24 agosto, 2009

ALMA POR ALMEIDA



A época do Verão é propícia a uma quebra de hábitos, encontro de velhos ou novos amigos e, se possível, distanciação do quotidiano. É também propícia à reflexão e observação das movimentações coloridas, profusamente espalhadas por todo o lado.

Durante um tempo, sem desligar, pus-me calmamente a observar, sobretudo realidades diferentes, comparando e reflectindo. Essa distanciação ajuda a relativizar preocupações, permitindo um outro alento, uma espécie de pausa encorajadora, mesmo quando a decepção que sentimos face ao que gostaríamos de ver diferente parece mais insolúvel!

Relativamente a Almeida, fui seguindo a comunicação digital, quando viável, mantendo o cordão de atenção. E assim fui tendo a percepção de um ambiente tenso, cindido num vicioso amiguismo e revanchismo que continua a verificar-se e que, previsivelmente, se acentuará nos tempos mais chegados, com o aproximar de eleições.

Optei por não intervir em qualquer debate, à procura do sentir possível que transparece dos comentários, na maioria anónimos face às circunstâncias nepotismo e intimidação, onde não faltam as habituais operações de cosmética, certames mediatizados por quem mais pode no momento, inaugurações em catadupa, cartazes com mensagens patéticas, cartazes de oposição derrubados, silêncio dos inocentes, silêncio dos coniventes, silêncio dos que fingem não ver, silêncio dos que não querem ver… e quanto mais observo, mais me convenço da inteireza de indignação daqueles que sentem que Almeida carece de melhor!

Agora como outrora, sempre que o cotejar pela manutenção de poder esteja em causa, mais se recorre a manobras de charme, para impressionar. Quanto à expressão da diferença de opinião, sobram as mossas, apesar do esforço de terraplanagem. Invoca-se o berço como que a marcar os ungidos, condenando os não crentes desta fé inventada, terrena e passageira. Mete dó a pouca conta em que têm a inteligência dos outros!

Por tudo isto, confirma-se que quanto mais fulminante foi o desengano com o actual executivo, mais espaço de maturação perante a dura realidade bebida, como muitos almeidenses, diariamente em taça de fel. Qualquer discordância e logo passam de suspeitos a proscritos. É este maniqueísmo de “quem não é por mim é contra mim” que fui sentindo cada vez mais entranhado. Apesar de não ser recente o contacto com esta terra, que sempre conheci um tanto desperdiçada e alvo de interesses mais ou menos inefáveis, nunca a vi com um cariz tão profundamente inquinado como nestes últimos anos!

Tento então vislumbrar a eventualidade de manutenção deste tipo de ambiente em Almeida, depois das próximas eleições autárquicas. E percorre-me uma sombra de apreensão perante tal cenário. Desvanecido o verniz de alguma contenção estratégica, logo as garras se aguçariam para mais investidas. Não, desta vez não me refiro especificamente ao património físico, embora saiba que esse seria o primeiro a continuar a sofrer de fúria interventiva, até com dentes mais incisivos para projectos aparentemente postos em gaveta. Falo do património humano, de uma constante opressão que procura por todas as formas e meios definhar a alma almeidense. Falo não apenas de intimidações pela via judicial, mas também daquelas outras subterrâneas, toupeirescas, visando dividir os cidadãos. Falo daquela mesma sanha contra uma opinião discordante, quer vociferada aos microfones contra a chamada “crítica paralizadora”, quer a consentida por escrito, em tom despudoradamente ameaçador e com distorsão da contestação. Como se não bastassem as imposições, ainda é sonegada a indignação dos almeidenses. Nem quando se trata de um monumento ao 25 de Abril os habitantes podem ter voto na matéria quando, ironicamente, deveria funcionar como um símbolo de conquista de liberdade! Ou do (des)arranjo urbanístico que o pretende acompanhar, na sua Porta de entrada...
Aqui, sente-se bem a desenfreada autoridade de um par de técnicos habituados a impor e adivinha-se o triunfo de querer passar por cima de toda a contestação, com o beneplácito e patrocínio da tutela. Esta continua sem entender que é justamente um progresso equilibrado, em respeito pela vontade colectiva e espírito do lugar, e não um simulacro dele em projectos de modernização. Enfim!

Aos poucos, parece que aos almeidenses foi sendo vedado o direito de decidir algo por vontade própria! É certo que não é só de agora. Mas agravou-se. Entranhou-se o medo, a hipocrisia e a apatia, como tentativas de sobrevivência, o que só favorece a prepotência e impede um desenvolvimento consciente e participativo. Recordo o simbolismo do desespero do herói Louvadeus da obra “Quando os lobos uivam”, de Aquilino Ribeiro, recriada numa série filmada há uns anos precisamente em Almeida. (Hoje dificilmente a escolha de um dos principais cenários recairia aqui devido aos diversos enxertos descontextualizados no centro histórico, incluindo o tupperware posto defronte à Câmara…) O protagonista prefere imolar-se pelo fogo na sua própria terra, a ver a mesma e os seus direitos ancestrais ficarem nas mãos rapinadoras do negócio forçado, com todas as promessas de bem-estar e desenvolvimento, que ele sente falsas. Aquelas cenas finais sobre as Portas de Santo António são disso bem eloquentes!

Em 2009, a prova de fogo será enfrentar este cerco atrofiador. Unidos os almeidenses nesse objectivo estarão mais preparados para o esforço que se segue. Nada poderia ser como agora, não apenas pela maturidade demonstrada, mas porque fica claro que nenhuma equipa sensata e inteligente ousará continuar a sustentar-se e a ir tão longe neste desprezo pelo sentir dos munícipes. Na resistência de um povo o que mais conta é a determinação e a participação colectiva. Sobre isso, Almeida pode ir buscar exemplos dignos à sua memória e envolvimento histórico: Napoleão, o grande estratega, subestimou a força das pequenas guerrilhas e a inércia de um exército anglo-luso que aguardava o momento oportuno para intervir. Ninguém acudiu à Praça-forte de Almeida, que perdeu o seu castelo e caiu. Foi usada como uma peça no xadrez do jogo pelo poder. Mas o invasor acabaria expulso do país, com uma derrota que se multiplicaria por outras por toda a Europa, onde não faltaram os soldados desta guarnição beirã.

Murcho pelo tempo, o grito “Alma até Almeida!”, parece agora reduzido a uma fórmula de despedida. Sem ver que em tempos de competição económica global, é leviano acreditar que alguém olhará pelos interesses de uma terra se não forem os seus próprios habitantes. Por muito tentador que pareça, não serão quaisquer candidaturas a resolver os problemas e dificuldades do concelho. Só uma boa aplicação dos projectos com o envolvimento de todos. Há exemplos do que tem acontecido noutros lugares que o comprovam. E porque há decisões que têm de ser tomadas na hora certa, é cada vez mais inadiável que os almeidenses recusem permanecer assim divididos e humilhados!

12 agosto, 2009

PAINEL DE PINTURAS RUPESTRES COM 5.000 ANOS DESTRUÍDO NA MALHADA SORDA


No Parque Arqueológico do Vale do Côa


Painel de pinturas rupestres com cinco mil anos destruído em Almeida


Um dos painéis de granito com pinturas rupestres, com cerca de cinco mil anos, encontrado há sete anos na área da freguesia de Malhada Sorda, concelho de Almeida, foi destruído. O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) lamenta o sucedido, considerando que existiu a “clara intenção” de fazer desaparecer aquele achado arqueológico.

A figura pré-histórica "foi completamente destruída, tendo sido lavada e repicada com a clara intenção de a fazer desaparecer, o que de facto foi conseguido", lamentou António Martinho Baptista, arqueólogo e pré-historiador de arte do PAVC, considerando que se trata de um "crime de lesa-arqueologia". "Apagaram mais de cinco mil anos de História", sublinhou em declarações à Lusa.

Segundo o arqueólogo, o sítio onde se encontra o achado era constituído por dois painéis verticais em granito, "ambos decorados com pinturas pós-glaciares em tons de vermelho". "A mais interessante figura" do conjunto era "uma figura zoomórfica em estilo seminaturalista, a fazer lembrar algumas das representações do Côa e até do Tejo", acrescentou.

Martinho Baptista explica que na figura destruída era visível "uma pequena cabeça perfilada em V, o pescoço fino e o corpo ovalado" de um animal, características que remetem "para a forma tipológica de um cervídeo fêmea".

Martinho Baptista, antigo director do extinto Centro Nacional de Arte Rupestre, relatou que o achado estava em "duas pequenas rochas" que constituam uma espécie de "abrigo" e foi encontrado por um casal residente em Malhada Sorda.

O presidente da Câmara Municipal de Almeida, António Baptista Ribeiro, disse que teve conhecimento do sucedido através do casal de Malhada Sorda que fez a descoberta e que "de imediato" comunicou o caso ao PAVC. "Da parte da autarquia nada mais havia a fazer, a não ser denunciar a situação às autoridades competentes, neste caso o PAVC", referiu.•
O autarca assumiu tratar-se de uma ocorrência que o "preocupa" e disse que "o acto criminoso significa uma perda irreparável" para o património histórico concelhio.

Apesar de descobertas em 2002, o local ainda aguardava «uma melhor oportunidade para o seu estudo». Uma oportunidade que já não se vai verificar, porque foram destruídas em Abril último.

(Lusa - 11.08.2009 - 10h33)


COMENTÁRIO DO ALMEIDA FORUM:


APAGARAM 5.000 ANOS DE HISTÓRIA.


É ASSIM SE CUIDA DO QUE É NOSSO?

10 agosto, 2009

OUTRAS OPINIÕES




Para que não se pense que só os habitantes de Almeida é que contestam todos os ultrajes e disparates que se tem feito em matéria de conservação do Património Histórico, publicámos um artigo do Diário de Coimbra, de 3 de Julho de 2009.




Tenta-se criar a ideia que este blog é maldizente, só pratica a má-língua ou a maledicência. Esta tentativa de denegrir o Almeida Fórum é proeminente, principalmente, quando está em causa criticas à gestão que está a ser feita pelo actual executivo da Câmara Municipal de Almeida.
Já por diversas vezes se notou que o Presidente Baptista Ribeiro se dá mal com o contraditório, seja ele qual for e venha ele donde vier. Não é a primeira vez que ouvimos o Senhor Presidente afirmar, com algum nervosismo e irritabilidade à mistura “…outras opiniões, quais ases da critica paralisadora…” ou referir-se “…aos profetas da desgraça...que só tecem críticas…”.

Quero aqui neste espaço esclarecer o Senhor Presidente da Câmara Municipal que este espaço se manterá livre e a prática da democracia será um princípio do qual não abdicamos.

Assim e no que diz respeito ao Património Histórico de Almeida, não abdicamos de dar a palavra aos Almeidenses e de dizer sempre a verdade.

E a bem da verdade venho aqui desmentir categoricamente os articulistas de um artigo publicado no jornal Praça Alta de 14 de Julho de 2009, inerente à apresentação pública do Projecto de Requalificação junto às Portas de S. Francisco, a 25 de Abril de 2009, ao afirmarem que as ideias e projectos referidos “…foram aceites por amplo consenso…”.

Estive presente à Sessão Solene das Comemorações do 25 de Abril, assisti a esta apresentação e quero aqui sublinhar que é completamente falso, repito completamente falso, que este projecto tenha reunido qualquer amplo consenso.
Houve sim, e pelo contrário, grande contestação ao mesmo, nomeadamente com a explanação de alguns erros detectados e indicados pelo Senhor Engenheiro Patrício, Deputado da Assembleia Municipal.





Mas, para que se demonstre que não são só os autores deste blog /ou os seus comentadores a tecer criticas a este mamarracho que se preparam para edificar e a todos os outros que infelizmente já estão implantados, publicamos a seguir cópias da Acta da Assembleia Municipal número cinco de 27 de Setembro de 2006, nas quais se podem ler intervenções de Deputados de diferentes quadrantes políticos, como são o Professor José Monteiro Vaz, o Doutor José Bordalo Matias, o Doutor Henrique Vilhena da Silva.

















Como é de boa prática, publicamos também as respostas do Senhor Presidente da Câmara às referidas intervenções.
















Claro que não concordamos também que se utilizem bombas ou qualquer tipo de explosivos como solução para estes casos, por muito ridiculos que ele sejam.



João Neves

01 agosto, 2009

MANIFESTO SOLIDÁRIO


Manifesto solidário a um “EGO” oprimido



Numa das minhas recentes idas a Almeida ao passar junto da sede de candidatura de António Batista Ribeiro, à Câmara Municipal do nosso concelho, sita na Praça Dr. José Casimiro Matias, deparei-me com o seu “slogan” de campanha impresso num cartaz, exposto bem alto, onde se podia ler:



“BATISTA ...se ele não cuidar de Almeida ...quem cuidará?”



Depois do choque inicial, pela dimensão da prosápia, surgiu do meu íntimo um chamamento de solidariedade para com o “EGO” do dito, pelo simples facto de, enquanto cidadão, ser um defensor de valores e princípios intrínsecos à sã convivência entre iguais e não poder deixar de manifestar, o repúdio pela opressão exercida sobre aquele “GRANDE EGO”, pese embora o opressor ser um homem bem constituído fisicamente, porque em valores éticos já não tenho tantas certezas, não só pelo que faz ao seu próprio “EGO”, como pelos comportamentos que lhe são imputados e alicerçados no que se vê, houve e lê a seu respeito.



Pobre “EGO” inflamado, que pelo tamanho que tem, deve sentir-se o mais agrilhoado da sua espécie e certamente com uma existência infeliz.
Como defensor, e também praticante, dos princípios e valores que devem nortear todos os cidadãos conscientes da sua responsabilidade cívica, no exercício da cidadania, dos quais destaco a solidariedade, não posso deixar de contribuir para que tamanho “EGO” possa ser libertado.



Assim, deste fórum, apelo a todos os almeidenses amantes da liberdade que, como eu, se sentem incomodados com a opressão exercida sobre esse agrilhoado “EGO”, lhe proporcionemos, com a nossa força e crença, a liberdade.



Com essa libertação, também Almeida se sentirá livre num futuro próximo.




Desejo para gerir os destinos da nossa terra alguém que, pelo seu carácter, saiba unir e respeitar todos os almeidenses, mesmo nas suas diferenças, e que seja uma referência reconhecida, alguém que não tenhamos dúvidas nos representará com a dignidade e a elevação que merecemos, alguém com um “EGO” equilibrado.





Cumprimentos



Américo Rocha