente e confortável, cegueira.
E bem que nos tentam impingir que a culpa é dos mercados e da conjuntura de crise. Quais mercados, qual carapuça! Os mercados são feitos por homens que a maior parte das vezes, actuam sem escrúpulos, emprestando dinheiro a quem muito bem sabem que não pode pagar, continuando nessa vil manha do cambo porque, sobretudo em matéria de dinheiros públicos, alguém que venha atrás que feche a porta. E agora? Agora, é claro, dizem os mercados que o que foi emprestado tem de ser pago. E os desperdícios e uma grande parte dos “investimentos” revelam-se finalmente oportunidades perdidas de desenvolvimento, como sempre foram, aliás. Há, exigem os mercados, que fazer sacrifícios, baixar os vencimentos, cortar com despesas, trabalhar mais, pagar mais impostos para que esse dinheiro possa pagar a dívida maliciosamente provocada, mantendo-nos no engodo com discursos pesarosos e preocupados. Isto, perante as dívidas acrescidas de juros sobre juros, desperdício em cima de desperdício…
A situação apresenta-se tão má que muitos adivinham já um terramoto social não provavelmente sem tumultos civis, em perspectivas que chocam profundamente com a paz podre que se vive, à espera que o pior não venha. Por este estado a que se chegou, penso que os políticos que conhecemos e que têm (des)governado o país não servem. Haverá que procurar entre gente séria - que certamente há - pessoas que pareçam e sejam honestas de verdade. A sociedade e as novas gerações precisam de novos valores que enformem a solidariedade, a democracia, mas também a responsabilidade, a honestidade do trabalho, a condução de uma vida mais sustentável e com mais dignidade para todos. Em suma: se são eleitos para nos representarem, em muita pouca conta nos temos se continuarmos a permitir que nos rebaixem e sujeitem com todas as alarvidades a que os próprios e seus protegidos se habituaram. Chega de farsa!
Rui Brito Fonseca
Um mês depois das Comemorações do Bicentenário do Cerco de Almeida, o silêncio deste blogue relativo ao acontecimento, semelhante ao que se verificou noutros espaços digitais, e até no sítio oficial do município, evidencia bem o seu fraco impacto junto da comunidade. O fenómeno não se pode certamente atribuir à época de Verão, que já lá vai. Por outro lado, fossem quais fossem os temas, o histórico deste Fórum mostra reacções bem mais participadas em épocas estivais anteriores. A única conclusão possível é a do desânimo em que Almeida se vê mergulhada de há uns tempos para cá… desmintam-me se estiver errada!
Estive nas Comemorações do Bicentenário do Cerco de Almeida. Não para ver o colorido das fardas e os outros trajes dos recriadores, de que guardo imagens de edições anteriores, além de que a repetição dos certames lhes retirou a novidade, mas para avaliar o que é feito de uma ideia que teve de vencer indiferenças e relutâncias antes de conseguir experimentar-se e implantar-se a tempo de captar e firmar alguma notoriedade para o anunciado Bicentenário. Contudo, a impressão com que fiquei, mesmo com a expressiva presença de participantes, foi que o esforço de ir espremendo a ideia do “evento” sem o inovar, e a fórmula de fundir inaugurações com recriação histórica e com o anúncio de uma candidatura à Unesco, perante uma catadupa de convidados estrangeiros recebidos com o aparato que todos puderam testemunhar em 2009, ano de eleições onde e apesar da crise já instalada não se olhou a meios para tentar impressionar tudo e todos, a postura megalómana parece ter esgotado assim os meios e a capacidade de fazer diferente e especial para este ano de 2010, o ano em verdadeiramente se assinalava o Bicentenário.
Por outro lado, este processo tem a ver com uma distorção progressiva do conteúdo destas comemorações, onde se verifica um acentuar do lado lúdico para distrair os visitantes, com cerimónias oficiais e seminários ignorados por quase todos, ou iniciativas onde a própria organização participa de forma apressada para cumprir programa, como no caso do desfile e homenagem na Praça Alta, este ano despercebida, quase inexistente. Sente-se o desfasamento entre uma vontade de destacar e homenagear os episódios e figuras de relevo histórico, e aquilo que sobra, e em que se vai transformando essa memória, que é sobretudo um mimetismo de episódios históricos, promovido como mais um “evento”. Até porque é essa postura que se sente agora ao ouvir-se da própria boca de um edil ufano perante o troar de canhões e simulação de combates pelos recriadores: “ Isto nasceu de uma brincadeira há 2 ou 3 anos atrás”. Não foi assim. Surgiu de uma vontade mais antiga e autêntica de ajudar Almeida a concretizar iniciativas que a tornassem mais ciosa e zelosa do seu património histórico e mais conhecida no exterior - procurando contribuir para o seu potencial de desenvolvimento. Uma experiência bem sucedida em 2005 e desenvolvida em 2006 demonstrou o seu interesse, o que veio a permitir o acolhimento favorável pela pessoa que viria a ser e é o actual Presidente da Câmara, num trajecto de esperanças promissoras, que rapidamente se desvaneceriam.
Os factos são bem comprováveis. Perduram filmes e fotografias desses momentos, irrepetíveis pela sua mobilização genuína, inclusive na Internet, disponibilizados no YouTube, como aliás o vídeo do anterior Post documenta. Para quem apregoa o princípio de “Falar verdade”… é melhor nem comentar!
Registo a ocorrência salientando o triste espectáculo de quem se exibe por conta das boas-vontades e lamentando o fado de sujeição assim imposto em todos os domínios da sociedade civil em Almeida. Pela nossa parte, ainda que posteriormente alvo de remoques infundados de que a crítica vinha de quem nunca fizera nada por Almeida, restou-nos a liberdade de nos afastarmos, desprezando as retaliações (que se viriam a concretizar) ao vermos o tratamento de desconsideração a que fomos submetidos quando patenteámos discordância relativamente ao mamarracho construído em frente à Câmara: na nossa lógica, tanto rigor nas fardas e armas, incluindo acessórios e até botões, tanta discussão partilhada quanto a detalhes para recriar uma autenticidade, ainda que passageira, era incompatível com pactuar cobardemente com intervenções, essas sim mais permanentes, que nada tinham de preservação e revitalização do centro histórico da vila de Almeida. Sempre incentivámos a que outros continuassem o espírito das recriações, incluindo os filhos. Se optaram pela não participação, não lhes podemos levar a mal. Culpa nossa de lhes termos transmitido a necessidade de coerência com as decisões que se tomam.
Quanto ao Bicentenário propriamente dito, com o colorido que encheu o centro histórico de Almeida, é pena que ao menos uma parte dessa animação não tenha condições de perdurar, favorecendo um quotidiano da vila mais dinâmico e um saudável contágio com outras mentalidades, mais cientes da riqueza e importância do património histórico de Almeida, se bem que explicitamente os de fora pouco façam - ou possam fazer pela sua protecção. Voltam para as suas terras no final, deixando os almeidenses entregues a si mesmos, indiferentes aos sinais deixados – que estes nem reparam ou querem dar-se ao trabalho de interpretar.
A título de exemplo, destaco apenas um, pelo seu profundo significado, que a muitos terá escapado: na homenagem aos mortos no combate do Côa, juntaram-se os recriadores, portugueses e estrangeiros, na antiga ponte para alguns minutos de silêncio. Foi digno de observação: perfilaram-se, apertaram-se para caberem todos, representantes de antigos regimentos, desde as forças aliadas às “invasoras”, unidas no mesmo espírito de homenagear os antigos combatentes de ambas as partes. Eram umas centenas e, pelas manobras que tiveram de fazer, tornou-se bem evidente a sua intenção: totalmente voltados para o rio, sobre a antiga ponte, guardaram a memória dos antepassados simplesmente defronte à antiga cruz em toques de clarinete e em momentos de silêncio. Dispersaram no fim. Não houve dúvidas que ignoraram completamente qualquer outro elemento acrescentado à paisagem agreste do vale. De acordo com essa postura, o essencial estava lá. Descartaram completamente a necessidade de um memorial imponente assinado por dois arquitectos do século XXI e pago por uma edilidade que faz esforços para o promover como tal.
Aliás, nisto de experiências de memoriais, um outro memorial do Bicentenário, supostamente “um estudo”, praticamente ilegível, que deveria ser plantado no alto do castelo, depois de arrasar o cemitério e lá se construir um miradouro em betão, foi ridiculamente inaugurado com coroas de flores em 2008, e repetidamente desde então, levando as entidades convidadas a posarem junto dele para as fotografias, alheias a todo este improviso. Como o projecto (felizmente!) não foi para a frente, nem para cima como previsto, inventou-se outro memorial, desta vez no Côa. E com tudo isto, só não dá para perceber de que estão os almeidenses à espera para defenderem uma outra visão para Almeida, em vez de se limitarem a aninhar-se ou fingirem que acreditam em todas as justificativas ciciadas aos ouvidos ou propaladas aos microfones.
É que pelo seu acatamento indiferente, quando não conivente, não se livrarão no futuro de merecedores da denúncia em verso que fez a poetisa Sophia de Mello Breyner: “Senhor, perdoai-lhes porque eles sabem o que fazem!”.